Colunista escorrega na ironia e escancara o preconceito contra a Amazônia urbana
Written by Redação on 6 de maio de 2025
Por muito tempo, o Brasil olhou para sua região Norte com lentes embaçadas por estereótipos e ignorância. A recente coluna da escritora Giovanna Madalosso, publicada nesta segunda-feira (6) na Folha de S.Paulo, é apenas mais um exemplo desse vício de percepção. Ao comentar, com ironia, sobre a adaptação de um empreendimento em Belém para funcionar como hotel durante a COP30, Madalosso não só demonstrou desconhecimento sobre a realidade da cidade amazônica, como também reforçou visões preconceituosas que há muito deveriam ter sido superadas.
A autora abre seu texto com o título: “Estou doida para ir para um motel” — numa referência ao estabelecimento que será adaptado para suprir a demanda por leitos durante o evento climático. Logo em seguida, escreve que já imagina “o cientista do clima na cama redonda”. A tentativa de humor, aqui, desconsidera completamente o esforço de uma cidade que, mesmo sem estrutura hoteleira comparável à de metrópoles como São Paulo ou Rio de Janeiro, está mobilizada para receber um dos eventos mais importantes do planeta.
Não é a primeira vez que Giovanna Madalosso se envolve em polêmicas relacionadas a generalizações apressadas e ofensivas. Em 2023, ela foi amplamente criticada após publicar uma coluna em que associava, de forma leviana, a cidade de Pomerode, em Santa Catarina, ao nazismo. A acusação foi considerada uma fake news por especialistas e moradores locais, que apontaram o erro histórico e o preconceito embutido na afirmação. O episódio, assim como o recente texto sobre Belém, evidencia uma recorrente falta de sensibilidade da autora ao tratar de regiões que fogem ao eixo cultural dominante do país — sempre com um verniz de ironia que, na prática, apenas disfarça visões elitistas e estereotipadas.
A COP30 é, antes de tudo, uma oportunidade. Para Belém, para a Amazônia, para o Brasil. E também uma chance para o restante do país repensar suas lentes, escutar outras vozes e enxergar que o Norte não é uma caricatura — é uma região complexa, rica, potente. Talvez seja esse o maior desconforto para quem insiste em olhar o Brasil de cima para baixo.