Reconstrução: a virada de página do Cine Olympia

Written by on 26 de junho de 2023

Retratos de um período histórico marcado pelos efeitos do forte crescimento demográfico e das atividades econômicas em Belém, os cinemas começaram a se multiplicar pelo cenário da capital paraense a partir dos anos 1911 e 1912. Desde então, foram muitas as salas de exibição permanente de filmes que se espalharam pelos diferentes bairros da cidade, até que, em meados de 2006, praticamente os últimos cinemas de rua encerraram suas atividades. Um dentre os poucos que seguiram sua história e que permanece de pé até hoje é o tradicional Cinema Olympia, que passará por requalificação, contando com patrocínio do Instituto Cultural Vale.

Alinhado à própria robustez que marca o Cine Olympia enquanto patrimônio histórico e cultural de Belém, as obras de requalificação pensadas para o espaço envolverão várias frentes de trabalho, entre eles a restauração e modernização tecnológica do espaço – incluindo medidas de acessibilidade –, a elaboração de um plano de manutenção, gestão e curadoria cultural, o treinamento da equipe da Fundação Municipal de Cultura de Belém (Fumbel), que fará a gestão do equipamento cultural, além do desenvolvimento de um programa educativo com visitas monitoradas e a produção de um videodocumentário sobre a história do próprio Cinema Olympia.

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A coordenação dos trabalhos é do Instituto Pedra, instituição sem fins lucrativos que desde 2013 que realiza projetos no âmbito do patrimônio cultural em diferentes Estados brasileiros. “A recuperação do Cine Olympia é um passo necessário para o processo de recuperação do centro histórico de Belém, sendo o cinema de rua um dos elementos mais representativos e afirmativos da vida urbana. Sua retomada, além de reafirmar a cultura cinematográfica amazônica, pode aumentar o uso da área central no contra fluxo do horário usual de trabalho”, considera Luiz Fernando de Almeida, diretor presidente do Instituto Pedra.

Mais do que recuperar a estrutura física do espaço, Luiz Fernando aponta que o plano é destacar também a dimensão simbólica do patrimônio, desafios que demonstram a complexidade do projeto. “Uma restauração de patrimônio histórico nunca é só uma obra. O desafio é recuperar a dimensão simbólica que fez com que aquele bem se tornasse de interesse comum. E esse desafio vamos enfrentar com um programa educativo que mostrará a história do Cine Olympia e, através dela, também a história de Belém”, considera. “Além de enfrentar o problema da formação de público nesses tempos que vivemos, onde a onipresença dos serviços de streaming inibe o prazer que é sair na rua, encontrar amigos e ir ao cinema”.

 











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Presidenta da Fundação Municipal de Cultura de Belém (Fumbel), instituição que fará a gestão do equipamento cultural, Inês Silveira, considera que o projeto de requalificação do Cine Olympia será feito a várias mãos. “O Cine Olympia é um espaço importante para nós, enquanto moradores de Belém, enquanto fazedores de cultura e enquanto gestão. Ela é uma das salas de exibição mais antigas do Brasil e o Instituto Pedra, que é quem faz a captação desses recursos através do Instituto Cultural Vale, tem uma ligação muito grande com Belém”, considera. “Essa requalificação do cinema vai ser coordenada pelo Instituto Pedra em parceria com a Fumbel”.

Inês reforça que, entre as ações previstas, está a restauração e a modernização tecnológica do espaço, incluindo medidas de acessibilidade. “Há a elaboração de um plano de manutenção e gestão, o treinamento da equipe, tudo isso está dentro desse projeto, então, é um projeto tanto de infraestrutura, quanto de planejamento de ações internas”, considera. “Para nós, enquanto gestão, é muito importante isso acontecer. Isso vai fazer com que o cinema não seja realmente só a sala de exibição, mas que inclua também atividades socioeducativas. O Cine Olympia está localizado praticamente na Praça da República, então, tem um simbolismo muito grande para a população”.

Relevância

Para além das histórias de um passado mais distante, como a que relembra como as bilheterias do Olympia ficaram lotadas por semanas com a exibição do filme Titanic, em 1999, é preciso lembrar também da memória mais recente deixada pela sala de exibição, em que, através do Cine Olympia, a sétima arte pode se tornar mais acessível a todos os públicos. “Eu diria que tem dois tipos de passado no Olympia. Tem um passado antes de 2006, e tem passado de 2006 até recentemente. O Olympia procurou fazer uma programação vinculada à cultura de cinema, exibindo os filmes de vários países, uma coisa que não acontecia antes porque o cinema comercial exibe basicamente filmes americanos, com raríssimas exceções”, declarou Marco Antônio Moreira.

Com entrada franca, o tradicional Cinema Olympia chegou a exibir filmes inéditos da França, da Alemanha, da Espanha. Mais recentemente, no início de 2020, antes de o mundo vivenciar a pandemia da Covid-19, os letreiros da fachada do cinema exibiam a programação de um Festival de Cinema Dinamarquês. Retrato de um período em que Cinema Olympia escreveu uma nova memória sobre a sua própria história.

 











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Agora, diante da iminência das obras de requalificação, ele aguarda pelos cuidados que o farão dar continuidade à exibição de seu próprio legado. “Nessa segunda fase, o Olympia cumpriu esse papel de formar uma geração, de todas as classes sociais, que teve acesso a filmes que não estão nem em canal de streaming. Eu sempre digo que o Olympia não é mais cinema há muito tempo, ele é um patrimônio histórico e cultural da cidade”, analisa o crítico. “Claro que ele é cinema, mas ele não pode ser enxergado pelo público apenas com o cinema. Tem uma história social que passa por ali, de pessoas que frequentaram, de classes sociais e de comportamentos que foram variando de acordo com a década”.

A requalificação do Cinema Olympia é coordenada pelo Instituto Pedra, em parceria com a Prefeitura de Belém, tendo sido selecionado pelo edital Resgatando a História, do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), no fim de 2022. O projeto cultural tem patrocínio do próprio BNDES e do Instituto Cultural Vale, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.

 











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