Incêndios florestais castigam Mosqueiro
Publicado em 8 de novembro de 2024
Desde o final de outubro, a população de Mosqueiro, distrito de Belém, tem enfrentado incêndios florestais em áreas como as localizadas no trecho entre a Mata da Marinha e o Portal de Mosqueiro, na rodovia PA-391. Entre as 44 comunidades afetadas pelas queimadas estão Nova Esperança, 19 de Abril e Vitória, que possuem acessos por meio da rodovia.
Cerca de 50 famílias vivem nos locais onde há incêndios. A situação é acompanhada pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma), Defesa Civil de Belém, Agência Distrital de Mosqueiro, Corpo de Bombeiros Militar do Pará e Polícia Militar.
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Na tarde de ontem (7), o DIÁRIO percorreu três comunidades da ilha, sendo duas atingidas diretamente pelos incêndios. O cenário é desolador, com plantações destruídas, árvores carbonizadas e um solo cheio de cinzas, evidenciando o cenário de calamidade presenciado pelos agricultores que reclamam das perdas, assim como o desconforto em ter que respirar a fumaça das queimadas.
O diretor administrativo da Cooperativa Agropecuária Mista de Mosqueiro (Cooptam), Augusto César Silva, acompanha a situação dos agricultores afetados e tem articulado conversas com as comunidades e o poder público para atender as demandas emergenciais.
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“As comunidades rurais têm padecido com a prática criminosa de queimadas que já consumiram o lote de diversas famílias em nossa ilha, o que tem destruído a biodiversidade e colocado a vida do agricultor em risco. Há agricultores que têm plantação de mais de 10 anos de açaí e tudo foi perdido com o fogo. São prejuízos econômicos incomensuráveis porque também tem família em que a casa pegou fogo”
Na Comunidade 19 de Abril, a agricultora Dilma Coutinho, 51 anos, trabalha com plantações de abacaxi, macaxeira e coco. Há sete anos desenvolvendo a agricultura familiar, no momento da reportagem ela avaliava os estragos causados pelo fogo na plantação dela e lamentava a perda diante dos restos de plantas carbonizadas.
“São anos de trabalho e esforço para construir aqui e o fogo levou tudo em questão de minutos. Dói bastante ver nosso trabalho em cinzas. Vamos ter que começar tudo de novo, do zero. Vai ser difícil porque o solo ficou bem ruim e todo queimado”.
Ainda na Comunidade 19 de Abril, o agricultor Leo Silva, 48, perdeu os pés de cupuaçu, açaí, abacate, manga, macaxeira e coco. Além dessas espécies, várias outras árvores no terreno do Leo se tornaram cinzas. Em diferentes locais, ainda havia focos de incêndio em troncos no chão na tarde de ontem.
O agricultor não mora na propriedade, mas há uma casa de madeira onde ficam guardados todos os instrumentos usados para o plantio. “Estou vendo como vou conseguir plantar tudo de novo. Eu fiquei com muito medo do fogo ter atingido essa casa. Aí sim o prejuízo seria bem maior com a perda dos meus equipamentos”.
Na Comunidade Nova Esperança, ao lado da 19 de Abril, o sentimento de desolação tomava conta da agricultora Josirene Souza, 45. Ela detalha que nesta semana em uma árvore na propriedade da família, as chamas ficaram do tamanho do vegetal, com mais de 5 metros de altura, indicando o quanto foi desesperador para toda a família ver aquela labareda tomar conta de alguns pontos do terreno, como foi com a plantação de açaí.
Ela ainda não consegue quantificar quantos pés deste fruto perdeu, mas afirma que não vai desistir e que vai recuperar tudo o mais rápido possível. “Foi muito triste perder minha plantação de açaí. Pelo menos o feijão não foi atingido com o fogo. Vamos recomeçar e recuperar tudo com muito trabalho e dedicação. Tenho fé que sim”.
O agricultor Edilson Miranda, 37, mora na comunidade Chico Mendes, na PA-391. Nessa comunidade, que fica ao lado das outras afetadas, o fogo não chegou até o momento. O temor dele é que o incêndio chegue na comunidade e destrua as plantações de banana, cheiro verde e cebola. “Há semanas que esse fogo existe aqui em Mosqueiro. A fumaça é muito forte. Há dias em que a gente vai dormir e já acorda cheirando a fumaça que chega das comunidades vizinhas. Eu fico apreensivo porque não chove e tenho medo de algum incêndio destruir o que já plantei”.
A agricultora Gerlany Oliveira, 44, é líder da Associação de Moradores da Comunidade Chico Mendes. Ela também está apreensiva com o fogo destruindo plantações nas comunidades ao redor. E afirma que o tempo está muito seco e quente e que essas condições podem ser favoráveis para o fogo chegar nas plantações de laranja, banana, açaí, limão e cupuaçu na propriedade dela, além do risco também de afetar a criação de galinhas caipiras. “Estamos com dificuldades de água com o poço secando. A situação é preocupante. O jeito é redobrar os cuidados e ficar de olho em qualquer foco de incêndio”.
Ações
Na quarta-feira (6), a Prefeitura de Belém instalou um gabinete de crise para Mosqueiro, que sofre com incêndio florestal e não mais focos de incêndio. A Prefeitura informou que reforça o enfrentamento com a cessão de duas pás mecânicas e de dois carros-pipa com capacidade de 12 mil litros cada, além de gerar o alerta para o atendimento de saúde no Hospital de Mosqueiro para possíveis casos de pacientes prejudicados pela fumaça.
A Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma) enviou uma equipe de fiscalização ao local, na terça-feira (5), para avaliar as causas do incêndio e os danos causados. Segundo a secretária de Meio Ambiente, Cristiane Ferreira, a Semma emitirá relatório, dimensionando a extensão do dano ambiental. “Após investigação de competência da Polícia Civil, se for criminoso, aplicaremos punição”.
O 25º Batalhão de Polícia Militar (25º BPM), unidade vinculada ao Comando de Policiamento Regional II (CPC II), realizou na segunda-feira (4) a prisão de três pessoas por crimes contra o meio ambiente no bairro Murubira. O trio composto por dois homens e uma mulher foi preso por atear fogo em área extensa de vegetação nas imediações do ramal de Santa Cruz utilizando um veículo.
A Polícia Militar informa também que está agindo para inibir as ações de pessoas que estão ateando fogo, além de também estar levantando e repassando informações para o Ministério Público do Pará (MPPA) e Polícia Civil do Pará (PC) para identificar e responsabilizar essas pessoas.