Filhos que seguem caminhos diferentes dos pais
Written by on 6 de agosto de 2023
Dos grandes momentos de definição de vida, um dos mais definitivos é aquele em que é preciso escolher uma profissão a seguir. Não é incomum que pais e parentes acabem influenciando e até estimulando o ingresso em determinada área, principalmente se já existe uma “tradição” familiar envolvida. Para alguns, é o momento de seguir os desejos familiares, mas para outros esse momento de escolha pode se tornar um momento de mudar expectativas criadas.
O que não falta na família da fotógrafa Karol Lima é gente que escolheu uma profissão na área da saúde, só que o namoro entre ela e a Comunicação começou quando ela ainda era adolescente, nas aulas de teatro. Não muito tempo depois, uma outra paixão arrebatadora surgiria: a fotografia.
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“Sempre pedia dicas a amigos que trabalham como fotógrafos, pedia para acompanhar ensaios, faço cursos até hoje. Quando chegou a hora de prestar vestibular eu fui muito incentivada a fazer algo na área da Saúde, ou no Direito, como fizeram meus irmãos mais velhos, e até em Educação, área na qual minha mãe fez sua primeira formação. Só que eu nunca quis, nunca gostei de nada disso”, explica.
Karol ouviu muito que deveria ir para a Saúde por questões financeiras e era desestimulada a fazer Comunicação. “Diziam que não dava dinheiro. Acabei fazendo Nutrição, cursei três anos, entre um período que precisei trancar e também pandemia. Só que eu realmente detestava, empurrei com a barriga até onde deu, e no início desse ano eu chamei minha mãe e disse que não dava mais”, relata. Em seguida, ela correu atrás de começar a faculdade de Design Gráfico, pela qual se diz apaixonada. E acabou que a mãe dela, Ana Marta, voltou à faculdade, e justamente para fazer o curso que a filha escolheu não terminar, a nutrição.
“Eu já entendia sobre a área, mas me faltava a formação superior. Recebi muito apoio dos meus pais e irmãos. Hoje penso que de tanto ouvir os outros acabei ficando tanto tempo estudando algo que eu não gostava, sempre pensando que somente aquilo me daria retorno financeiro. Ao mesmo tempo, acho que tudo se encaminha da melhor forma quando tem de ser. Comunicação é meu xodó, sou muito apaixonada pelo que faço”, garante.
OUTRO CAMINHO
Há cinco anos Iris Valdez trabalha profissionalmente com dança, mas se ela tivesse ouvido os conselhos dos pais, teria ido ou para a Medicina ou para o Direito. “Por volta dos meus 15 anos decidi que queria fazer Psicologia e eles aceitaram, passei o Ensino Médio toda decidida. Só que eu não passei no vestibular de primeira e fui tentar outras coisas. Sem pretensão nenhuma de seguir carreira eu comecei a dançar. Oficialmente eu nunca falei pra eles ‘mãe, pai vou seguir na dança’. Eu só fui seguindo”, detalha.
Aprovada na Escola de Teatro e Dança da Universidade Federal do Pará (ETDUFPA), ela começou as aulas e depois as oportunidades foram surgindo. “Quando eu vi, já estava envolvida”, admite. Iris afirma que não houve arrependimentos, mas muitas dúvidas. “Mas depois de um tempo eu entendi que essas dúvidas iriam surgir em qualquer área que eu seguisse”, avalia.
Ela confirma que os pais demoraram a aceitar a escolha da filha e que isso ainda hoje por vezes gera pequenas discussões, que sempre terminam com eles entendendo que a dança é parte importante da vida da Iris. “A dança veio pra mim muito sem intenção, as pessoas foram falando que eu era boa, passei na ETDUFPA, fui chamada para projetos, dar aula etc. Não foi fácil para os meus pais aceitarem é claro, e eu entendo o lado deles, mas depois que eu estava ali dentro eles foram entendo que aquilo era eu, que é minha fonte de renda, que é o espaço onde eu amadureci em muitos quesitos profissionais entre outras coisas”, justifica.
SENTIDO
Hoje psicóloga, Fernanda Lobo é filha do médico radiologista Arthur Lobo, o proprietário de uma clínica que é referência no segmento radiológico, portanto natural pensar que ela quisesse se envolver na área médica. Porém, não foi o que acabou acontecendo. “Eu tentei, minha primeira escolha foi a Odontologia e tive total apoio dos meus pais. Cursei dois anos e não me identifiquei. A ideia inicial era expandir para a radiologia odontológica, mas não aconteceu”, conta.
Ela diz que a decisão de mudar de curso foi bem difícil, já que havia emoções e sentimentos envolvidos nesse processo, como culpa, frustração, medo. Mas depois da decisão, veio a recompensa: alívio por poder fazer o que lhe faz sentido.
“Com certeza passaram dúvidas pela minha cabeça quando eu recebi os primeiros contracheques!”, diverte-se. “Mas eu acreditava que era um caminho mais coerente com a vida que que pretendia levar. Na Psicologia eu me permiti estagiar em diferentes áreas, trabalhei em empresas antes de abrir o consultório, e desde então tudo passou a fazer mais sentido e trazer a satisfação profissional que eu tanto buscava”, comemora a profissional.
Fernanda entende que o fato de a escolha profissional precisar ser feita tão cedo, ainda na adolescência, é algo que dificulta ainda mais o acerto. “Eu precisei fazer essa escolha aos 16 anos, depois de ter voltado de uma experiência de intercâmbio em outro país. A escolha de abandonar a Odontologia nunca foi uma questão, estava certa de que não era para mim”, garante.
Decisão tomada, a psicóloga relata que precisou se reorganizar e entender o que eu queria de fato. Fez curso de AutoCAD e CorelDRAW, pensou em fazer Arquitetura, se inscreveu no cursinho preparatório e marcou sessão de terapia.
“Me deu um estalo: eu gostava de quem eu estava me tornando e da forma como as questões estavam sendo conduzidas com a ajuda profissional. Talvez a Psicologia fosse um caminho interessante… e foi! Me apaixonei pelo curso do início ao fim, eu amava estudar a mente humana, era prazeroso assistir as aulas”, lembra.
Novamente, o apoio dos pais não faltou. “Fez toda a diferença na minha vida profissional, a certeza de tê-los faz com que os passos sejam dados com mais segurança, e cada conquista é dividida e celebrada com eles, e sigo os buscando para conselhos”, revela Fernanda.