Belém, 407 anos: as cidades dos mortos na cidade dos vivos

Publicado em 12 de janeiro de 2023

A cidade de Belém (PA) é marcada pela riqueza de seus
patrimônios culturais e imateriais, das mais diferentes temporalidades e
peculiaridades. Pensar a cidade dos vivos é também considerar as cidades dos
mortos da capital como parte fundamental da história e memória da cidade. Compondo
grande parte das narrativas, imaginários e vivências dos moradores, em seus
registros, Belém é e já foi casa de 14 cemitérios que acompanharam todos os
seus processos históricos e tem marcado em lápides, fachadas e santos
milagreiros parte desse percurso.

O Cemitério Nossa Senhora da Soledade (1850), Cemitério
Santa Izabel (1870), Cemitério do Tucunduba (1887), Necrópole Israelita – 1º
Cemitério Judeu (1842), 2º Cemitério Judeu (1881), Cemitério da Ordem Terceira
de São Francisco (1885), Cemitério São Jorge (1959), Cemitério Inglês (1815), Cemitério
do Tapanã (1996), Cemitério Parque das Palmeiras (1994), Cemitério Parque
Nazaré (2001), Cemitério Parque da Eternidade (2001), Cemitério Recanto Saudade
Gera (1982) e Cemitério Público de Icoaraci são as necrópoles que um dia já
foram ativas e que hoje são museus a céu aberto, além das que continuam em plena
atividade.

O Cemitério de Nossa Senhora da Soledade, situado no bairro
Batista Campos, foi fundado em 1850 e seus sepultamentos foram resultado das
crises epidêmicas que a capital vivia, como cólera e febre amarela. Com 30.000
sepultamentos, encerrou suas atividades em 1880, não deixando de ser berço do
ritual e devoção das almas, abrindo seus portões às segundas-feiras para os
visitantes. Tombado em 1964 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (IPHAN), possui uma área de 22.500 m² com uma variedade de mausoléus com
características dos padrões estéticos oitocentistas. Recentemente passou por um
Projeto de Requalificação iniciado em 2021 em cooperação com o Laboratório de
Conservação, Restauração e Reabilitação (LACORE) da UFPA, com parte do projeto
entregue em janeiro de 2023 em homenagem aos 407 anos de Belém, reverenciando o
potencial turístico e histórico que o espaço possui na cidade.

 











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O
Cemitério Santa Izabel, de caráter perpétuo assim como o Cemitério da Soledade,
foi fundado em 1870 para dar continuidade aos sepultamentos encerrados no cemitério
anterior, bem como aos sepultamentos dos internos do Leprosário do Tucunduba.
Localizado no bairro do Guamá e em uso desde 1870, possui significativa riqueza de detalhes em sua arquitetura e nos seus,
aproximadamente, 45.000 túmulos. Espaço aberto ao culto dos Santos
Populares mais conhecidos da cidade como Josephina Conte – a “mulher do táxi”,
Camilo Salgado e Severa Romana, condensa parte essencial do imaginário
belenense e de prática religiosa.

 











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A importância da materialidade
física e simbólica também se aplica à Necrópole Israelita, com logradouro em
frente aos portões do Cemitério da Soledade no bairro Batista Campos, sendo o primeiro
cemitério judeu do país construído em 1842 e funcionando até 1915, informações
estampadas em sua fachada. Sua primeira sepultura com data confirmada é a do
rabino Mordecai Hacohen z’l. Falecido em 1848, provavelmente é um dos primeiros
rabinos investido no cargo, vindo com a imigração dos judeus do Marrocos e
estabelecendo a primeira sinagoga brasileira, a Eshel Avraham (Bosque de
Abraão) em datas não precisas, mostrando uma interação entre judeus e
não-judeus de longa data, segundo José Roitberg (ABEC).

Sem registros possíveis por ter sido
desativado junto do Hospício dos Lásaros do Tucunduba, primeiro leprosário da
região amazônica, o Cemitério do Tucunduba foi fundado com o intuito de sepultar
os corpos dos internos do leprosário, muitas vezes acometidos pelas epidemias da
época e doenças venéreas, especialmente a lepra, mas também por suas condições
enquanto indivíduos, constituindo também um quadro de internos que eram
escravos e indesejados socialmente pelas políticas higienistas na Belém da Bélle-Époque,
fechado em 1887.

Outros cemitérios mais recentes na
capital como o Cemitério do Tapanã (1996), de caráter rotativo, Cemitério de
Icoaraci e as necrópoles privadas Cemitério Parque das Palmeiras (1994),
Cemitério Parque Nazaré (2001), Cemitério Parque da Eternidade (2001) e Cemitério
Recanto Saudade Gera (1982) também constituem parte histórica da capital,
apresentando novas maneiras de construção como cemitérios parques, visando
também enterros que impactem cada vez menos o solo e permitindo a
ressignificação tabu dos cemitérios, fazendo desses espaços um ambiente
convidativo à outras práticas que não somente as do luto.

Elisa Gonçalves Rodrigues é antropóloga, mestranda em Antropologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia (PPGSA), na Universidade Federal do Pará (UFPA) e graduada em Ciências Sociais (UFPA). É pesquisadora associada da Associação Brasileira de Estudos Cemiteriais (ABEC). E-mail para contato:elisagoncalves00@gmail.com


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