Estado possui um rico patrimônio histórico e cultural
Written by Redação on 26 de janeiro de 2025
Através do patrimônio de um estado ou cidade é possível conhecer e identificar a história, a cultura, a arte, os costumes, a religião e as tradições de um povo. A preservação do patrimônio histórico é uma forma de garantir o direito à memória individual e coletiva das populações.
O Estado do Pará possui um dos mais ricos e diversos patrimônios históricos do país, espalhado pela capital e vários municípios paraenses. Assim, o DIÁRIO DO PARÁ inicia hoje a publicação de uma série de reportagens dentro do projeto “Conheça o Pará por dentro”, que pretende mostrar para a população paraense e de fora as riquezas e potenciais do nosso Estado nas mais diversas áreas, começando pelo patrimônio histórico.
A iniciativa faz parte da série de projetos desenvolvidos pelo grupo com vistas à COP 30, maior evento climático do planeta que vai ocorrer na capital em novembro deste ano. A ideia é promover um olhar aprofundado sobre os principais aspectos que definem o estado do Pará, abordando temas relevantes para o desenvolvimento da economia, cultura e biodiversidade do nosso Estado.
Existem hoje no estado do Pará, em nível federal, cerca de 50 bens materiais tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), sendo que aproximadamente 40 deles se concentram na capital e o restante em 10 municípios paraenses. Com relação ao Departamento de Patrimônio Histórico e Artístico Cultural do Pará (DPHAC), que responde pela esfera estadual, o número de tombamentos chega a aproximadamente 70 bens culturais – cerca de 50 deles se concentram na capital e o restante em 12 municípios.
Com relação a instância municipal, a Fundação Cultural do Município de Belém (FUMBEL) é responsável por cerca de 3.000 bens tombados na cidade, dentre estes estão monumentos, praças, coretos e edificações arquitetônicas de períodos e estilos diversos – barroco, neoclássico, art nouveau, dentre outros.
IMPORTÂNCIA
Sobre a importância dos bens tombados a historiadora e antropóloga Dayseane Ferraz ressalta, no caso de Belém, o conjunto arquitetônico localizado na Praça Frei Caetano Brandão, que inclui o antigo Colégio Jesuítico e Igreja de Santo Alexandre; o Forte do Presépio, a Catedral de Belém; o antigo Hospital Militar (atual Casa das 11 Janelas).
“Podemos citar ainda o Palácio do Governo, atual Museu do Estado do Pará. Este então chamado Núcleo Cultural Feliz Lusitânia se tornou referência nacional e internacional na preservação do Patrimônio Histórico, transformando a Cidade Velha num cenário cultural musealizado desde a inauguração do Museu de Arte Sacra (1998), e os demais museus inaugurados em 2002, aproximando ainda mais a sociedade do seu patrimônio”, destaca.
Em nível federal, depois de Belém, vale ressaltar que Óbidos possui um conjunto importante de tombamentos correlatos a ocupação e a defesa militar desde o período colonial. “À exemplo disso temos o Forte de Óbidos, os vestígios ou ruínas do forte da Serra da Escama, exemplares de artilharias como canhões militares – tombados entre os anos 80 e primeira década dos anos 2000”, comenta.
Ela cita ainda o município de Vigia, que possui tombada a Igreja da Madre de Deus e seu acervo desde 1950. “Oriximiná tem um Quilombo tombado em 1995; Vila do Conde possui a Igreja que está em instrução para tombamento, dentre outros bens que estão ou serão protegidos em nível federal”, cita.
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O DPHAC realizou ainda diversos tombamentos em outros municípios como Castanhal, no qual foi tombado o conjunto ferroviário da antiga Estrada de Ferro de Bragança (locomotiva, carro de passageiros, carro de lenha e carro de consertos) em 1982.
“Em Santa Izabel a bela edificação do Colégio Antônio Lemos, tombada em1982. Em São Geraldo do Araguaia há o tombamento da Serra das Andorinhas, com seu acervo histórico, arqueológico, paisagístico e ambiental, desde 1989. Em Bragança, é importante citar o tombamento da Igreja e São Benedito e seu acervo, que caracteriza muito a cultura do lugar”
Dayseane, que também é professora, lembra que a partir de 2000 foi baixado o decreto 3.551 que passou a registrar e proteger os bens imateriais a exemplo: o Círio de Nazaré, o Carimbó, a Capoeira tidos como patrimônio imaterial do Brasil. “Ou seja, a noção de bens cultural, que é usufruído e vivido pela sociedade abarca bens materiais – prédios, obras de arte, objetos – mas também os bens imateriais que dizem respeito, às crenças, saberes e fazeres de um povo. Em todos estes aspectos reside a importância do Patrimônio”, observa a especialista.
