Conheça o autor de “Tá na Hora do Jair Já Ir Embora”

Written by on 31 de outubro de 2022

A festa da vitória de Lula (PT) na avenida Paulista teve
nomes de peso como Daniela Mercury e Maria Rita, mas ninguém levantou tanto o
público quanto a até recentemente desconhecida banda Maderada Brasil, de Iguaí
(BA). Foi só “Tá na Hora do Jair Já Ir Embora” ter os primeiros
versos entoados que o público começou a pular e a cantar a plenos pulmões.

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O jingle caiu na boca dos eleitores do petista, que não veem
a hora de Jair Bolsonaro (PL) “arrumar as suas malas, dar no pé e ir
embora”. Tanto que, nesta segunda-feira (31), a canção amanheceu no topo
do ranking Viral 50 do Spotify Brasil.

“Eu estava mais focado na campanha do Lula, não estava
acompanhando a evolução que a música estava tendo”, afirma Juliano
Maderada, 48, um dos autores do hit, ao lado de Tiago Doidão. Apesar da fama
repentina, ele conta que até agora, a conta bancária não mudou muito. “As
distribuidoras costumam repassar o pagamento a cada 3 meses ou
semestralmente”, explica. A boa notícia é que a banda começou a ser mais
procurada para shows –foram 8 nos últimos 2 meses.

O cantor, compositor e empresário conta que fez cerca de 100
jingles políticos para as eleições deste ano, para candidatos de diversos
cargos e estados –de Roraima ao Rio Grande do Sul. Apesar de não se recusar a
trabalhar para quem tem outras preferências políticas, ele diz acreditar que o
sucesso da música sobre o presidente se deu justamente por ter sido feita com
emoção.

“Se você me pedir uma música, vou fazer uma música nos
termos que você me pediu para falar”, explica. “Mas o Lula nunca me
pediu nada, era o que eu sentia. O coração falava por mim. O Lula eu admiro a
vida toda, sou filiado ao PT e já admirava ele por todas as questões que ele
passou na vida.”

O que pouca gente sabe, no entanto, é que essa é uma versão
mais suave da letra. A primeira foi recusada pela distribuidora ONErpm, que faz
a ponte entre artistas e plataformas como o Spotify, por causa do teor
político. Consultada, a empresa não se manifestou até a última atualização
deste texto.

“Antes, a letra falava ‘o Jair não vale nada, tem apoio
de Cunha, isso é laranjada’, era toda de política, mas eu tirei essa parte e
ficou parecendo ser sobre um relacionamento”, comenta Maderada.
“Ficou ‘ele te fez sofrer, ele te fez chorar, eu bem que te avisei, bota
ele pra vazar’. Assim, o Jair poderia ser o padeiro da esquina, já que era só a
história de um Jair que não gostava da mulher.”

Natural de Araguapaz (GO), Maderada conta que começou a
trabalhar cedo. “Era na roça, com coisas pesadas, tirei leite, plantava
tomate”, enumera. Concluiu o ensino médio, mas não o curso de agronomia,
para o qual passou com 17 anos. Com 20 anos, dava aulas de matemática, mas aos
23 largou tudo para viver da música.

Apesar de saber tocar desde cedo, ele não costumava ficar à
frente da banda no palco. Ele sempre contratava vocalistas para apresentações
ou para gravar os jingles, caso de Doidão. “Ele já é mais conhecido, fez
músicas para Léo Santana, Zé Felipe, Wesley Safadão e Xand Avião”, diz.
“Já eu tiro leite de pedra. Faço qualquer coisa, tenho uma empresa pequena
de eventos, organizo festas, vendo show e monetizo o canal do YouTube.”

Foi na pandemia, quando viu sua renda minguar, que resolveu
cantar para não deixar de produzir novos vídeos. O tema escolhido foi a saudade
que ele estava do governo Lula. “No dia que Lula foi tornado elegível, eu
postei a primeira música”, lembra. “O canal tinha 4.000 inscritos e a
música teve 7.500 visualizações em 24 horas. Normalmente dava 100
visualizações. Então eu entendi que poderia fazer um trabalho com músicas
pró-Lula.”

Logo depois, ele começou a tentar contato com a campanha de
Lula. “Chamei o pessoal aqui de São Paulo, mas não tive retorno”,
conta. Foi o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) quem primeiro lhe deu atenção,
passando o contato de Maderada para o fotógrafo Ricardo Stuckert, que acompanha
Lula.

Os dois se falaram duas vezes no telefone. Na terceira,
Stuckert colocou o então candidato do outro lado da linha. “Ele disse que
já tinha escutado algumas músicas minhas, que não merecia tanto e que a Janja
[mulher de Lula] tinha as músicas em um pendrive”, relata.

A partir daí surgiu um convite para eles se encontrarem em
Salvador, quando Maderada cantou para Lula em um espaço reservado em um hotel.
Depois disso, o artista passou a ser visto em alguns eventos públicos de
campanha, como o encontro com artistas realizado em setembro.

No dia da vitória, não estava programado que ele
participasse da festa. Na verdade, ele só decidiu vir para São Paulo depois de
falar com Lula ao telefone. “Eu estava na minha cidade, morrendo de medo e
ansiedade, mas ele disse para eu ficar tranquilo, que ia dar certo”,
conta.

De última hora, acabou pegando um voo para conferir o final
da apuração na Paulista. “O Tiago não queria nem vir”, revela. Quando
subiram ao trio, foram convidados por Daniela Mercury a dar uma palinha.
“Foi muita felicidade”, conta. “Para mim, foi uma realização
como pessoa, profissional e brasileiro.”

“Venho fazendo essas músicas há quase dois anos no
canal, a música do Jair só veio para coroar”, avalia. “Eu só queria
realmente participar e ajudar o Lula de alguma forma. Mas aquele abraço que as
pessoas estavam se dando na Paulista era o retrato do que o Brasil estava
precisando. Parecia que as pessoas estavam se libertando de uma prisão.”


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