Ciência alerta para a ocorrência de pandemias
Written by on 24 de novembro de 2022
Desde que a pandemia da Covid-19 se tornou uma realidade,
estudos relacionando a maior ocorrência de pandemias e o desmatamento começaram
a circular com maior frequência. Mas o que exatamente a ciência já sabe sobre
essa relação entre o desmatamento e as pandemias?
O professor de política e gestão ambiental da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da Universidade de São
Paulo (USP), Marcelo Marini Pereira de Souza, aponta que existe uma estreita
relação entre o desmatamento e a ocorrência de um desequilíbrio entre animais,
plantas e microrganismos pode provocar a ocorrência de pandemias, e a ciência
conhece bem essa relação. “As pandemias
já existem há milênios, tendo como origem áreas silvestres. Imagina um ambiente
natural em que se tem um equilíbrio, que é sempre dinâmico, e suponha-se que um
ser humano vai lá e faz uma alteração. Isso significa um desequilíbrio e esse
desequilíbrio vai fazer com que aquele ambiente tente voltar a se equilibrar,
mas nem sempre isso é rápido, às vezes demora e, nesse demorar, pode ser que
exista uma quantidade maior de animais, de uma população, até que tudo volte a
se equilibrar. Nessa população podem estar os microrganismos patogênicos, que
vão trazer algum tipo de doença”, explica. “Portanto, a ciência sabe muito bem
que o desmatamento traz, sim, epidemias e pandemias, em especial epidemias. E
essa relação se dá pelo desequilíbrio que esse desmatamento ocasiona e pela
proximidade do ser humano com essa ocorrência”.
Os impactos gerados por esse desequilíbrio podem ser ainda
mais preocupantes em biomas cuja biodiversidade é maior, como é o caso do
próprio Brasil. O fato de a Amazônia, por exemplo, abrigar espécies ainda
desconhecidas pode ser um agravante para os impactos gerados pelo desmatamento.
“O Brasil, como todo local nos trópicos, tem, evidentemente, uma biodiversidade
exuberante em decorrência das condições climáticas, de solo, da insolação. A
Floresta Amazônica, o Cerrado brasileiro, a Mata Atlântica, o Pantanal são de
uma exuberância absurda”, considera o professor. “A Amazônia, em especial, tem
muitas espécies desconhecidas. Ainda hoje se identificam primatas
desconhecidos, peixes, répteis desconhecidos na Amazônia, imagina os
microrganismos, que são de mais difícil detecção. Então, são ambientes muito
diversos, muito dinâmicos, que abrigam fauna e flora muito diversificada e, boa
parte, completamente desconhecida”.
Fica claro que, quando se desmata esses locais onde há uma
grande profusão de biodiversidade, se sujeita a população próxima, seja de
animais, seja de seres humanos, às consequências desse desequilíbrio, que pode
ser uma profusão de microrganismos que não fazem tão bem para o homem. “O
grande problema do desmatamento, seja ele onde for, é a perda de biodiversidade
e as mudanças climáticas já estão provocando uma enorme perda de
biodiversidade. A perda de biodiversidade, a partir da perda de habitats é um
grande problema ambiental que a ciência já comprova em trabalhos publicados”,
considera. “Está mais do que demonstrado que a floresta, do ponto de vista da
biodiversidade, a vegetação nativa é a grande questão. Você mantém a floresta,
que você tem a biodiversidade e tem todas as funções ambientais sendo
praticadas e, junto com elas, alguns benefícios econômicos ou serviços ambientais”.