Grande parte do patrimônio histórico do Estado se concentra na capital paraense, como o Complexo Arquitetônico Feliz Lusitânia. O espaço é formado pela Igreja de Santo Alexandre, o Forte do Presépio, a Igreja da Sé, a Casa das Onze Janelas e a Praça Frei Caetano Brandão.
Outro espaço importante é o Palacete das Onze Janelas, marco urbanístico importante da capital erguido no século XVIII, por Domingos da Costa Bacelar. Em 1768, foi convertida em hospital militar pelo governo do Grão-Pará. A casa teve funções militares entre 1870 até 2001, quando foi comprada pelo governo estadual para servir como ponto turístico da capital.
O Museu de Arte Sacra possui estilo barroco Amazônico. A versão atual foi concluída em 1719 e seu convento é o complexo jesuíta mais importante do Brasil, foi recentemente restaurada para receber o Museu de Arte Sacra. O Museu é composto pela Igreja de Santo Alexandre e pelo Palácio Episcopal (antigo Colégio de Santo Alexandre). A igreja é um exemplar da arquitetura jesuítica no Brasil, teve o início da sua construção por volta de 1698 e inauguração a 21 de março de 1719.
Catedral Metropolitana de Belém ou igreja da Sé, começou a ser construída em meados de 1748 sendo totalmente concluída em 1782 por Antônio Landi. É da Sé que, todos os anos, sai o Círio de Nazaré, a maior procissão católica do mundo. Perto a catedral está a Ladeira do Castelo, primeira rua de Belém. Na verdade, é a Rua Siqueira Mendes, antiga Rua do Norte. Há casos em que a Ladeira do Castelo costuma ser registrada como a primeira rua da cidade de Belém, localizado ao lado do Forte do Presépio, ligando a Praça da Sé a Feira do Açaí.
VER-O-PESO
O centro comercial de Belém, onde a cidade nasceu, foi onde começou a construção do grande acervo patrimonial e histórico da capital. É nessa região que está a feira do Ver-o-Peso. O Ver o Peso – conhecido, nessa época como Mercado de Ferro – começou a ser construído em 1899. Já o Mercado de Carne (Mercado Municipal ou Mercado Bolonha), foi construída pelo engenheiro Francisco Bolonha. As vias construídas com pedras portuguesas, como a Rua João Alfredo e a Feira do Açaí, dão um charme especial ao centro comercial.
Ainda na área central de Belém, está o Theatro da Paz, importante símbolo do tempo áureo do Ciclo da Borracha. Antigo Teatro Nossa Senhora da Paz, foi construído entre 1874 e 1878, com projeto original do engenheiro militar José Tibúrcio de Magalhães.
PALÁCIOS
Os palácios e palacetes erguidos em Belém marcaram épocas áureas vividas por Belém. Talvez um dos mais emblemáticos seja o Palacete Pinho, localizado na Rua Dr. Assis, no bairro da Cidade Velha. É um dos exemplares mais característicos que marcaram, no fim do século XIX, o ápice econômico proveniente do Ciclo da Borracha.
O Palácio Antônio Lemos, conhecido como “Palacete Azul” é a sede da atual Prefeitura Municipal de Belém. O projeto é de 1860, de autoria de José da Gama Abreu. Ao lado foi erguido o Palácio Lauro Sódré, antiga sede do governo do Estado. Construído entre 1676 e 1680, em taipa-de-pilão com dois pavimentos, o palácio abrigava os governadores em inspeção à Capitania. Era chamado de “casa de residência”. O Palácio – demolido em 1759 – foi reconstruído com projeto do arquiteto Antônio José Landi, no estilo clássico italiano.
BASÍLICA
A Basílica Santuário de Nossa Senhora de Nazaré e o Mercado de São Brás integram outra parte importante do patrimônio histórico paraense. Era essa parte de Belém que saía a rota ferroviária que ligava Belém a Bragança, cujos traços arquitetônicos da antiga estrada de ferro seguem preservados nas 13 cidades cortadas pelos trilhos.
