Sustentabilidade está atrelada à responsabilidade social
Written by on 30 de novembro de 2023
Cobrar da população que se adeque ao mundo sustentável requer antes de tudo reflexão e combate à pobreza. Ao menos essa é a tese que a maioria dos especialistas no assunto defende com argumentos coerentes, que se resumem ao que o professor Bernardo Mendonça Nóbrega, especialista em direito tributário pelo IBET, mestre em Direito e advogado considera: ‘Em um país afligido pela pobreza como o Brasil, entre a sobrevivência pessoal e proteção ambiental, a primeira opção sempre irá vencer’.
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Na prática, isso significa economizar ao máximo para ter o mínimo necessário para sobreviver. Quem com um salário mínimo para se manter vai trocar a escova de dentes de plástico por uma feita com madeira de reflorestamento que custa cinco vezes mais? São exemplos como esse que mostram que a melhor distribuição de renda, assim como o investimento na educação precisam sair do discurso para a prática “pra ontem”, se quisermos um mundo mais justo e em harmonia com o meio ambiente. Na entrevista a seguir, Bernardo Nóbrega defende a melhor maneira de se fazer desenvolvimento sustentável com responsabilidade. Confira:
P O que significa desenvolvimento sustentável?
R Desenvolvimento sustentável é um conceito que evoluiu ao longo do tempo. Antes remetia somente a desenvolvimento econômico que protegesse o meio ambiente. Hoje é formado por um tripé – desenvolvimento econômico, proteção ambiental e desenvolvimento social. Então, desenvolvimento sustentável é aquele que gera riqueza de forma harmoniosa, junto à natureza, resultando em melhoramento da qualidade de vida, redução de pobreza sempre respeitando os espaços naturais.
P Como conseguir isso?
R Não tem uma única forma de fazer. Precisamos, em linhas gerais, reduzir a pobreza garantindo o acesso à renda de maneira que não destrua permanentemente o meio ambiente. Então, qualquer medida que trabalhe dentro desse aspecto se enquadra como meio de garantir desenvolvimento sustentável.
P Quais os nichos dentro da Amazônia que podem ser desenvolvidos na economia verde?
R Todo nicho pode ser trabalhado de forma mais sustentável, desde as mais popularmente degradantes, como as menos. Isso inclui até extração de madeira, mineração, agropecuária e afins. Até porque sustentabilidade não é sinônimo de proteção ambiental pura.
P Quais os desafios da região para explorar a floresta em pé?
R Temos vários, mas vou apontar alguns significantes. Primeiro é conseguir com que a floresta em pé seja lucrativa e gere renda equivalente ou comparável ao que se ganha com a terra nua. A destruição da floresta não é feita somente por destruir, ela é feita para gerar emprego. Então, precisamos difundir a possibilidade de gerar renda com a floresta em pé, criando uma matriz econômica forte e que sustente financeiramente a região. Deixo claro que não estou afirmando que a floresta em pé não seja financeiramente rentável, mas exige investimentos, pesquisa e uma proatividade tanto do setor privado como do setor público. Outro ponto envolve a um problema clássico do país que afeta todo o setor produtivo: o custo Brasil. Dificuldade de transporte de mercadoria, alto custo de insumos, alto custo na obtenção de financiamento, burocracia na legalização de produtos e formação de empresas. Todos esses problemas dificultam a sobrevivência de atividades econômicas na Amazônia, tanto as tidas como sustentáveis como as tradicionais.
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P Que avaliação o senhor faz da realização da COP 30 no Pará quanto ao legado?
R Podemos apontar diversos legados, mas acredito que o principal é que irá colocar o Pará em evidência internacional, sendo a chance perfeita para mostrarmos nossos produtos e atrativos, podendo atrair investimentos e parceiros nacionais e internacionais para o desenvolvimento local.
P Quais os desafios da sustentabilidade nos setores econômicos?
R Acredito que o principal desafio é incluir a sustentabilidade sem prejuízo financeiro para as empresas e sem repassar o custo para os clientes. Para compreender isso precisamos entender que a sustentabilidade, em vários casos, aumenta o custo de produção e, consequentemente, o custo do produto. Isso acontece quando a sustentabilidade é incluída através de novas tecnologias, cuja implementação pode ter um elevado custo inicial, ou uso de matérias primas diferenciadas, que podem ter um custo maior. Podemos ver isso no supermercado. Muitas vezes, produtos “orgânicos”, “verdes”, ou outros rótulos assim, acabam custando mais caro que seu equivalente “normal”. E aproveito para apontar que precisamos excluir disso produtos que usam o termo apenas para poder aumentar o valor, sem nenhum tipo de investimento ou mudança sustentável na sua linha produtiva.
P Por que a sustentabilidade ainda é vista como luxo?
R A sustentabilidade é vista como um luxo porque, em muitos casos, ela traz consigo um custo mais elevado e, em um país afligido pela pobreza como o Brasil, entre a sobrevivência pessoal e proteção ambiental, a primeira opção sempre irá vencer. O brasileiro médio não tem como pagar caro por produtos orgânicos plantados sem defensivos agrícolas, ou adquirir uma escova de dente feita de bambu, ou adquirir um carro elétrico, ou instalar painéis solares em sua residência. Quando pensamos em condutas que devastam o meio ambiente, muitas vezes elas são incentivadas ou auxiliadas por pobreza. Vamos usar por exemplo o desmatamento ou garimpo ilegal. Não é o dono do negócio que está com a motosserra ou o mercúrio na mão. É alguém que está ganhando centavos para cada real que o dono da operação ganha. Acampa e come carne de caça. Ainda, muito dos hábitos sustentáveis que praticamos não é feito por vontade, mas sim necessidade, como, por exemplo, andar de transporte público ou bicicleta, costurar uma roupa rasgada por não ter meios de trocar por uma nova.
P Como mudar essa realidade?
R Várias formas, mas a principal, na minha opinião, é melhorar a qualidade de vida das pessoas com combate à pobreza. Desenvolvimento sustentável requer pensamento a longa distância. E quem está lutando para almoçar não pode se dar esse luxo.