Celebrando fé e cultura: o papel dos santos juninos
Written by on 4 de junho de 2024
A celebração de santos católicos no mês de junho é uma tradição trazida pelos colonizadores portugueses ao Brasil, ainda no século XVI. No período colonial, esses festejos eram chamados de “festas joaninas” devido à celebração do nascimento de São João Batista. Além dele, Santo Antônio (13 de junho), São Pedro e São Paulo (29 de junho) e São Marçal (30 de junho) são festejados neste mês.
“Essa religiosidade popular se dá porque em um Brasil completamente colonial, onde as cidades tinham ar provinciano, as quermesses e devoção por santos eram as únicas maneiras de socialização daquelas pessoas que ali moravam. A partir dessas festas e dos santos trazidos pra cá vão nascer as outras tradições de brincadeiras, danças e principalmente as comidas”, afirma Márcio Neco, historiador e cientista da religião.
As celebrações dos santos também eram diferentes no início das comemorações trazidas para solo brasileiro. Santo Antônio, por exemplo, era considerado como santo dos senhores de engenho durante o regime escravista brasileiro. Isso porque ele era tido como santo guerreiro, sendo invocado para protegê-los das fugas de escravos para os quilombos, além de ser considerado o protetor contra invasões francesas e holandesas.
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“Ele também tinha um caráter de guerreiro e protegia o Brasil das invasões, era o santo do senhor de engenho. Após a Vitória de Palmares, ele vai ganhar uma série de honrarias militares, vai ter chapéu, espada, bengala, algo bem diferente de hoje”, revela o historiador.
CASAMENTEIRO
É só após o período colonial que o Santo Antônio ganhou fama de santo casamenteiro. Atualmente a Igreja o considera como “santo das coisas perdidas”. “Nem sempre é sobre os objetos que estão perdidos, mas é para invocar ele para se achar novamente os valores pedidos, como o respeito, empatia, amor, que são sentimentos que podem ter ficado escondidos por um tempo”, disse.
Apesar de muito celebrado, a história de São João ainda é pouco difundida. Regente do mês de junho, João Batista é o primo de Jesus, considerado como precursor da missão de Cristo. Por ser seu seguidor fiel, João morreu combatendo as injustiças dos governantes e, segundo a tradição bíblica, tramam contra ele pedindo que a sua cabeça seja entregue em um prato.
“A escritura diz que não há homem maior que João Batista. Os portugueses trazem a tradição para cá da festa joanina. Ele representa a abdicação, renúncia, austeridade, mas sobretudo lembrar que João morreu combatendo a injustiça dos governantes. João nos leva a pensar nas injustiças, principalmente dos governantes e nas formas justas de governar”, explica Márcio Neco.
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São Pedro e São Paulo são os santos celebrados juntos no dia 29 de junho. Segundo a tradição católica, o primeiro era um pescador e representa todos aqueles que têm a pesca como sua principal fonte de renda. Considerado como o primeiro Papa, ele é o padroeiro das águas e dos navegantes e reúne muitos devotos. Paulo representa todos aqueles que abraçaram o cristianismo.
“São Pedro é quem está no comando da barca, essa que é a Igreja. Aqui no Brasil a sua devoção é por ser o padroeiro das águas e dos navegantes. Por isso, no país a fora terá muitas comemorações do santo nas águas. No calendário da igreja, Paulo é comemorado como discípulo que abraçou o cristianismo, de perseguidor ele passa a ser perseguido”, diz.
São Marçal é o menos conhecido entre os santos juninos, sendo comemorado no dia 30 de junho, fechando a quadra junina. Isso porque existem poucos registros do santo no mundo. “Conforme a tradição popular, para Santo Antônio, São João e São Pedro realizavam fogueiras com pau. Porém, as fogueiras de São Marçal têm uma diferença. Essas fogueiras são feitas de paneiro e serviam para afugentar maus espíritos, a negatividade e qualquer sentimento ruim”, esclarece Márcio Neco.
Saiba mais
Fogueiras
A fogueira é um dos grandes símbolos da festa junina. A tradição remonta ao dia do nascimento de São João, quando sua mãe Isabel acendeu uma fogueira para comunicar o nascimento do menino, que tinha vindo ao mundo em uma região montanhosa e de pouco acesso. A tradição popular criou para cada santo um tipo específico de fogueira, com os seus respectivos significados. As que são feitas para Santo Antônio são quadradas, enquanto para São João são feitas com base cônica. “Santo Antônio, o santo casamenteiro, tem uma fogueira quadrada muito por se considerar que o casamento é aquilo que prende umas pessoas às outras. São João tem sua fogueira com a base redonda para que depois seja construída em forma de cone devido a questão da maternidade”, disse o historiador. São Pedro tem a fogueira na forma triangular simbolizando a Santíssima Trindade. Por fim, para São Marçal não sobraram paus para armar a fogueira, o que fez com que os populares optassem por outro material. “São Pedro está ligado à questão trinitária, Pai, Filho e Espírito Santo. Já São Marçal, conta a tradição popular, não sobrou quase nada para fazer sua fogueira e daí surge a tradição de fazer com palhas e paneiros”, conclui Mário Neco.
COMIDAS
As comidas também seguem a mesma diferenciação. Enquanto para os quatro primeiros santos o mingau tradicional é feito de milho, para o último santo do mês junino o alimento é feito de banana com tapioca.