Amazônia não está conseguindo se regenerar, diz pesquisador

Publicado em 22 de setembro de 2024

A floresta amazônica não está conseguindo se regenerar. O aumento de gás carbônico (CO2) emitido na atmosfera está bloqueando a força regenerativa da maior floresta tropical do planeta. O alerta foi dado na semana passada pelo doutor e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Carlos Alberto Quesada, durante o Seminário Internacional sobre a Amazônia e as Florestas Tropicais, que integra as iniciativas do G20.

O cientista dirige a estação de pesquisa teuto-brasileira Atto – Observatório da Torre Alta da Amazônia – há mais de seis anos, onde realiza pesquisas sobre as interações entre as mudanças climáticas e a floresta amazônica. O projeto monitora como a floresta reage ao aumento dos gases e se terá capacidade de se regenerar.

No último relatório divulgado, o Inpa mostra que a concentração de material particulado na atmosfera da Amazônia aumentou até 80 vezes, atingindo o pico de concentração entre os dias 27 e 30 de agosto de 2024. O motivo desse aumento nas concentrações é a fumaça de queimadas que se espalha por toda a Amazônia.

O material particulado concentra um conjunto de poluentes constituídos de poeiras, fumaças e todo tipo de material sólido e líquido que se mantém suspenso na atmosfera por causa de seu pequeno tamanho. Os efeitos para a saúde podem ser fatais: os efeitos do material particulado sobre a saúde incluem e incluem câncer respiratório, arteriosclerose, inflamação de pulmão, agravamento de sintomas de asma, aumento de internações hospitalares e podem levar à morte.

Alberto Quesada explicou que tem monitorado a floresta com torres que formam anéis de 30 m de diâmetro no meio da floresta e que ali fazem experimentos de como as árvores reagem a um aumento de CO2, mas que o painel mostra uma diminuição gradativa das funções. “A floresta está perdendo sua força”, disse o pesquisador, durante o Seminário organizado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).

Ele reforça que as mudanças climáticas são provocadas pelos humanos. “É resultado do que nós humanos estamos causando sobre a atmosfera, e que está nos atingindo. E não vai atingir as pessoas de forma igual. Se você é uma pessoa que tem recursos, você vai sobreviver às mudanças climáticas, pois ela vai atingir principalmente as pessoas mais frágeis e as pessoas que não causaram as mudanças climáticas”, enfatizou o pesquisador. Quesada afirmou que as populações mais pobres não são as causadoras dos problemas e que se os países mais ricos não se unirem os seres humanos “vão ser extintos”.

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“A responsabilidade de liderar esse processo, de tentar um modo de vida mais justo, um modo de vida que inclua esses mais frágeis e que ao mesmo tempo traga políticas públicas voltadas para resolver o problema que nós criamos. Se esses 20 países (G20) não puderem fazer isso, eu me pergunto quem vai fazer e a gente provavelmente vai caminhar de mãos dadas para as extinções em massa. Quem tem obrigação de resolver isso é quem criou o problema primeiro”, ressaltou Alberto Quesada.



COMPLEXO ATTO

O complexo Atto, dirigido por Carlos Alberto Quesada, está instalado no meio da floresta, a cerca de 150 quilômetros ao norte de Manaus (AM), na Estação Científica de Uatumã,uma área de reserva e com atmosfera intocada, distante da rota de cidades ou de atividades econômicas. Ele é gerido em conjunto por cientistas da Alemanha e do Brasil com o objetivo de registrar continuamente dados meteorológicos, químicos e biológicos, como a concentração de gases de efeito estufa. Com a ajuda desses dados, esperamos obter novas perspectivas sobre como a Amazônia interage com a atmosfera acima e o solo abaixo.

O complexo é composto por três torres. A torre principal, com 325 metros de altura, está instrumentada com sensores e capta a circulação de partículas em uma zona de influência acima de 400 quilômetros. O complexo registra continuamente dados meteorológicos, químicos e biológicos para compreender melhor os processos complexos da maior floresta tropical do mundo.

“É importante entender que na torre Atto as concentrações de vários poluentes aumentam bastante na estação seca comparada a estação chuvosa. O motivo desse aumento nas concentrações é a fumaça de queimadas que se espalha por toda a Amazônia. Nos arredores da torre Atto não costumam ocorrer grandes eventos de queimada, mas a torre capta a fumaça que vem de outras partes da Amazônia”, explica a pesquisadora do Atto, especialista em aerossóis e transporte de longa distância, Luciana Rizzo.

Segundo a pesquisadora, a concentração de material particulado fino, que são as partículas em suspensão na atmosfera – denominado tecnicamente de MP2.5, aumenta todos os anos na estação seca. Enquanto na época das chuvas a concentração em média é de 1,0 ug/m3 (microgramas por metro cúbico), na estação seca varia entre 5,0 e 7,0 ug/m3.

Segundo a pesquisadora, em agosto foram registrados picos de concentrações médias de até 60 vezes mais alto do observado na estação chuvosa e ao menos dez vezes mais alto do que a média nas estações secas. Entre 27 e 30 do mesmo mês houve novos registros de concentrações, com média diária de 80ug/m3.

O monitoramento de MP 2.5 é realizado por equipamentos instalados no alto da torre. A coleta de dados é realizada a cada 30 minutos e utiliza métodos de referência recomendados por agências ambientais internacionais. Os dados são registrados automaticamente. Outros poluentes também são monitorados.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o MP2.5 seja inferior a 15 ug/m3, em médias de 24 horas. Altas concentrações desse material particulado podem agravar ou aumentar o risco de desenvolver doenças cardiorrespiratórias. O impacto pode ser maior em áreas urbanas, onde a fumaça das queimadas se soma às emissões de veículos e de outras atividades. Para a floresta, a concentração desse material pode ter impactos sobre os ecossistemas, alterando propriedades das nuvens e a quantidade de luz solar que atinge a superfície da Terra.

O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) é um instituto público vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia. É centro de excelência, e referência internacional, em pesquisas de ciências espaciais e atmosféricas, engenharia espacial, meteorologia, observação da Terra por imagens de satélite e estudos de mudanças climáticas.




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