Conferência encerra com debate cultural
Publicado em 9 de novembro de 2024
Depois de mais de 50 horas de palestras, painéis e com participantes de onze países, terminou nesta sexta-feira (8), a 2ª Conferência Internacional Amazônias e Novas Economias, realizada desde o dia 6 no Hangar Convenções & Feiras da Amazônia. Uma adaptação da programação cultural “Sempre um papo”, idealizada pelo jornalista mineiro Afonso Borges, reuniu os escritores Zeca Camargo, Eduardo Goés Neves, Walter Hugo Mãe e Truduá Dorrico a debater sobre as transformações da natureza ao longo dos anos e como isso é retratado na Literatura.
Zeca Camargo atuou como mediador e convidou participantes e plateia a pensar sobre a arrogância da humanidade em agir como se fosse maior que o planeta e seus recursos. “Não somos uma espécie imune a catástrofes como as que nós mesmos estamos provocando, a natureza não liga muito para nós, mas exige respeito – se a gente a incomoda, ela vai adiante, e nós não. Nossa preocupação é como tomar uma atitude”, propôs.
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Autor de “Arqueologia da Amazônia”, Neves contou, em tom de bastante preocupação que, depois de quatro décadas trabalhando na região amazônica, visualizou algo que, em sua cabeça, nunca presenciaria. “O Rio Negro seco, o Lago Tefé, afluente do Rio Amazonas seco também. Com essas mudanças eu acredito que a gente consegue ter a ilusão de encontrar algum caminho, mas são mudanças muito drásticas e vejo nossa geração tendo responsabilidade nisso porque somos testemunhas do que acontece”, afirmou, sobre a necessidade de sensibilizar mais pessoas para a realidade da mudança climática.
“Minha ansiedade é mostrar que todos nós somos estrangeiros nesta terra. Eu venho há 25 anos ao Brasil e ia às livrarias buscar livros sobre povos originários e não existia, isso por mais de dez anos. E só agora efetivamente não só povos originários mas povos negros tem verdadeiramente lugar de contar essa história”, avalia Hugo Mãe, escritor português, autor de “As doenças do Brasil” e “Deus na escuridão”.
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Já a mestre e doutora em Literatura, escritora, autora de “Originárias”, Truduá Dorrico, lembra que os povos originários são e sempre foram aguerridos. “Convido a pensar que o mistério está vivo, porque no Brasil são 305 povos falantes de 274 línguas originárias. Em cada uma dessas línguas e povos tem a ciência, o conhecimento, os encantados que ainda estão vivos e os quais ainda lutam para que tudo isso permaneça vivo. E uma forma de permanecer vivo é manter o território vivo, a floresta viva. Porque tudo é muito interconectado”, completou.
ENCERRAMENTO
Raul Jungmann, diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), um dos idealizadores da conferência, celebrou a diversidade de públicos que contribuíram com opiniões e propostas voltadas ao desenvolvimento sustentável da Amazônia. Segundo ele, ao final deste encontro “fica o legado, os produtos dos diálogos que foram promovidos nestes dias para encontrar caminhos, soluções para as dificuldades enfrentadas, bem como sobre o futuro da Amazônia”.
A curadora da conferência, a ex-ministra do Meio Ambiente e membro do Conselho Econômico e Social da ONU, Izabella Teixeira, falou sobre os passos seguintes ao evento, de olho na pauta da COP30, cúpula das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, que será realizada em 2025, em Belém.
“A ideia, agora, é que as várias Amazônias saiam daqui para conversar com os vários Brasis. Está na hora de as Amazônias ‘invadirem’ os Brasis”, disse, se referindo ao aprofundamento do diálogo sobre as conclusões dos debates promovidos na conferência e como a sociedade pode apoiar a aplicação das propostas oriundas do encontro.
A última palestrante principal do evento foi a ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, Ellen Johnson Sirleaf, ex-presidente da Libéria, que defendeu o desenvolvimento sustentável da Amazônia em modelo enraizado na sustentabilidade, inclusão e prosperidade compartilhada. Ela elogiou a capital paraense, chamando-a de “cidade resiliente” e celebrou as riquezas muitas da cidade, que estão desde o mercado do Ver-o-Peso à cultura dos ribeirinhos.
“A beleza e a vastidão desta região dão ainda mais sentido em discutir aqui o crescimento econômico em paralelo com a preservação ambiental. Afirmo que há uma forte conexão entre Amazônia e África pelos povos, recursos naturais, e podemos aprender juntos sobre como preservar”, declarou.
Também aproveitou para fazer um alerta à defesa feita na véspera por John Kerry, ex-secretário de Estado dos EUA, sobre a estruturação de um robusto mercado de carbono global como solução ideal para acelerar a transição energética, necessária para enfrentar os efeitos danosos das mudanças climáticas. “Deve-se tomar cuidado para evitar a exploração por investidores que recebem grandes hectares de floresta para ganhar créditos para seus países”. Apesar do alerta, ela considera o crédito de carbono um “importante mecanismo de combate ao desmatamento e às mudanças climáticas”, ainda mais que busca “proteger florestas ou plantar novas árvores”, o que cria um incentivo financeiro para a conservação.