Detalhes de Belém: desenhistas usam a cidade como inspiração

Written by on 2 de fevereiro de 2025

Grafados no papel a partir de diferentes técnicas, os desenhos criados pela observação livre se transformam em um registro não apenas da cidade ou de algum casarão emblemático, mas também na captura de um momento único no tempo e no espaço. Ao redor de quase 500 cidades distribuídas em 70 países no mundo, cerca de 1.200 pessoas se reúnem para fazer os chamados desenhos de observação, uma iniciativa que nasceu nos Estados Unidos, mas que hoje tem ramificações em todo o mundo, incluindo em Belém.

A organização batizada de Urban Sketchers (‘desenhistas urbanos’, na tradução do inglês) surgiu por iniciativa do jornalista espanhol Gabriel Campanario, que em 2007, criou um fórum na internet para reunir desenhistas que gostavam de desenhar as cidades em que viviam ou visitavam. Baseado em Seattle, nos Estados Unidos, o jornalista e ilustrador não demorou para decidir convidar parte desses desenhistas para compartilharem seus desenhos em um blog, inspirando desenhistas de várias partes do mundo a fazer o mesmo, formando uma comunidade global.

Enquanto os grupos de desenho alinhados com o mesmo manifesto da Urban Sketchers se espalhavam pelo mundo, em Belém o desenhista Humberto Castro dava início à trajetória que o levaria a organizar tais encontros também na capital paraense. “Eu acabei fazendo uma oficina de desenho com modelo vivo e observação direta e foi aí que eu descobri o meu gosto por desenhar aquilo que eu observava. Quando acabou a oficina, eu fiquei com aquilo em mim, eu queria continuar desenhando as coisas que eu via. Aí eu pensei em fazer um grupo para as pessoas saírem pela cidade, pra gente desenhar alguma coisa e aí eu fiquei sabendo do Urban Sketchers. Mas, inicialmente, eu não criei o meu grupo com esse nome, eu criei um grupo chamado ‘Encontros de Desenho por Belém’”.

VEJA TAMBÉM

O primeiro encontro realizado por Humberto ocorreu em 2017, no Mangal das Garças, quando compareceram outros quatro desenhistas. “Até 2020 eu não conseguia organizar muitos encontros durante o ano, então, às vezes passavam dois meses entre um encontro e outro. Aí veio a pandemia e todos os grupos pararam de se encontrar. Já no final de 2022, eu comecei a colocar no papel o que eu precisava para organizar um encontro”, lembra o Organizador da Urban Sketchers Belém. “Eu criei um site para disponibilizar todas as instruções e em 2023 consegui retornar com os encontros, agora quinzenais. Desde então, está tudo registrado. O maior desafio foi conseguir manter os encontros com uma grande frequência e poder anunciar os encontros a tempo”.

Os locais onde os próximos encontros serão realizados são previamente anunciados no site e nas redes sociais do projeto. Humberto conta que, para definir o próximo local, costuma criar uma caixinha de sugestões no perfil da Urban Sketchers Belém no Instagram. A partir das sugestões recebidas, ele cria uma enquete para que as pessoas votem e o vencedor é o local que sediará o próximo encontro.

Desde que as atividades do grupo iniciaram, eles já desenharam locais como o Mercado de São Brás, o complexo do Ver-o-Peso, o Parque Urbano Porto Futuro, o Bosque Rodrigues Alves, entre outros. Em cada um desses espaços, os registros gerados pelos diferentes participantes formam olhares únicos sobre os locais e sobre o momento em que os desenhos estavam sendo criados. “Acaba acontecendo da pessoa registrar alguma coisa que represente o cotidiano daquele lugar ou das pessoas que frequentam aquele lugar. Também tem a questão da memória afetiva com o lugar. E o mais importante mesmo é a gente se reunir, desenhar, fazer o registro, compartilhar. O legal é que a gente sabe que em algum lugar do país ou do mundo, tem algum grupo também desenhando”.

Não é preciso ter formação para participar dos encontros

Humberto lembra que qualquer pessoa pode participar dos encontros, basta acompanhar a agenda. Não é preciso ter nenhuma formação em artes ou desenho para se juntar ao grupo que costuma reunir pessoas de diferentes idades e formações. Basta compartilhar o gosto pelos desenhos de observação. “Tem pessoas de todas as áreas no grupo e que estão ali por uma paixão em comum, que é desenhar. A gente não ensina a desenhar, mas trocamos experiências, técnicas, dicas”, explica Humberto. “Uma coisa importante no desenho de observação é a questão do bem-estar. As pessoas se sentem muito bem fazendo aquilo. Acho que é isso que faz as pessoas retornarem, continuarem”.

