Custodiados contribuem na arborização e paisagismo em Belém

Publicado em 20 de setembro de 2024

Mão de obra prisional está transformando o futuro verde de Belém, com a produção de mudas de plantas ornamentais, árvores frutíferas e decorativas utilizadas no paisagismo das praças e vias de Belém, contribuindo com a preservação da natureza na capital paraense.

Dia 21 de setembro é celebrado o Dia da Árvore no Brasil. E mesmo diante dos desafios climáticos pelo qual passam o país e o mundo, há de se comemorar o trabalho de preservar e cultivar esses recursos. Como ocorre em Belém, onde mais de 30 custodiados da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) atuam trabalhando na produção de mudas, cultivo e plantio de árvores e plantas ornamentais utilizadas nos projetos paisagísticos dos logradouros públicos de Belém.

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Atualmente eles ajudam na produção média de mais de 30 mil mudas mensais de espécies arbóreas de pequeno e grande porte, frutíferas, medicinais, como Ipês (branco, rosa, amarelo e felpudo), Pau-Brasil, Andiroba, Sumaumeira, Pau-Preto, Mangueiras, Ingazeiros, Graviola e ornamentais. Tem ainda plantas decorativas que embelezam e deixam mais verde as praças e espaços públicos da cidade. Além de garantir a ressocialização, o trabalho garante renda e contribui para a preservação e manutenção dessas riquezas naturais.

A árvore é um grande símbolo da natureza e é uma das mais importantes riquezas naturais que possuímos. As diversas espécies arbóreas existentes são fundamentais para a vida na Terra já que aumentam a umidade do ar graças à evapotranspiração; evitam erosões; produzem oxigênio no processo de fotossíntese; reduzem a temperatura; fornecem sombra e abrigo para algumas espécies animais, além de fornecer alimentos.

Titular da Diretoria de Trabalho Prisional (DTP) da Seap, Belchior Machado comenta a importância do trabalho desenvolvido pelos custodiados e os benefícios para a sociedade dessa parceria para Belém.

Pelas boas práticas do trabalho prisional, buscamos criar a conscientização e reflexão da sociedade, tanto sobre a importância de oportunizar trabalho digno aos custodiados quanto, inclusive, da necessidade de todos nós contribuirmos com a preservação e conservação do meio ambiente. Essa parceria, esse trabalho, simbolicamente, representa a essência da reinserção social, que é garantir nova vida e esperança a essas pessoas e paz à sociedade”, define Belchior.


Ieda Lima é a diretora da Granja Modelo, mantida pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Belém, em que os internos atuam, e destaca a importância da mão de obra dos custodiados que se encontram no regime semiaberto da Unidade de Custódia e Reinserção do Coqueiro (UCR Coqueiro). “Hoje contamos com seis mulheres e 22 homens trabalhando conosco nas quatro áreas de produção. A participação deles é muito boa, é excelente pra nós”, explica a diretora.

Ieda revela que assim que chegam para trabalhar na Granja Modelo, os custodiados passam pelas primeiras orientações de como o trabalho é desenvolvido no local. Alguns já possuem cursos profissionalizantes de jardinagem, paisagismo e operação de máquina roçadeira, o que facilita muito no desenvolvimento das atividades.

“Eles são divididos por equipes de encarregados, pois a gente trabalha muito com produção de arbóreas, que é parte de arborizar o município, palmeiras e plantas ornamentais, para paisagismo de modo geral. E cada encarregado é responsável por um tipo de vegetação. Então, quando eles passam para a equipe, eles são treinados, eles já começam a fazer o serviço perfeito. Inclusive roçagem também, capina, tudo isso eles fazem, até poda eles fazem também”, esclarece Ieda.

A diretora conta que a maioria se adapta rapidamente e descobre a aptidão e gosto em lidar com as plantas. “É uma oportunidade que eles e elas têm”, diz. Mas há também os que se destacam nas atividades e após cumprirem a pena, conseguem até mesmo a indicação para um novo emprego.

“Aqueles que a gente acha que são praticamente pessoas que se identificam muito bem, a gente até indica, como eu mesma indiquei. Indiquei, acho que cinco pessoas para o Parque da Cidade, para trabalhar nessa obra. E eles estão lá trabalhando de carteira assinada e estão saindo muito bem, porque eu fico perguntando como é que estão. Eles até agradeceram pela mão de obra”, conta Ieda Lima.


Vocação – Essa aptidão levou a interna Iracely Angelin, de 40 anos, a descobrir o verdadeiro amor pelas árvores e plantas ornamentais depois que participou dos cursos de jardinagem e depois de paisagismo oferecidos pela Seap. Há dois anos trabalhando na Granja Modelo, hoje ela é encarregada de uma das áreas de produção de mudas de arbóreas e ornamentais.

