SUS deu R$ 30 milhões para Daniel usar em hospital fechado

Publicado em 13 de abril de 2024

Pelo menos R$ 20 milhões que o Ministério da Saúde repassou à Prefeitura de Ananindeua estariam em local incerto e não sabido. Segundo a Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará (Sespa), o dinheiro foi repassado à Prefeitura para custear leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e de RUE (Retaguarda de Urgência e Emergência) do Hospital Camilo Salgado, em 2021 e 2022.

Só que o hospital não prestaria serviços ao Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2021. Mesmo assim, foi mantido, pela Prefeitura, nos pedidos de verbas que ela enviou ao Ministério da Saúde, para o custeio de leitos hospitalares. No portal municipal da Transparência, o DIÁRIO não encontrou pagamentos da Prefeitura, nesse valor, ao Camilo Salgado, que se encontra até fechado, devido à uma tentativa de calote milionário, pelo prefeito de Ananindeua, Daniel Barbosa Santos.

Como você leu no DIÁRIO do último dia 30, o prefeito desapropriou o Camilo Salgado em outubro de 2021, com a promessa de construir ali o “primeiro hospital público” da cidade. Só que, até hoje, a Prefeitura ainda deve R$ 4 milhões aos donos do hospital. Pelo acordo/contrato, eles receberiam R$ 14 milhões de indenização, devido à desapropriação. As parcelas do pagamento deveriam ser quitadas mensalmente, em 2022, o que não ocorreu.

Conteúdos relacionados:

Educadores de Ananindeua trabalham em situação precáriaPrefeitura de Ananindeua faz limpeza, mas deixa lixo na ruaPrefeitura de Ananindeua dá calote em donos de hospital

Por isso, eles entraram na Justiça, pedindo a devolução do imóvel, o pagamento da dívida (R$ 4,335 milhões, corrigidos) e uma indenização por danos morais

(R$ 1 milhão). Segundo eles, o atraso dos pagamentos, que acabaram suspensos no final do ano passado, impediu a reabertura do Camilo Salgado em outro local.

Assim, o hospital permanece fechado desde o final de 2021. No entanto, mesmo antes de seu fechamento, o Camilo Salgado, aparentemente, já não realizava serviços para o SUS. Segundo a Sespa, não há relatórios da produção desses serviços, pelo hospital, nos anos de 2021 e 2022, nos sistemas de Informação Ambulatorial (SIA) e de Informação Hospitalar Descentralizado (SIHD), do Datasus, o departamento de Informática do SUS.

CONTAS

Por isso, o Ministério da Saúde está pedindo a prestação de contas desse dinheiro, no prazo de seis meses, o que poderá resultar até na obrigatoriedade de devolução desses recursos. De acordo com o SIA e o SIHD, informa a Sespa, a Prefeitura recebeu cerca de R$ 10 milhões por ano, em 2021 e 2022, para o custeio de leitos de UTI e RUE do Camilo Salgado. E, por incrível que pareça, recebeu recursos até mesmo no ano passado, o que faz com que o dinheiro “desaparecido” possa atingir até R$ 29,5 milhões.

No portal da Transparência, os repasses da Prefeitura ao Camilo Salgado, de 2021 a 2023, não chegam nem a 1% desse valor. Em 2021, a Prefeitura “empenhou” em favor do hospital (se comprometeu, formalmente, a pagar a ele) R$ 1,175 milhão, por serviços ambulatoriais e hospitalares, com dinheiro do Fundo Municipal de Saúde (FMS), que é para onde vai o dinheiro do SUS. Só que a maioria esmagadora desses “empenhos”

(R$ 998 mil) foi anulada, em dezembro daquele ano. Assim, o que o Camilo Salgado acabou recebendo foram apenas R$ 177.787,35. Além disso, todos esses “empenhos” seriam pagamentos de serviços realizados entre novembro de 2020 e abril de 2021 (esse último, totalizando apenas R$ 4.532,95). O próprio valor realmente pago foi por serviços de dezembro de 2020.