Como fica responsável também por organizar e registrar os encontros, Humberto conta que a sensação despertada nele em cada reunião é de um pouco de adrenalina. Até mesmo pela técnica que ele gosta de usar. “Eu uso aquarela, que seca, então tem coisas que têm que ser feitas enquanto a aquarela está molhada. Para mim, o que me deixa empolgado mesmo é desenhar alguma coisa mais complexa e correr contra o tempo, contra a secagem da água da aquarela”, conta. “Outra coisa é que eu adoro ver a reação das pessoas quando elas veem o desenho pronto. Essa é uma sensação indescritível, ver a surpresa das pessoas vendo o desenho”.

Para a arquiteta e urbanista Sheyla Lopes, desenhar por prazer é uma maneira de garantir um tempo de qualidade com ela mesma. Ela participa dos encontros do Urban Sketchers Belém desde 2022, mas sua relação com o desenho vem de muito antes disso. “Eu sempre desenhei e fiz arquitetura justamente porque eu gostava de desenho. Eu me formei arquitetura em 2001 e, desde então, a minha relação com desenho vinha sendo a de trabalho”, contextualiza. “Mas quando veio a pandemia, eu já vinha em um processo depressivo e quando foi preciso fechar tudo eu entrei em depressão e a minha terapeuta me perguntou: ‘O que você faz porque você gosta?’. E eu disse que eu gostava de desenhar, mas que desenhar para mim tinha virado profissão, então, eu não tinha mais aquele desenhar por desenhar, desenhar porque você quer ter um tempo de qualidade com você mesma”.

Naturalmente, a terapeuta de Sheyla perguntou por que ela não voltou a desenhar e foi aí que a arquiteta decidiu recuperar os velhos lápis de cor. A atividade que, inicialmente, se concentrou dentro de casa, passou a ser desenvolvida também em grupo, ao ar livre, depois de uma pesquisa no Instagram. “Quando começou a abertura da pandemia, eu queria sair, até pelo incentivo da terapia. E no Instagram eu vi uma postagem do Urban Sketchers de São Paulo. E eu vi que tinha em São Paulo, tinha no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte e eu pensei ‘será que tem em Belém’?”, recorda. “Foi quando eu achei o Urban Sketchers Belém em 2022. Dentro de um ano eu já estava ajudando a organizar também”.

De lá para cá, Sheyla lembra que o grupo já participou de uma exposição na Galeria Fidanza do Museu de Arte Museu de Arte Sacra, ela já fez curso de curadoria e agora se prepara para fazer faculdade de artes. Novas experiências impulsionadas pelos encontros do grupo. “Agora, a minha relação com o desenho se expandiu muito mais do que apenas profissão e voltou a ser aquela paixão que eu tinha como criança, como adolescente. É uma relação de prazer, melhorou a minha vida, a minha autoestima e tudo mais”.

Foi também logo após a pandemia da COVID-19 que a arquiteta Ana Elisa Ribeiro começou a participar dos encontros do Urban Sketchers Belém. Ela conta que já fazia desenhos de observação antes e, ao publicar alguns em seu Instagram, o grupo acabou entrando em contato com ela, dando início à sua participação nos encontros.

Para Ana Elisa, o desenho de observação guarda, em especial, a possibilidade de a pessoa registrar a sua impressão sobre aquele determinado momento. “O desenho de observação é interessante porque você está fazendo um registro pessoal, de um determinado momento que nunca mais vai existir. É a sua interpretação daquilo que está acontecendo naquela hora, a forma que luz do sol encontra as superfícies, o comportamento das sombras, as pessoas transitando… É uma experiência única”.

ENCONTROS

Os encontros da Urban Sketchers Belém ocorrem a cada 15 dias e são divulgados previamente nas redes sociais do grupo, com informações sobre o dia, horário e local. Quando se reúnem, os participantes ficam à vontade para desenhar livremente o que observam e, ao final, todos os desenhos são organizados no chão, no que ficou conhecido como “exposichão”, para que sejam fotografados em conjunto. “É quando a gente vê todos os desenhos juntos, treina o nosso olhar, observa o desenho do outro, se for o caso compara, pergunta, elogia e depois a gente faz uma pose de grupo”, explica Humberto Castro, organizador da Urban SKetchers Belém.

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URBAN SKETCHERS

A iniciativa foi criada por um jornalista espanhol que vive nos Estados Unidos e rapidamente se espalhou pelo mundo. Em comum, os grupos envolvem a reunião de pessoas interessadas nos desenhos de observação e que o fazem pelo bem-estar proporcionado pelo ato de desenhar. Atualmente, existem grupos da Urban SKetchers em 499 cidades pelo mundo. No Brasil, estão presentes em pelo menos 35 municípios, incluindo Belém.


