Caos no porto de Vila do Conde deve durar até outubro

Written by on 15 de setembro de 2022

Problemas de gestão aliados à falta de comunicação crônica e de investimentos efetivos são os principais problemas enfrentados por despachantes, transportadores e empresas de importação e exportação que operam no porto de Vila do Conde, em Barcarena, que vive um caos administrativo nas últimas semanas. A responsável é a empresa Santos Brasil, que há 15 anos arrendou a movimentação e contêineres no porto.

Cerca de 60 representantes dessas categorias participaram, na tarde de ontem (14), de uma reunião de trabalho convocada pela Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa) na sede da entidade, em Belém. As categorias reclamaram, principalmente, da demora excessiva na liberação e cargas que vem deixando inúmeros importadores e exportadores na mão.

Empresas de grande porte deixaram claro na reunião que podem suspender suas operações de importação e exportação do porto – o maior em operação no Pará – e transferi-los para o Porto de Santana, em Macapá, por conta dos inúmeros prejuízos econômicos que vêm sofrendo nos últimos meses em razão dos problemas, o que acarretaria prejuízos consideráveis tanto à economia de Barcarena como a do Estado no que se refere à arrecadação e impostos. Após ouvir as dezenas de demandas e reclamações, Roberto Teller, Diretor de Operações da Santos Brasil, garantiu que a situação estará normalizada até o final do mês de outubro.

Renato Jacques, proprietário de uma empresa especialista em comércio exterior e com 25 anos de atuação no mercado, afirma que a Santos Brasil não se preparou para o crescimento da Região Norte e em especial do Pará. “A demanda de importação e exportação cresceu muito em nosso estado e eles não tiveram demanda nem estrutura para atender essa realidade, o que acabou colapsando o porto… Hoje existem dezenas de contêineres parados que não podemos movimentar por falta de maquinário”, lamenta.

A empresa importadora tem um prazo de 15 dias para desembaraçar a carga que chega ao porto nos órgãos e devolver o contêiner vazio para o armador (dono do navio). “Se paga de US$ 150 a US$ 200 de taxa ao dia a partir do 15º dia quando essa operação não é realizada. Hoje muitos contêineres passam 10 dias além desse prazo, gerando um prejuízo grande”.

Jacques lembra que o comércio paraense hoje é movido pela importação, que cresce muito em datas comemorativas. “Cargas para Dia das Mães e Natal, por exemplo, chegam com 2 meses de antecedência em média, e com esse problema gerado pela Santos Brasil isso não vem sendo cumprido. Para você ter uma ideia, temos cargas encomendadas para o Dia dos Pais que continuam encalhadas no porto e que não vão servir sequer para a mesma data para o ano que vem, O prejuízo é incalculável…”, contabiliza.

ATENDIMENTO

Quando portos apresentam dificuldade de logística a tendência é que importadores e exportadores migrem para outros modais e para outros portos vizinhos. “Isso está em vias de ocorrer aqui. Muitos já cogitam em mudar suas operações para o porto do Amapá. Por ano a minha empresa opera 600 contêineres ao custo de R$ 55 mil cada de arrecadação de ICMS para o Estado do Pará. Seria uma perda grande para o Pará, não ?”, coloca.

Ismael Matias Jr., proprietário da transportadora norte Brasil Logística, disse que o grande gargalo hoje em Vila do Conde é o descarregamento das cargas, onde os motoristas das empresas passam horas a fio em filas esperando atendimento. “Essa morosidade acarreta um atraso grande na entrega dos produtos ao cliente final, extrapolando todos os prazos e gerando um efeito cascata. Quando o porto não cumpre o agendamento para o descarregamento, gera um atraso na entrega e outro agendamento precisa ser marcado, prejudicando os clientes”.

Ele diz que como não há cumprimento os prazos de carregamentos e de destinação final das cargas, os clientes acarretam muitos prejuízos pois não conseguem colocar seus produtos no comércio. “Muitos vêm substituindo o modal fluvial pelo rodoviário e se não há carga para transportar, a empresa fica no prejuízo e o resultado final é demissão de funcionários e até fechar as portas”.

Após o agendamento, a carga deveria ser liberada num prazo de duas horas, mas é recorrente que motoristas fiquem 14 e até 24 horas parados no porto. “Um motorista meu ficou 32 horas esperando a carga. Isso gera um passivo trabalhista enorme que eu preciso assumir para atender meu cliente final. E quem paga esse prejuízo?”, indaga.

José Maria Mendonça, vice-presidente da Fiepa e presidente do Centro das Indústrias do Pará (CIP) avalia que a reunião foi produtiva onde todos puderam se manifestar e expor seus pontos de vistas. “Agora esperamos para que a situação em Vila do Conde se normalize e os interessados se apressem na busca de uma solução, pois as operações no porto precisam voltar à normalidade o mais rápido possível”, pondera.


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