Documentário aborda ancestralidade no bairro da Terra Firme

Publicado em 30 de dezembro de 2023

O que a terra firme é pra mim? É vida”, diz a professora Lília Melo, premiada nacionalmente por sua atuação em escolas públicas do bairro. “A Terra Firme é isso, quando tu acordas bem cedo de manhã, tu começas a ouvir os sons, os barulhos dos movimentos, o pulsar. Por isso que ela é vida”, completa mais adiante, no trailer do documentário “EtniCidades Amazônicas: o bairro da Terra Firme em Belém”, que será lançado no próximo aniversário da cidade, em 12 de janeiro, às 18h, no Curral Cultural Boi Marronzinho, localizado na própria Terra Firme.

 
  

O documentário reuniu uma série de depoimentos de outros professores, pesquisadores, artistas e moradores para falar sobre diferentes aspectos do bairro, entre eles, o pesquisador Aiala Colares, o sociólogo e ativista cultural do Boi Marronzinho Joelcio Santos e a rapper e escritora Shaira Mana Josy. “Ela [Terra Firme] envolve uma série de sentimentos. O primeiro é de pertencimento”, declara Shaira durante a entrevista para o documentário, dirigido por Ivânia Neves, coordenadora do Grupo de Estudo Mediações, Discursos e Sociedades Amazônicas (GEDAI-CNPq), junto com Camille Nascimento e Letícia de Sousa.

BLOCOS

O doc é dividido em quatro blocos. O primeiro explica a definição de “etniCidade” e como as ancestralidades indígenas e africanas são apagadas da história do bairro da Terra Firme. Integra este primeiro bloco uma videoarte, fruto do registro de uma oficina ministrada para crianças do bairro, por Shaira Mana Josy. A oficina teve como proposta inserir as crianças na formação histórica e cultural do bairro, enaltecendo a ancestralidade africana e indígena. Intitulada “Um Canto a Maíra”, a videoarte apresenta as crianças falando sobre o território Mairi, a área que conhecemos como Belém, que um dia foi território de sociedades indígenas.

No segundo bloco, o tema é a história do bairro, como ele foi se formando e os seus problemas estruturais. O terceiro é dedicado ao Rio Tucunduba, a origem indígena do rio, a história de como ele foi, aos poucos, transformado e poluído e como, ainda hoje, faz sentido na vida dos moradores do bairro. No último bloco, as discussões giram em torno das periferias pan-amazônicas e da relação delas com as universidades brasileiras. Allan Carvalho, bolsista do projeto, compôs a trilha sonora do documentário, com duas canções que retratam a realidade do bairro da Terra Firme e uma especial para a origem indígena do Rio Tucunduba, usada para permear as narrativas do documentário.

Trailer do documentário “EtniCidades Amazônicas: o bairro da Terra Firme em Belém”:

PAN-AMAZÔNIA

Para Camille Nascimento, o documentário, ao tratar da Terra Firme, expande o seu local de fala para outros bairros não apenas de Belém, mas da Pan-Amazônia. “Para este documentário tivemos um importante contato com sujeitas e sujeitos da Terra Firme, que compartilharam conosco suas memórias e suas questões afetivas com diferentes elementos do bairro, como o Rio Tucunduba, ruas consideradas fundamentais neste local, espaços culturais, entre outros. Trouxemos para o documentário este registro plural, feito por diversos olhares e vozes que compõem o bairro, e que fazem referência também a todas as periferias pan-amazônicas”, explica.

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O pesquisador Aiala Colares destaca a importância de compreender a formação do bairro, relacionada à migração de comunidades quilombolas e a luta pelo direito à moradia. “É impossível falar sobre a história da Terra Firme sem nós falarmos da história da migração de quilombolas de várias regiões do Pará e do Maranhão. Então, para mim, a Terra Firme é um quilombo urbano que conta a história de um povo que resiste durante muito tempo dentro da cidade, da periferia. O bairro tem uma origem relacionada ao movimento social, é o movimento de luta pelo direito à cidade e pelo direito à moradia que constrói esse bairro. E nós sabemos que grande parte da população que sofre com o déficit habitacional são pessoas negras e de origem indígena, que é um grupo populacional bem característico da cidade de Belém”.

Além do documentário, o projeto “Etnicidades Afro-Amazônicas, Danças, Narrativas e Identidades na Terra Firme” – financiado por emenda parlamentar proposta pela deputada federal Vivi Reis e pela Capes – já desenvolveu uma série de oficinas e pesquisas acadêmicas sobre etniCidades Amazônicas, com o objetivo de mostrar a formação étnica da cidade de Belém e de outras cidades da Amazônia.

Para Ivânia Neves, a realização desse projeto de extensão representou uma experiência significativa de interação com a sociedade. “A realização das oficinas e a produção do videoarte e do documentário representaram um momento de intervenção nessa realidade. Num processo dialógico, em que a universidade também aprendeu bastante com a comunidade”.

NA AGENDA

Documentário “EtniCidades Amazônicas: o bairro da Terra Firme em Belém”

Lançamento: 12 de janeiro de 2024, às 18h.

Onde: Curral Cultural Boi Marronzinho (Passagem Brasília, 170 – Terra Firme)

Quanto: Gratuito.


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