Detalhes de Belém: desenhistas usam a cidade como inspiração

Written by on 2 de fevereiro de 2025

Grafados no papel a partir de diferentes técnicas, os desenhos criados pela observação livre se transformam em um registro não apenas da cidade ou de algum casarão emblemático, mas também na captura de um momento único no tempo e no espaço. Ao redor de quase 500 cidades distribuídas em 70 países no mundo, cerca de 1.200 pessoas se reúnem para fazer os chamados desenhos de observação, uma iniciativa que nasceu nos Estados Unidos, mas que hoje tem ramificações em todo o mundo, incluindo em Belém.

A organização batizada de Urban Sketchers (‘desenhistas urbanos’, na tradução do inglês) surgiu por iniciativa do jornalista espanhol Gabriel Campanario, que em 2007, criou um fórum na internet para reunir desenhistas que gostavam de desenhar as cidades em que viviam ou visitavam. Baseado em Seattle, nos Estados Unidos, o jornalista e ilustrador não demorou para decidir convidar parte desses desenhistas para compartilharem seus desenhos em um blog, inspirando desenhistas de várias partes do mundo a fazer o mesmo, formando uma comunidade global.

Enquanto os grupos de desenho alinhados com o mesmo manifesto da Urban Sketchers se espalhavam pelo mundo, em Belém o desenhista Humberto Castro dava início à trajetória que o levaria a organizar tais encontros também na capital paraense. “Eu acabei fazendo uma oficina de desenho com modelo vivo e observação direta e foi aí que eu descobri o meu gosto por desenhar aquilo que eu observava. Quando acabou a oficina, eu fiquei com aquilo em mim, eu queria continuar desenhando as coisas que eu via. Aí eu pensei em fazer um grupo para as pessoas saírem pela cidade, pra gente desenhar alguma coisa e aí eu fiquei sabendo do Urban Sketchers. Mas, inicialmente, eu não criei o meu grupo com esse nome, eu criei um grupo chamado ‘Encontros de Desenho por Belém’”.

VEJA TAMBÉM

O primeiro encontro realizado por Humberto ocorreu em 2017, no Mangal das Garças, quando compareceram outros quatro desenhistas. “Até 2020 eu não conseguia organizar muitos encontros durante o ano, então, às vezes passavam dois meses entre um encontro e outro. Aí veio a pandemia e todos os grupos pararam de se encontrar. Já no final de 2022, eu comecei a colocar no papel o que eu precisava para organizar um encontro”, lembra o Organizador da Urban Sketchers Belém. “Eu criei um site para disponibilizar todas as instruções e em 2023 consegui retornar com os encontros, agora quinzenais. Desde então, está tudo registrado. O maior desafio foi conseguir manter os encontros com uma grande frequência e poder anunciar os encontros a tempo”.

Os locais onde os próximos encontros serão realizados são previamente anunciados no site e nas redes sociais do projeto. Humberto conta que, para definir o próximo local, costuma criar uma caixinha de sugestões no perfil da Urban Sketchers Belém no Instagram. A partir das sugestões recebidas, ele cria uma enquete para que as pessoas votem e o vencedor é o local que sediará o próximo encontro.

Desde que as atividades do grupo iniciaram, eles já desenharam locais como o Mercado de São Brás, o complexo do Ver-o-Peso, o Parque Urbano Porto Futuro, o Bosque Rodrigues Alves, entre outros. Em cada um desses espaços, os registros gerados pelos diferentes participantes formam olhares únicos sobre os locais e sobre o momento em que os desenhos estavam sendo criados. “Acaba acontecendo da pessoa registrar alguma coisa que represente o cotidiano daquele lugar ou das pessoas que frequentam aquele lugar. Também tem a questão da memória afetiva com o lugar. E o mais importante mesmo é a gente se reunir, desenhar, fazer o registro, compartilhar. O legal é que a gente sabe que em algum lugar do país ou do mundo, tem algum grupo também desenhando”.

Não é preciso ter formação para participar dos encontros

Humberto lembra que qualquer pessoa pode participar dos encontros, basta acompanhar a agenda. Não é preciso ter nenhuma formação em artes ou desenho para se juntar ao grupo que costuma reunir pessoas de diferentes idades e formações. Basta compartilhar o gosto pelos desenhos de observação. “Tem pessoas de todas as áreas no grupo e que estão ali por uma paixão em comum, que é desenhar. A gente não ensina a desenhar, mas trocamos experiências, técnicas, dicas”, explica Humberto. “Uma coisa importante no desenho de observação é a questão do bem-estar. As pessoas se sentem muito bem fazendo aquilo. Acho que é isso que faz as pessoas retornarem, continuarem”.