“Posso dizer com toda certeza que foi uma profissão que eu descobri na minha vida e hoje eu tenho amor naquilo que faço. Não foi à toa que quando fiz o curso de jardinagem, me identifiquei bastante. E hoje trabalho não só pela remissão e nem pela questão financeira, e sim pelo amor. Trabalhar com as plantas, com a natureza, é a coisa mais maravilhosa. Só o fato de você estar aqui lidando com a natureza é gratificante”, garante Iracely.

Iracely conta que o trabalho inicia desde o plantio das sementes até o preparo do substrato e do adubo utilizados no plantio das mudas. Todo o material orgânico recolhido na Granja é utilizado na compostagem para a produção de adubo. A área pela qual Iracely é responsável tem como meta mensal a produção de, no mínimo, 5 mil mudas de diversas espécies vegetais: Ipês (branco, rosa, amarelo e felpudo), Pau-Brasil, Andiroba, Samaumeira, Pau-Preto, Mangueiras, Ingazeiros, Graviola e ornamentais.

Ela também se sente orgulhosa de saber do resultado final que seu trabalho proporciona tanto para a população como para a preservação da natureza e o embelezamento da cidade.

“Quando eu passo na rua e vejo que aquela plantinha ali foi obra não só do meu trabalho, mas dos outros colegas, aquilo ali eu faço questão de mostrar para a minha família. ‘Olha, ali é de lá de onde eu trabalho’. E isso aí ajuda muito o paisagismo das praças. Isso é importante. Só tenho a agradecer a oportunidade que lá dentro do cárcere eu tive. E hoje estou adquirindo essa experiência. E estou já na minha reta final e quero fazer uso desse trabalho no futuro”, afirma Iracely.

Aos 52 anos, Washington Luiz foi outro que descobriu uma verdadeira paixão pelas plantas ao ter a oportunidade de trabalhar na Granja Modelo. Ele, que até então nunca tinha tido experiência anterior na área, hoje agradece pela oportunidade dada pela Seap.

“É uma experiência nova na minha vida, né? Eu nunca tinha mexido com esse negócio de plantas e aonde a gente vem conhecer, dar o verdadeiro valor a cada pé de planta. Uma obra da natureza, então a gente vai aprendendo, desde a semente, como vai plantar, como vai cuidar dela, até fazer a muda. É um aprendizado na minha vida que está me deixando muito emocionado de ter conhecido essa parte, essa área das plantas. E eu estou me sentindo bem aqui”, comentou Washington.


Sobre o resultado final de todo o processo de produção ao plantio nos espaços públicos, Washington faz uma analogia do crescimento das árvores ao de um filhote de um animal. “Eu vejo assim, a gente criar, tipo um filhote, onde vai lá na sociedade, onde a sociedade vai ver desde a idade pequenininha até chegar numa árvore mesmo. O quanto é gostoso, o quanto embeleza a nossa cidade, entendeu? Eu acho maravilhoso”, afiança Luiz.

Trabalho recompensado – O trabalho prisional está garantindo para a Praça Dalcídio Jurandir, localizada no bairro da Cremação, um novo paisagismo. Esta semana 10 mulheres custodiadas trabalharam no local, no plantio de espécies ornamentais e açaizeiros. Uma ação para deixar o espaço mais atrativo e prazeroso para a população.

A custodiada Helen Cristina Moraes, de 27 anos, era uma das trabalhadoras que estava atuando no plantio de mudas. Ela já fez cursos de Gastronomia, Hamburgueria, Produção de Salgados e Design de Sobrancelhas e agora atua na manutenção de praças. Além da oportunidade de trabalho, Helen vê a atividade como o início de um recomeço para a própria vida.

“Está sendo, tipo, um novo recomeço. Até porque cuidar das plantas é muito bom. A gente aprende a lidar também com a natureza. A gente vê o paisagismo das praças, todas as praças que a gente caminha. A gente vê uma coisa mudada. A gente aprende a ter amor com as plantas também. Então, isso para mim é até bom psicologicamente. A gente passa o tempo todo lá dentro e quando a gente chega aqui é até uma felicidade de a gente cuidar”, disse.

Helen disse ainda que quando recebe o benefício da saída temporária, e tem a chance de passear com a família pelas praças de Belém, sente todo o orgulho e satisfação de mostrar a eles o resultado do seu trabalho.

“A gente se sente feliz porque caminha pela praça, pelo lugar que a gente já plantou, já fez o nosso trabalho, a gente olha aquela planta, foi a gente que plantou. Dá para mostrar para a nossa família, nossos filhos, ‘olha aquela plantinha que está crescendo, foi eu que plantei’. Então isso é um privilégio. E a gente tem essa oportunidade, que a Seap também disponibiliza para muitas mulheres e para várias pessoas privadas de liberdade que também vão ter essa oportunidade”, concluiu Helen.


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