A Basílica de Nazaré é a única Basílica da Amazônia brasileira. Sua história está atrelada com o a descoberta da imagem de Nossa Senhora de Nazaré por Plácido às margens do igarapé Murucutu, área que atualmente corresponde aos fundos da Basílica.
Inaugurado em 1911, período áureo do ciclo da borracha na Amazônia (Belle Époque), o Mercado de São Brás é considerado um marco da expansão de Belém. O local foi construído com a função ser um centro comercial responsável, junto ao Ver-o-Peso, pelo abastecimento da capital paraense. Sua construção foi iniciada no dia 1º de maio de 1910 e concluído em 21 de maio de 1911.
Criado pelo arquiteto e engenheiro italiano Filinto Santoro, o mercado possui sua estrutura construída em ferro e mescla elementos do art nouveau e neoclássico, com detalhes escultóricos também em ferro e azulejos decorativos. Antônio Lemos, intendente de Belém na época, cedera a Santoro o terreno para a construção do mercado.
Em 1988, na administração do prefeito Fernando Coutinho Jorge, o mercado passou por uma grande reforma, com mudanças significativas nos aspectos espaciais e de uso. A segunda reforma ocorreu entre 1998 e 1999, na gestão do então prefeito Edmilson Rodrigues, e incluiu a recuperação do telhado, impermeabilização de toda a cobertura e pintura. A última reforma foi concluída em dezembro do ano passado. O espaço foi totalmente revitalizado que agora une gastronomia, cultura e entretenimento.
Além da catedral metropolitana e da Basílica de Nazaré, destacam-se vários outros patrimônios históricos de cunho religioso na capital projetadas pelo arquiteto Antônio Landi, como o Convento e Igreja de Nossa Senhora das Mercês, que data da fixação dos padres mercedários no Pará, em 1640.
A primeira igreja (de taipa coberta de palha) e a segunda (de taipa-de-mão e de pilão) se conservaram por mais de 100 anos. No século XVIII, foi iniciada a construção do templo atual, em alvenaria de pedra, concluído em 1777. Projetado pelo arquiteto italiano Antônio José Landi, é uma das poucas igrejas brasileiras com fachada convexa e frontão de linhas onduladas. Em 1794, os mercedários foram expulsos da Província e as dependências do Convento passaram a abrigar a sede da Alfândega.
Foi intensamente utilizado durante a revolta da Cabanagem em 1835, tendo ali funcionado posteriormente, o Trem de Guerra e o Quartel de Milícia, além do Arsenal de Guerra, a Recebedoria Provincial, os Correios, o Corpo de Artilharia e o Batalhão de Caçadores. Abandonada durante muitos anos, durante o século XIX, muitas de suas obras foram danificadas ou roubadas. Após a restauração, em 1913, a Igreja foi reaberta.
A Igreja de Nossa Senhora do Rosário teve construção datada da segunda metade do século XVII. Inicialmente, uma pequena ermida, erguida pelo esforço dos escravos e pretos, em devoção a Nossa Senhora do Rosário. Em 1725 foi demolida e reconstruída no mesmo ano, com dimensões idênticas, a partir de projeto do arquiteto José Landi.
A Igreja de Santana (Igreja de Nossa Senhora de Santana) foi erguida em 1727. Em 1761, foi iniciada a construção da atual Igreja de Santana, também com projeto de Landi. Apresentando características neoclássicas e abóbada em ogiva, encimada por lanterna redonda coroada por cúpula e cruz, raridades nas igrejas brasileiras.
Sítio arqueológico administrado pela Embrapa e localizado no bairro do Curió Utinga, o Engenho do Murucutu foi construído no século XVIII, por João Manuel Rodrigues. Era considerado um dos melhores e mais bem equipados engenhos do Pará, produtor de açúcar e cachaça. A capela foi construída em 1711, pelos frades mercedários, e restaurada na segunda metade do século XVIII por Landi. Com o tempo, o prestígio e as tradições relacionadas ao “senhor de engenho” foi se perdendo e o Engenho Murucutu acabou abandonado. Atualmente, restam apenas indícios dos alicerces, pilares e paredes da casa grande, em um emaranhado de apuizeiros. Apenas a capela se mantém de pé.