Como fica responsável também por organizar e registrar os encontros, Humberto conta que a sensação despertada nele em cada reunião é de um pouco de adrenalina. Até mesmo pela técnica que ele gosta de usar. “Eu uso aquarela, que seca, então tem coisas que têm que ser feitas enquanto a aquarela está molhada. Para mim, o que me deixa empolgado mesmo é desenhar alguma coisa mais complexa e correr contra o tempo, contra a secagem da água da aquarela”, conta. “Outra coisa é que eu adoro ver a reação das pessoas quando elas veem o desenho pronto. Essa é uma sensação indescritível, ver a surpresa das pessoas vendo o desenho”.

Para a arquiteta e urbanista Sheyla Lopes, desenhar por prazer é uma maneira de garantir um tempo de qualidade com ela mesma. Ela participa dos encontros do Urban Sketchers Belém desde 2022, mas sua relação com o desenho vem de muito antes disso. “Eu sempre desenhei e fiz arquitetura justamente porque eu gostava de desenho. Eu me formei arquitetura em 2001 e, desde então, a minha relação com desenho vinha sendo a de trabalho”, contextualiza. “Mas quando veio a pandemia, eu já vinha em um processo depressivo e quando foi preciso fechar tudo eu entrei em depressão e a minha terapeuta me perguntou: ‘O que você faz porque você gosta?’. E eu disse que eu gostava de desenhar, mas que desenhar para mim tinha virado profissão, então, eu não tinha mais aquele desenhar por desenhar, desenhar porque você quer ter um tempo de qualidade com você mesma”.

Naturalmente, a terapeuta de Sheyla perguntou por que ela não voltou a desenhar e foi aí que a arquiteta decidiu recuperar os velhos lápis de cor. A atividade que, inicialmente, se concentrou dentro de casa, passou a ser desenvolvida também em grupo, ao ar livre, depois de uma pesquisa no Instagram. “Quando começou a abertura da pandemia, eu queria sair, até pelo incentivo da terapia. E no Instagram eu vi uma postagem do Urban Sketchers de São Paulo. E eu vi que tinha em São Paulo, tinha no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte e eu pensei ‘será que tem em Belém’?”, recorda. “Foi quando eu achei o Urban Sketchers Belém em 2022. Dentro de um ano eu já estava ajudando a organizar também”.

De lá para cá, Sheyla lembra que o grupo já participou de uma exposição na Galeria Fidanza do Museu de Arte Museu de Arte Sacra, ela já fez curso de curadoria e agora se prepara para fazer faculdade de artes. Novas experiências impulsionadas pelos encontros do grupo. “Agora, a minha relação com o desenho se expandiu muito mais do que apenas profissão e voltou a ser aquela paixão que eu tinha como criança, como adolescente. É uma relação de prazer, melhorou a minha vida, a minha autoestima e tudo mais”.

Foi também logo após a pandemia da COVID-19 que a arquiteta Ana Elisa Ribeiro começou a participar dos encontros do Urban Sketchers Belém. Ela conta que já fazia desenhos de observação antes e, ao publicar alguns em seu Instagram, o grupo acabou entrando em contato com ela, dando início à sua participação nos encontros.

Para Ana Elisa, o desenho de observação guarda, em especial, a possibilidade de a pessoa registrar a sua impressão sobre aquele determinado momento. “O desenho de observação é interessante porque você está fazendo um registro pessoal, de um determinado momento que nunca mais vai existir. É a sua interpretação daquilo que está acontecendo naquela hora, a forma que luz do sol encontra as superfícies, o comportamento das sombras, as pessoas transitando… É uma experiência única”.

ENCONTROS

Os encontros da Urban Sketchers Belém ocorrem a cada 15 dias e são divulgados previamente nas redes sociais do grupo, com informações sobre o dia, horário e local. Quando se reúnem, os participantes ficam à vontade para desenhar livremente o que observam e, ao final, todos os desenhos são organizados no chão, no que ficou conhecido como “exposichão”, para que sejam fotografados em conjunto. “É quando a gente vê todos os desenhos juntos, treina o nosso olhar, observa o desenho do outro, se for o caso compara, pergunta, elogia e depois a gente faz uma pose de grupo”, explica Humberto Castro, organizador da Urban SKetchers Belém.

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URBAN SKETCHERS

A iniciativa foi criada por um jornalista espanhol que vive nos Estados Unidos e rapidamente se espalhou pelo mundo. Em comum, os grupos envolvem a reunião de pessoas interessadas nos desenhos de observação e que o fazem pelo bem-estar proporcionado pelo ato de desenhar. Atualmente, existem grupos da Urban SKetchers em 499 cidades pelo mundo. No Brasil, estão presentes em pelo menos 35 municípios, incluindo Belém.


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