O desafio de ensinar nos campos e nas ilhas

Written by on 4 de setembro de 2022

Enquanto o prédio da Escola Municipal Teófila Teixeira, fundada em 1965, está fechado para reforma, as aulas estão sendo ministradas de forma improvisada numa casa na orla do povoado de Coqueiro, zona rural de Curuçá, nordeste paraense. Para o professor Rafael Barroso, 36 anos, este período de obras não tem sido problema, já que ele ministra as aulas de Educação Física no calçadão da encosta às margens do rio que dá o nome à cidade. O espaço é cercado por uma paisagem privilegiada.

Rafael utiliza como ferramentas de trabalho alguns elementos extraídos de forma sustentável da natureza, para trabalhar a coordenação motora e o desenvolvimento dos estudantes. A metodologia também ajuda a garotada a enxergar de outra forma os recursos naturais existentes na mata envolta da comunidade e nos rios.

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O povoado do Coqueiro fica distante menos de cinco quilômetros (em linha reta) do centro de Curuçá. É uma das 14 comunidades, entre agrovilas e ilhas, que o professor percorre diariamente para dar aulas. Localidades que só é possível chegar por meio de estradas de terra e por manguezais. Atravessar pontes e rios também faz parte da logística para ir à escola.

“Por dia, percorro, em média, 70 Km de estradas vicinais, ramais e rios. Tudo é válido para tentar fazer a diferença na vida dos meus alunos. Todos eles têm um sonho e, nessa jornada que eu assumi, tento ajudá-los a alcançar a realização deles, por meio da Educação. Assim também realizo os meus [sonhos]”, descreve Rafael.

Em todas as escolas onde Rafael trabalha os alunos têm entre 7 a 13 anos de idade e estão matriculados nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Estas unidades oferecem uma modalidade conhecida por multissérie. É um sistema que lembra o antigo “supletivo”, no qual os alunos formam uma turma única, mas aprendem o conteúdo do 1º ao 5º ano.

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A jornada deste professor começa por volta das 6h, assim que o dia clareia. De moto, ele deixa a área urbana e segue por caminhos onde o asfalto dá lugar à poeira e aos buracos. Nas margens dos ramais, as casas de pau a pique destacam a arquitetura rural e a vida simples de agricultores e pescadores. O aceno de mãos confirma que a comunidade conhece Rafael. O gesto representa um alívio para os adultos, pois ver o professor passar a caminho da escola é ter certeza de que, naquele dia, os filhos deles terão aula.

A garotada costuma ser pontual. Inclusive, muitos chegam antes do professor. É este entusiasmo dos alunos que estimula a dedicação do educador físico. “Quando acordo, já penso que tem crianças me esperando, cheias de esperança e com a intenção de sair de uma realidade que, às vezes, é triste”, ressalta. “A aula não é só um aprendizado. É um momento de felicidade que eles sentem – e tem – para transformar a realidade, que, às vezes, é sofrida”.

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No caminho, o professor cruza com ônibus do transporte escolar levando os alunos do Ensino Médio que vão assistir às aulas nas escolas do centro da cidade, seguindo numa outra etapa da formação deles. Nas comunidades rurais e ribeirinhas as escolas vão apenas até o Ensino Fundamental. “Eu creio que com uma educação diferenciada, com conteúdo regionalizado a gente consiga manter esse aluno em sala de aula e fazer com que ele continue sonhando, ser transformado”, comenta o professor sobre como combate à evasão escolar.


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