Já em 2022, os únicos empenhos para o hospital foram para o pagamento da indenização pela desapropriação. A entrada, de R$ 4 milhões, foi paga em 11 de fevereiro. Outras quatro parcelas, de R$ 1 milhão cada, foram pagas em abril, maio, julho e dezembro, o que resultou em um total de R$ 8 milhões.

Em 2023, os únicos empenhos para o Camilo Salgado foram, também, para o pagamento de mais duas parcelas dessa indenização, em junho e em dezembro. Não há, nem em 2022 nem em 2023, qualquer menção a serviços ambulatoriais e hospitalares que o Camilo Salgado teria realizado para o SUS. Então, onde é que foram parar os R$ 29,5 milhões que a Prefeitura teria recebido do Ministério da Saúde, para pagamentos de serviços daquele hospital? Por que a Prefeitura não informou o Ministério da Saúde que o hospital estava fechado? Ou por que não devolveu, de imediato, esses recursos?

Quer ler mais notícias do Pará? Acesse nosso canal no Whatsapp 

O “sumiço” desse dinheiro é mais um capítulo da enrolada desapropriação do Camilo Salgado pelo prefeito Daniel Barbosa Santos, que poderá provocar um prejuízo de R$ 2 milhões aos cofres públicos, devido à indenização de R$ 1 milhão, por danos morais, que está sendo pedida, judicialmente, pelos proprietários; as “custas processuais” (o preço dos serviços da Justiça, ao longo do processo); e os 20% de honorários dos advogados sobre o valor em disputa, que é de R$ 5,335 milhões. Tudo, é claro, pago pelo contribuinte, e não pelo prefeito, que foi ou é dono de um hospital em Ananindeua, para o qual, até onde se sabe, não há atrasos de pagamentos.

devolução

Mas há uma possibilidade ainda pior: a de que a Prefeitura também acabe tendo de devolver o hospital aos proprietários, mesmo que o processo se estenda por anos. E aí, o dinheiro público que está sendo colocado ali, para transformar o Camilo Salgado no “primeiro hospital público” de Ananindeua, terá sido jogado fora. Um abacaxi que o prefeito Daniel Barbosa Santos deixará para a população e as futuras administrações da cidade, já que o seu mandato acabará neste ano.

O processo tem o número 0806165-11.2024.8.14.0006, tramita na Vara da Fazenda Pública de Ananindeua e foi ajuizado, pelos proprietários do Camilo Salgado, no último 20 de março. Mas, além dele, há outra dor de cabeça para o prefeito: os questionamentos a respeito do valor da indenização pela desapropriação do Camilo Salgado e a própria urgência desse “primeiro hospital público” da cidade.

É que o prefeito proclama essa urgência, mas não revela os estudos em que se baseia. E nem os estudos que levaram à essa indenização de R$ 14 milhões.

Em agosto de 2022, o Ministério Público do Pará (MPPA) abriu um Procedimento Administrativo sobre o caso. Para “acompanhar a legalidade e conveniência” dessa desapropriação de R$ 14 milhões, para a construção do “primeiro hospital público” da cidade. O MPPA quer saber se isso não lesou os cofres públicos. Quer apurar tanto a justificativa da desapropriação, quanto os critérios que levaram a esse valor.

A investigação tem o número SIMP 000130-200/2022. A última movimentação do caso é do último 3 de abril: o promotor de Justiça Laércio Guilhermino de Abreu, que está respondendo pela 2ª Promotoria de Direitos Constitucionais, Defesa do Patrimônio Público e da Moralidade Administrativa de Ananindeua, enviou ofício ao Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci). Ele solicitou a realização de uma perícia ou auditoria, para determinar se o valor dessa desapropriação foi compatível com os preços do mercado, na época.


Faixa atual

Título

Artista

AO VIVO!

Bom Dia Alegria

08:00 11:00

AO VIVO!

Bom Dia Alegria

08:00 11:00