Marca do Pará produz tênis com caroço de açaí

Publicado em 14 de outubro de 2024

Dentro de uma pequena fábrica no município paraense de Castanhal (a 75 km de Belém), uma mulher usa um pincel e tubos de tinta para colorir pares de tênis espalhados em uma mesa.

O trabalho cuidadoso precisa ser paralisado algumas vezes para ela secar o suor do rosto -a temperatura supera os 30ºC ao final de uma manhã ensolarada no início de setembro.

A pintura dos calçados é uma das etapas da produção da marca Seringô. A empresa deseja crescer a partir da busca de consumidores por produtos sustentáveis, especialmente no exterior.

A intenção é expandir os negócios colocando os tênis no mercado europeu antes da COP30, segundo o empreendedor social Francisco Samonek, 73, responsável pela marca. A conferência da ONU sobre mudanças climáticas está agendada para novembro de 2025 em Belém.

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Samonek é conhecido na região por desenvolver iniciativas que buscam unir geração de renda para comunidades locais e conservação ambiental.

“O consumidor brasileiro ainda não está olhando para a questão da sustentabilidade tanto quanto se olha lá fora”, afirma o empreendedor, ao falar dos planos de venda de tênis para a Europa.

Os calçados da marca utilizam em sua composição matérias-primas da região amazônica, como o caroço de açaí e a borracha produzida a partir de seringais nativos do arquipélago do Marajó, também localizado no Pará.

“Tem pequenas fabriquetas que descartam sacos e sacos de caroço de açaí na calçada. Tenho condições de pegar o caroço, fazer um tratamento e triturá-lo na máquina. Ele fica bem refinadinho”, conta.

De acordo com o empreendedor, o material contribui para que a borracha não encolha nos calçados. “Toda a nossa borracha recebe o pó do caroço de açaí. Barateia o custo. Assim, também consigo pagar mais para o seringueiro.”

Nascido no Paraná, Samonek vive há 42 anos na região amazônica. Formado em letras, ele já trabalhou como professor, morou no Acre e, em paralelo, desenvolveu diferentes projetos voltados à cadeia produtiva da borracha.

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A Seringô, diz o empreendedor, nasceu como marca em 2018 a partir de uma dessas iniciativas, a Poloprobio, uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público).

A Poloprobio executa o projeto do governo estadual Marajó Sustentável, que busca reativar seringais nativos do arquipélago paraense.

“A Oscip só fazia a parte educacional, de desenvolvimento, de assistência técnica, não comercializava. Quando a gente resolveu colocar o calçado e incrementar a produção, sentimos necessidade de entrar no mercado, de ter a empresa”, diz Samonek.

A montagem dos tênis da Seringô é feita no outro extremo do país, no Rio Grande do Sul. A empresa deseja implementar mudanças em seus processos para que, depois da passagem pelo Sul, as mercadorias não tenham de voltar para o Norte, como ocorre atualmente.

“A gente sabe o quão difícil é viver na floresta hoje. Queremos dar uma condição de vida para que o seringueiro possa estar cuidando da floresta”, afirma Samonek.

A marca também vende artesanatos produzidos por comunidades locais que recebem capacitação. A renda obtida com essas mercadorias volta integralmente para as famílias, diz o empreendedor.

“Quero viver bem, mas não quero acumular. Não tenho mais pretensão de ter um novo imóvel, casa ou carro. A vida da gente é trabalhar com o propósito de ajudar as pessoas, de ampliar o quantitativo envolvido. Fica um legado.”


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