Locais traduzem fundação e expansão da capital
O dia 12 de janeiro de 1616 foi o marco histórico de fundação de Belém com o surgimento do Forte do Castelo, e que marca o início da ocupação do território paraense pelos portugueses que se estende nos anos seguintes com a abertura de ruas saindo do forte. “Esse forte se chama Presépio em alusão à saída da esquadra do português Francisco Caldeira Castelo Branco no dia de Natal de São Luís e sua chegada aqui”, destaca Amilson.
A primeira rua construída a partir do forte foi a Rua do Norte, que hoje se chama Siqueira Mendes. “Esse foi o primeiro embrião urbano que Belém teve e depois foram abertas todas as outras ruas como se fosse um raio, todas em direção ao forte. E é nesse processo militar, chegada dos primeiros colonizadores que virão junto também as ordens religiosas, que darão um caráter importantíssimo para a ocupação de Belém”, cita Amilson.
No início do século XVII surge a primeira igreja matriz em homenagem a Nossa Senhora das Graças, padroeira de Belém. Outro marco importante para história da cidade é a construção do convento de Nossa Senhora das Mercês em 1640; além do Convento de Santo Antônio, um pouco mais afastado desse núcleo inicial e que pertenceria aos franciscanos e onde hoje funciona o Colégio Santo Antônio.
“E assim Belém vai sendo construída e tendo uma clara divisão nas primeiras décadas do século XVII: de um lado o centro político e religioso que hoje conhecemos por Cidade Velha; e de outro o convento de Santo Antônio, que vai dar origem ao bairro da Campina”, explica.
Ainda no século XVII chega a Belém a ordem dos Jesuítas, sendo colocados num lugar afastado desse núcleo inicial de Belém e posteriormente se instalando onde hoje é a igreja de Santo Alexandre.
A partir do século XVIII a arquitetura religiosa e palaciana é ampliada na cidade. “Um importante marco dessa arquitetura é o Palácio do Governo hoje chamado Palácio Lauro Sodré, construído na segunda metade do século XVIII pelo arquiteto Antônio Landi, no ano de 1772, a partir de uma reivindicação dos governadores do Grão-Pará e Maranhão que queriam um prédio de acordo com a sua importância”. Lembra Pinheiro.
Landi foi um arquiteto brilhante e foi contratado para executar uma série de obras em Belém. Além do Palácio do Governo, projetou a igreja de Santana e uma série de projetos religiosos que se tornaram marcos na arquitetura de Belém na segunda metade daquele século.
A partir de meados do século XIX começam reformas urbanas importantes em Belém sobretudo no pós-Cabanagem, que estourou no Pará entre os anos de 1835 e 1840, gerando conflito e destruição sem precedentes na estrutura material e predial dos edifícios de Belém devido a inúmeras batalhas. “A partir de meados do século XIX e meados do Século XX começa o processo de reconstrução de abertura de ruas maiores e avenidas, como o Boulevard Castilhos França entre outras”, conta o pesquisador.
PATRIMÔNIO HISTÓRICO NAS CIDADES DO PARÁ
O conjunto arquitetônico que forma o patrimônio histórico paraense se estende por diversas cidades do Estado. No Marajó, a Fortaleza de Santo Antônio de Gurupá, o Museu do Marajó em Cachoeira do Arari e as ruínas dos Jesuítas em Salvaterra fazem parte desse acervo.
Em Óbidos, a memória é preservada pelo Complexo Militar e o Forte da Serra da Escama. Em Vigia de Nazaré, está a Igreja de Madre de Deus, também conhecida como Igreja de Pedra, construída por escravos. Fordlândia, distrito construído por Henry Ford no coração da Amazônia, é preservado no município de Aveiro. A Igreja de São Félix de Valois, em Marabá, também enriquece esse patrimônio.
Santarém, no Oeste do Estado, guarda casarões, igrejas e palacetes tão antigos quanto a própria cidade, fundada em 1661. Sua arquitetura remete aos traços de Bragança, onde a Igreja de São Benedito, o Liceu de Música, o Barracão da Marujada e o Instituto Santa Teresinha enriquecem o acervo.
Entre o sincretismo religioso, destaca-se a Pedra do Rei Sabá, em São João de Pirabas, o Templo Budista de Tomé-Açu e a Catedral de São João Batista, em Cametá.