Taxação de Trump coloca em risco as exportações no Pará
Written by Redação on 16 de julho de 2025
Um dos maiores exportadores de carne bovina do país, o Pará pode enfrentar dificuldades se a tarifa extra de 50% sobre os produtos brasileiros anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, entrar mesmo em vigor dia 1º de agosto.
O zootecnista Guilherme Minssen, que é membro efetivo do conselho fiscal da Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa), afirma que não só o agro, mas toda a economia brasileira corre risco se a medida se confirmar.
Esta semana o Governo do Estado e o Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados de Mato Grosso do Sul (Sincadems) confirmaram a suspensão da produção de carne destinada aos EUA, como medida para evitar o acúmulo de estoques de carne que não seriam vendidos. Os EUA são o segundo maior comprador de carne do MS. Por aqui, medidas desse tipo não estão descartadas. “Não existe nenhum setor da economia brasileira que não seja atingido por uma taxa de exportação desta magnitude”, afirma Minssen.
Apesar da incerteza do cenário, há avaliações de que a medida pode vir a causar uma queda na cotação do boi gordo e baratear o preço da carne para o mercado interno — ao mesmo tempo em que abre oportunidades para novos mercados de exportação.
Com os Estados Unidos representando o segundo maior destino da carne bovina brasileira em 2024, o impacto da tarifa tende a ser significativo. No ano passado, os norte-americanos compraram 229,8 mil toneladas da proteína, número 65,7% maior do que o registrado em 2023, movimentando US$ 1,35 bilhão. De janeiro a abril deste ano, as importações cresceram ainda mais: 161,2% em relação ao mesmo período de 2024. No entanto, os embarques perderam ritmo entre maio e junho.
Com a possível interrupção das compras pelos EUA, especialistas estimam um excedente de carne no mercado interno, o que poderia pressionar os preços para baixo. “Realocar essa demanda no mercado doméstico pode gerar um excedente interno. E enviar para outro mercado externo também vai causar algum tipo de negociação, que faz o preço cair. Então, no curtíssimo prazo, certamente haverá um prejuízo”, explica Lygia Pimentel, economista e CEO de uma empresa de inteligência de mercado agropecuário.
Apesar das perdas imediatas, a avaliação é que a carne brasileira deve ganhar competitividade frente a concorrentes como Uruguai, Argentina, Paraguai e Austrália, cujos preços são tradicionalmente mais elevados. “Sem o Brasil, os EUA provavelmente vão importar de países com preços mais altos. Isso pode deixar nossos preços mais atrativos e abrir espaço para novos compradores”, acrescenta Lygia.
Internamente, a pressão sobre o valor do boi gordo pode beneficiar os frigoríficos, que ganham margem ao pagar menos pela arroba. “Se cai a arroba do boi gordo, a margem do exportador melhora e os frigoríficos saem na vantagem, enquanto os pecuaristas, não”, afirma avalia Alcides Torres, engenheiro agrônomo e CEO de uma empresa de consultoria de competitividade do agronegócio brasileiro.
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Por outro lado, não há garantia de que o consumidor verá a carne mais barata no curto prazo. O repasse depende da reação do varejo e da demanda no ponto de venda. “Possivelmente, a gente vai ver uma carne mais estável e baixa, mas não será imediato porque o varejo segura os preços. Saberemos mesmo entre setembro e outubro”, projeta Lygia.
Apesar do baque nas exportações para os EUA, a China segue como o principal parceiro comercial do Brasil no setor. Em 2024, o país asiático comprou 1,33 milhão de toneladas de carne bovina brasileira, movimentando US$ 6 bilhões. Especialistas acreditam que o fortalecimento de mercados já consolidados, como o chinês, e a abertura de novas rotas podem ajudar a reequilibrar a balança comercial da proteína.