Graffiti dá mais vida aos muros das ruas de Belém

Written by on 27 de março de 2023

O dia  27 de março é lembrado por comemorar o Dia Internacional do Graffiti. Mais do que uma celebração entre os artistas urbanos, a data é uma homenagem a Alex Vallauri, um dos precursores da arte urbana no Brasil. O artista de origem etíope e naturalizado no Brasil, morreu em 27 de março de 1987.

Em Belém, diversos artistas e grafiteiros celebram a data como uma lembrança da resistência da expressão artística, legalizada somente em 2011.

Arte legítima e resistência:

Cleyton Michell, grafiteiro paraense e especialista no estilo “Throw Up”, dá a definição do graffiti para além da estética. “É um tipo de manifestação artística que surgiu em Nova Iorque, nos Estados Unidos, na década de 70. O artista cria uma linguagem para interferir na cidade como forma de liberdade de expressão visual”, explica. 

 











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Para Italo Costa, Cleyton Michell e PTCK, o graffiti representa a força da arte urbana. 

“Em meio a muitos preconceitos, nós sempre encontramos uma forma de exercer a nossa liberdade de expressão. Muitas pessoas nos olham como se fôssemos vândalos e isso é ruim. Só queremos dar vida a uma parede abandonada. Eu acredito que as cores transmitem uma energia melhor para as pessoas”, diz Cleyton Michell.

O grafiteiro PTCK também reforça a ideia. “Como a maioria das culturas que surgem na periferia, o graffiti segue sendo um meio de enaltecer vozes oprimidas”, ressalta. O artista também comenta a importância de resistir, pois “o graffiti tem sido a voz das periferias e mostra fielmente a realidade das ruas”.

 











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Para Fabiana Ribeiro, terapeuta ocupacional e entusiasta de arte, a perspectiva é semelhante. Ela afirma que a arte urbana também proporciona e inspira expressões artísticas pessoais. “É uma arte acessível, que te atinge mesmo que você não vá atrás, chega a todo tipo de pessoa porque não está presa em galerias e lugares elitizados, é como achar inspiração no cotidiano”, comenta.

 











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Em concordância, Italo Costa, que é grafiteiro, bacharel em Artes e licenciado em Artes Visuais, afirma que as ruas dão espaço para que a força da expressão artística se perpetue. “O grafiti original, aquele feito nas paredes das ruas, não os de galeria, mantém a proposta daquele surgido em Nova Iorque, que era o grito de presença da periferia diante da supremacia do capitalismo. Na atualidade, esta prática artística permite à sociedade o acesso igualitário às artes visuais”, completa.

 











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Valorização do artista urbano: 

Os artistas ressaltam que as políticas públicas podem se tornar aliadas no combate ao preconceito contra a arte de rua, desde que sejam descentralizadas. “As bolsas de incentivo acabam ficando nas mãos daqueles com mais conhecimento e influência”, pontua Italo.

 











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Michell completa sobre a importância da ação. “(As políticas públicas) poderiam mostrar à sociedade que por trás de cada graffiti existem pessoas de bem, que estão tentando levar para a sociedade as suas artes em formas de letras e cores”.

O grafiteiro também ressalta a proposta de ações sociais voltadas para o público infanto-juvenil e adulto, a fim de democratizar o ensino das cores e letras, e, assim, incentivar um novo olhar da sociedade em relação ao graffiti como expressão artística. 

PTCK endossa: para ele, inserir o graffiti nas aulas de arte ajudaria a descentralizar o tema e diminuir o preconceito.

 











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 A entusiasta Fabiana Ribeiro, moradora de Santa Izabel do Pará,  também se insere no debate. “Desde que comecei a frequentar a capital e a Região Metropolitana, este tipo de manifestação artística chama a minha atenção, nas cidades do interior não vemos uma cena tão forte e presente”, comenta.

O olhar da sociedade

A respeito da contribuição social, os artistas afirmam que a população em geral pode ajudar na causa com incentivos materiais e acolhimento. 

Para Italo: “os habitantes da Região Metropolitana de Belém precisam valorizar a cultura e a arte inserida nela. Quando conhecemos outros estados, percebemos o quanto nosso povo se mantém às margens das artes. Temos lugares artísticos fantásticos aqui e muita gente não faz ideia de suas existências”.

 











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Cleyton Michell cita também outro tipo de contribuição importante para a classe. “A sociedade poderia contribuir e valorizar doando tintas que sobram de restos de pinturas, para que nós possamos passar a nossa energia para as paredes abandonadas e sem vida”, diz ele. 

Como apoiadora, Fabiana expressa a admiração pela arte urbana e pelas histórias dos artistas. “Me impressionam as possibilidades, a integração com a cidade, tanto para embelezar, quanto para protestar. Enche a cidade de vida, de inspiração. Nem sempre sabemos a história da arte e do artista, isso também aguça nossa imaginação para entender os significados”, elabora. 

 











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PTCK acredita no poder da educação como aliada. “Acredito que a educação sempre resolve tudo, quanto mais as pessoas tiverem informações sobre o tema, mais valorizado ele será”, diz o grafiteiro, que ressalta a importância de serem vistos como artistas, contrariando a marginalização. 

Por que a escolha de lugares altos?

Essa curiosidade certamente sonda quem observa as artes urbanas. Italo Costa, artista visual, explica: “a parte de baixo dos muros é a área mais disputada, não só por grafiteiros, mas por pichadores, pintores, cartazistas etc, logo, aqueles que buscam se destacar destes, almejam patamares mais elevados, os conhecidos ‘picos’“.

   










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Michell acredita que cada graffiti e cada artista carregam uma história. “Eu acredito na história a ser contada depois, porque cada graffiti feito no alto é uma história. Envolve muita dedicação do artista, envolve logística e adrenalina”, explica. 

Muito mais do que uma liberdade expressão

Patrick Santos dedica grande parte de sua vida à arte de rua e às várias representações artísticas ligadas ao graffiti. Ele atua no ramo há 16 anos. Assina sua “tag” como PTCK, como forma de se destacar e apresentar-se para a sociedade como artista, criar uma identidade e ser reconhecido.












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Da mesma forma, Cleyton Michell criou sua identidade como LKO, a forma que costuma assinar suas obras. Ele atua na resistência da arte urbana em Belém há 15 anos.

 











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Italo Costa, autor do projeto “Grafite Rosto”, se identifica como cientista social, ressaltando que, para ele, não só a arte urbana importa, mas o que a sociedade pensa sobre a sua arte. Ele atua no ramo há 11 anos.

A data comemorativa desperta grande estima em Fabiana Ribeiro, grande apoiadora da expressão artística. Ela resume o sentimento à sincera admiração. “Deixo aqui os meus parabéns. Estas pessoas são essenciais para a vida da cidade, continuem sendo resistência. Muitas pessoas têm seus dias salvos por tal arte”, finaliza.


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