Paciente denuncia falta de atendimento em UPA de Ananindeua
Written by Redação on 6 de abril de 2025
A saúde em Ananindeua tem passado por tempos complicados, com denúncias sobre desvios de verbas do SUS, fechamento de hospitais, falta de atendimento à população e outras reclamações, a ponto do Ministério Público do Pará pedir a intervenção do Estado no município.
Na última semana, uma denúncia que chamou a atenção foi a feita pelo vereador Flávio Nobre (MDB), sobre a falta de atendimento no Pronto Socorro Municipal de Ananindeua, após o parlamentar realizar uma vistoria no local e encontrar o prédio vazio, inclusive as salas de enfermaria e leitos de UTI.
Já neste fim de semana, um paciente usou as redes sociais para denunciar uma falta de atendimento em outro local, a Unidade de Pronto Atendimento do Paar. Em uma gravação, o paciente chega ao local durante a noite e reclama de encontrar o prédio com as portas fechadas. Na gravação, o paciente mostra uma porta fechada, com a recepção vazia, assim como a entrada de ambulâncias.
Veja o vídeo divulgado pelo paciente:
Na gravação, o paciente ainda se confunde e chama o local de “UBS do Paar”, que signifca “Unidade Básica de Saúde”. O local, entretanto, se trata da Unidade de Pronto Antendimento do Paar (UPA do Paar), que foi reaberta em junho de 2024 e deveria ter atendimento 24h, recebendo pacientes de urgência e emergência.
MORTE DE BEBÊ NA UPA
A reclamação sobre o atendimento no Paar se soma a outras ocorridas no município. A mais recente delas, dessa vez na UPA do Icuí, chocou a população do município após uma criança de apenas um ano de idade morrer após atendimento no local, na noite da última quinta-feira (3).
Segundo os familiares da vítima, eles haviam buscado atendimento desde a quarta-feira (2), mas a criança teria recebido apenas soro e sido liberada. Sem melhora dos sintomas e, após mais um atendimento na unidade, funcionários do local teriam informado aos pais sobre a morte da menina.
PSM SEM PACIENTES
Outra denúncia sobre falta de atendimento foi feita pelo vereador Flávio Nobre, no Pronto Socorro Municipal de Ananindeua, após realizar uma vistoria no local e encontrar o prédio vazio, incluindo enfermarias e leitos de UTI.
O local foi projetado para oferecer 75 leitos, sendo 65 clínico-cirúrgicos e 10 de UTI, o PSMA tinha previsão de atender até 2.250 pacientes por mês. O custo da unidade ultrapassa R$ 20 milhões.
A vistoria foi feita após denúncia de que pacientes que chegavam ao local procurando atendimento eram encaminhados para outras unidades, sobrecarregando hospitais, especialmente Belém. O próprio vereador contou que teve que esperar mais de uma hora para conseguir entrar no local, mesmo que a fiscalização de prédio públicos seja uma das funções do seu cargo.
“CRISE SEM PRECEDENTES”
Diversas denúncias sobre problemas na saúde do município, como dívidas com unidades de saúde que chegaram a levar inclusive ao fechamento de hospitais, desvios de verbas do SUS e falta de atendimento, chegaram a ser destaque na mídia nacional e alvo de investigação.
A situação chegou ao ponto que o Ministério Público do Pará classificou a saúde de Ananindeua como vivendo uma “crise sem precedentes” e solicitou à Justica a intervenção estadual no município.
Na Assembleia Legislativa do Pará, deputados também debateram sobre o caos vivido no município, manifestaram preocupação e cobraram um posicionamento do prefeito Daniel Santos.
DENÚNCIAS E INVESTIGAÇÕES
Entre os pontos apresentados no documento do MPPA que solicitou a intervenção do Estado na saúde municipal de Ananindeua, estão o indício de desvios milionários de recursos do SUS, contratos suspeitos envolvendo o hospital Santa Maria, que era de propriedade do prefeito Daniel Santos e tentativas de calote a outras unidades hospitalares, entre outros pontos.
O documento do MPPA, assinado pelo Procurador-Geral de Justiça do Estado (PGJ), Cezar Bechara Nader Mattar Junior, e pela promotora de Justiça Ana Maria Magalhães de Carvalho, relata que a falta de pagamento pela prefeitura levou ao fim do atendimento pelo SUS da maternidade do hospital Anita Gerosa, gerando uma sobrecarga em outras unidades de saúde, especialmente a Santa Casa de Misericórdia, em Belém.
Os escândalos na saúde ainda apontam que, entre 2021 e 2024, a Prefeitura de Ananindeua repassou mais de R$ 71,5 milhões, sem licitação, ao Hospital Santa Maria, instituição que pertenceu ao próprio prefeito Daniel Santos até 2022. O pagamento por meio de um contrato firmado em 2019, quando Santos era deputado estadual e presidente da Alepa.
Os problemas na saúde do município chegaram a mobiliar uma operação deflagrada pelo Gaeco, com mandados de busca e apreensão em onze endereços, incluindo o Hospital Santa Maria. A investigação apontava para um esquema de desvios de verbas do Instituto de Assistência do Servidor Público do Estado do Pará (Iasep), estimado em R$ 261 milhões, por meio de manipulação e falsificação de auditorias de contas médicas. O MPPA apurou se o prefeito Daniel Santos teve participação direta no esquema.
A crise na saúde também afeta pacientes com transtornos mentais e dependência química. O Centro de Atenção Psicossocial 3 (CAPS III) de Ananindeua enfrenta problemas estruturais e de atendimento. Pacientes e familiares relatam falta de médicos, psicólogos e medicamentos essenciais.