Advogado comenta particularidade sobre o Direito na Amazônia
Written by on 30 de outubro de 2022
Eleito para a presidência do Conselho Federal da OAB por 77 votos dos 81 conselheiros federais da entidade, o criminalista amazonense José Alberto Simonetti, 43 anos, desde 2001 na carreira, defende uma gestão mais voltada para os interesses da classe e não exibe um perfil parecido com seu antecessor, Felipe Santa Cruz, que travou uma longa queda de braço com o presidente Jair Bolsonaro até 2021.
É a primeira vez que um representante da seccional Amazonas fica à frente do CFOAB. Alberto vai presidir a diretoria do Conselho Federal no Triênio 2022 a 2025. Natural de Manaus, Simonetti é advogado criminalista. Tem pós-graduação em Direito Penal e em Processo Penal pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
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Está em seu quarto mandato como conselheiro federal da OAB pelo Amazonas e, em novembro de 2021, foi reeleito para começar o quinto mandato em 2022. Desempenhou funções relevantes no sistema OAB, como diretor-geral da Escola Nacional da Advocacia, corregedor-geral-adjunto, ouvidor-geral do sistema OAB e secretário-geral do Conselho Federal. Ele também atuou, dentro da OAB Nacional, pela aprovação do projeto que se tornaria a Lei de Abuso de Autoridade.
Na quinta-feira (27) esteve em Belém para participar da solenidade de 90 anos da OAB Pará, ocasião em que deu uma entrevista exclusiva ao DIÁRIO DO PARÁ:
P É a primeira vez que um representante da seccional da OAB do Amazonas assume a presidência do
CFOAB. Como você vê a advocacia na Amazônia e quais os principais desafios para a classe numa região como a nossa?
R A região Norte e a Amazônia possuem particularidades que não existem em outras regiões do Brasil, como a enorme extensão territorial e o modal de transporte, feito pelos rios, que possuem períodos de cheias e secas, o que dificulta sobremaneira o acesso da advocacia e sua conexão com os grandes centros como Manaus e Belém. E isso se repete nos demais estados da região. O acesso aos serviços é bem complicado. Por essa razão implantamos um Plano Nacional de Interiorização da Advocacia que tem a meta de levar a todas as regiões do país todos os serviços à disposição da advocacia. Não podemos aceitar que no Brasil existam advogados de primeira e segunda classe. Todos são advogados regidos pelo mesmo estatuto, com os mesmos deveres e obrigações.
P Ao todo, o País tem cerca de 1,4 milhão de profissionais registrados. Segundo o CFOAB, 50,4% dos advogados do Brasil estão no interior dos estados, enquanto 49,6% estão nas capitais, segundo o plano de interiorização. Só que aqui no Pará ocorre o inverso: 65,4% dos advogados do Pará estão inscritos em Belém, enquanto 34,59% estão no interior…
R Essa é uma peculiaridade do Estado do Pará, mas isso não quer dizer que a advocacia interiorana não mereça a mesma atenção… A Ideia do Plano de Interiorização da Advocacia é justamente trazer todos para um plano só, levando as mesmas possibilidades tanto para quem atua na capital como no interior
P A OAB vem conquistando decisões favoráveis no combate ao exercício irregular da advocacia e contra a captação ilegal de clientela por parte de sites e aplicativos que estimulam litigância. A Justiça Federal vem determinando que plataformas se abstenham de prestar serviços jurídicos por meio de qualquer meio, inclusive por captação de clientes e de publicidade.
R Essa é uma realidade combatida pelo Conselho Federal há muito tempo e já existem várias decisões judiciais que combatem a chamada mercantilização da advocacia. Os atos da advocacia são prerrogativas únicas que apenas os advogados e advogadas podem exercer. Ocorre que existem empresas que comercializam nichos de mercado que estimulam a captação e direcionam para um ou outro profissional, o que caracteriza a captação ilegal e estamos combatendo como nunca esse tipo de prática.
P A Câmara Municipal de Tubarão, em Santa Catarina, aprovou Lei, por unanimidade, que torna delito funcional a violação de prerrogativas da advocacia por servidor público. Como o conselho federal vem tratando essa questão?
R Esse não é o primeiro município brasileiro. Florianópolis foi o primeiro município e implementar essa Lei no país. Agora todo e qualquer servidor público que violar os direitos da advocacia também será punido. Nossa ideia é levar essa diretriz para o Conselho Nacional, aprovando uma lei com validade em todo o território nacional para proteger os advogados em todo o país.
P Várias ONGs e institutos protocolaram um pedido no CFOAB para que nas formações das listas sêxtuplas pela OAB que são encaminhadas para as vagas de desembargador no 5º Constitucional obedeçam a um critério paritário de 50% das vagas para mulheres e 50% para homens, além de 30% de reserva para cotas raciais. Esses critérios já são respeitados nas disputas eleitorais na própria OAB. Como O CFOAB se posiciona a respeito desse pleito tendo em vista que várias seccionais pelo país já adotaram esses critérios?
R Temos que respeitar a independência das seccionais. Cada uma tem a liberdade de encaminhar as suas listas sêxtuplas referentes ao 5º Constitucional da forma que avaliam ser a melhor. Essa paridade de gênero foi estartada pelo Conselho Federal nas últimas eleições, com inclusão e cotas raciais e muitas seccionais querem fazer um paralelo na formação das listas para o 5º. Esse é um tema que, em algum momento, será levado para o pleno do CFOAB, que é o órgão máximo da entidade para deliberação. A decisão da maioria do pleno é soberana e será acatada por mim.
P Você, junto com o ex-presidente Felipe Santa Cruz, foi fortemente atacado durante a pandemia no Brasil por bolsonaristas de extrema direita. Ainda assim, diz não ver risco de ruptura da democracia no país apesar da grande tensão política que a sociedade brasileira vive nas últimas semanas às vésperas do segundo turno. Em que você se baseia para afirmar isso?
R O Brasil tem uma democracia extremamente consolidada. O brasileiro sabe muito bem o que representa uma ruptura democrática. Realmente a polarização está muito acentuada neste pleito, mas no domingo à noite, se Deus permitir, teremos o resultado emanado pelo povo e quem for eleito pelo povo vai tomar posse em janeiro de 2023, como ditam as normativas democráticas. A OAB estará sempre vigilante e a cada desafio posto, com a sua independência, saberá como agir.
P Como o senhor avalia hoje o papel da mulher na advocacia no Brasil?
R De extrema relevância… Hoje as mulheres são mais da metade do total e advogados registrados no CFOAB e nos trouxeram nessa gestão um desafio que há muito tempo deveria ter sido enfrentado, no que se refere ao enfrentamento dos casos de violência e assédio contra a mulher advogada, que é alvo de uma forte campanha no conselho unindo todas as seccionais e demais órgãos do judiciário brasileiro.