Glória Perez se inspirou em caso real para criar “Travessia”

Written by on 11 de outubro de 2022

A autora Glória Perez mostra em “Travessia”, nova novela das 21h da Globo, como uma notícia falsa pode mudar a vida de alguém drasticamente. Na história, Brisa (Lucy Alves) é confundida com uma sequestradora de bebês no interior do Maranhão e precisa fugir de uma multidão enfurecida para não ser agredida.

A ficção foi inspirada em um caso real: o linchamento de Fabiane Maria de Jesus. Dona de casa, casada e mãe de duas crianças, ela foi espancada até a morte por moradores do próprio bairro, o Morrinhos, que fica na periferia de Guarujá, no litoral de São Paulo, em 2014.

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Aos 33 anos, a dona de casa foi confundida com uma suposta sequestradora de crianças, que teve o retrato falado divulgado em páginas do Facebook. No dia 3 de maio, Fabiane tinha saído de casa usando uma bicicleta para buscar uma Bíblia e ir à casa de uma parente, mas nunca chegou lá.

Segundo a Polícia Civil, o retrato falado ligado equivocadamente a Fabiane era de 2012, ou seja, de dois anos antes. Tratava-se de uma mulher acusada de tentar roubar um bebê do colo da mãe em uma rua da Zona Norte do Rio de Janeiro. Dessa maneira, não havia qualquer sequestradora de bebês sendo procurada na cidade em que vivia a dona de casa.

Após o linchamento, Fabiane foi arrastada até uma passarela e encontrada por policiais militares em estado grave. Ela foi socorrida, mas morreu dois dias depois. O fato causou forte comoção nacional e foi chamado de “chocante” pelos veículos que o noticiaram.

Em entrevista recente ao Gshow, Glória Perez disse ter ficado em choque ao acompanhar o caso de Fabiane na época.

“No caso da Fabiane, não tinha nenhuma sequestradora sendo procurada. Alguém mudou de graça um retrato, e ao chegar em uma praça, alguém reconheceu a mulher porque tinha visto aquela foto no Facebook. E aí começam a dizer tem uma sequestradora ali e acontece aquele fenômeno da multidão, né? Aquilo vira um rastilho de pólvora. A pobre moça foi linchada”, disse a autora de “Travessia”.

HOUVE JUSTIÇA?

Cinco homens que participaram do linchamento foram condenados à pena máxima de 30 anos de reclusão cada e a pagar uma indenização à família de R$ 550 mil, segundo informações do jornal Folha de S. Paulo. Na sentença de um deles, o juiz classificou o episódio como uma “barbárie atípica”, além de afirmar que o condenado tinha “afinidade com a monstruosidade”.

Duas mulheres, Daiana e Camila, que acusaram injustamente Fabiane, foram indiciadas por incitação ao crime. As imagens gravadas nos celulares de testemunhas serviram para ajudar a polícia a identificar os principais agressores.

No entanto, as pessoas responsáveis pela divulgação das informações falsas nas redes sociais não foram responsabilizadas pelo ocorrido. Com a repercussão, um projeto de lei foi criado para incluir a divulgação de notícias falsas no Código Penal, mas está no Congresso aguardando votação até hoje.

COMO ESTÁ A FAMÍLIA DE FABIANE HOJE?

Oito anos depois do linchamento, a família de Fabiane processa o Facebook e pede uma indenização de R$ 36 milhões à rede social. Eles perderam nas duas primeiras instâncias e aguardam julgamento do caso no STF (Superior Tribunal Federal).

Em conversa com o “Fantástico”, da TV Globo, no último domingo (9), Yasmin, filha mais velha de Fabiane, diz que espera um final diferente para personagem de Lucy Alves na novela “Travessia”.

“Só espero, sinceramente, que o final dessa personagem seja diferente da minha mãe, que ela consiga fazer justiça, ela consiga ter um final feliz junto com a família dela, né?”, disse a jovem, que tinha 13 anos quando a mãe foi assassinada.


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