Meta sustentável: acesso à energia limpa e renovável

Written by on 16 de novembro de 2023

Entre os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 2015, o de número 7 tem como meta ‘Garantir acesso à energia barata, confiável, sustentável e renovável para todos’. O assunto também estará entre as pautas a serem apresentadas na 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 30), em novembro de 2025, em Belém, no Pará. Afinal, a transição para fontes de energia limpa e renovável, como a solar e eólica, é um pilar importante da sustentabilidade. A COP aborda políticas e estratégias para acelerar essa transição. Neste terceiro fascículo do Diário Documento Sustentabilidade, se aborda também o uso eficiente da água, mostrando suas práticas de conservação.

Para entendermos melhor de que forma todas essas questões se interligam, a reportagem conversou com o professor doutor Marco Valério de Albuquerque Vinagre, docente do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano e dos cursos de engenharia da Universidade da Amazônia (Unama). Também doutor em Engenharia de Recursos Naturais da Amazônia (UFPA), o cientista explica por que a transição para fontes de energia limpa e renovável é fundamental para a sustentabilidade.

“É extremamente importante porque a provisão de energia é essencial para a infraestrutura das cidades e comunidades. Atualmente, em nosso planeta, 70% da eletricidade provém de geração termelétrica, com grande emissão de CO2, o que afeta negativamente os três aspectos do desenvolvimento sustentável: ambiental, econômico e social”, destaca. “De acordo com os mais recentes estudos e pesquisas, essa emissão vem contribuindo de modo importante para as mudanças climáticas em curso na Terra. Desta forma, a chamada descarbonização da geração elétrica tem como principal estratégia alavancar o uso de tecnologias mais atuais, com fontes energéticas limpas e renováveis”.

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Marco Valério pontua que, para fortalecer a importância disso, a Organização das Nações Unidas (ONU) vem mobilizando seus estados-membros a realizarem o diagnóstico da situação de cada um e se comprometerem com acordos e metas com respostas globais e concretas.

“Em 2015, foi adotada a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, reunindo 17 objetivos globais, os chamados Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), com o propósito de promover universalmente a prosperidade econômica, o desenvolvimento social e a proteção ambiental. Os ODS que vão de encontro com a temática cidades sustentáveis e energia renovável, são o ODS 7 – energia limpa e acessível e o ODS 11 – cidades e comunidades sustentáveis. Cada um deles possui suas metas específicas para que seja atingido o objetivo”.

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INVESTIMENTO

Nesse sentido, o pesquisador refere que algumas alternativas importantes para a geração de energia limpa e renovável integram as seguintes Tecnologias de Engenharia de Energia: Solar, Eólica, Hidrelétrica, Maremotriz (energia das marés), Ondomotriz (energia das ondas), Geotérmica e Nuclear. Marco Valério destaca ainda ser errado avaliar que investir nesse campo seja caro.

“Considero isso um engano de avaliação, porque ao se computar os investimentos em geração das fontes poluidoras, em especial das térmicas, não se consideram os prejuízos ao meio ambiente, que de modo geral são pagos pela sociedade”, justifica. “Além disso, à medida que ocorre o aumento da escala de geração de energia limpa e renovável, já está ocorrendo a diminuição dos custos unitários dessa geração que se torna cada vez mais competitiva e viável”.

O doutor em Engenharia de Recursos Naturais da Amazônia toma como exemplo a geração fotovoltaica conectada à rede (Sistema Fotovoltaico Conectado à Rede – SFCR), onde os preços dos componentes – painéis, inversores, controladores de carga e medidores bidirecionais – caíram cerca de 20% em no ano de 2023 comparado a 2022. “Um SFCR se paga em cerca de quatro anos, e tem vida útil de 25 anos”, calcula.

O investimento na energia renovável vai de encontro à energia “tradicional” que prejudica o planeta. “Chama-se de energia tradicional a geração a partir principalmente da queima de combustível fóssil, como gás, carvão e petróleo. Essas são altamente poluidoras, com grandes emissões de CO2, contribuindo de maneira importante para a piora, a degradação do meio ambiente e do clima local e global, conforme muitas pesquisas científicas relatam”.

 “Cultura da água”: o uso consciente é essencial


 

O professor doutor Marco Valério de Albuquerque Vinagre destaca também o uso racional da água e seus impactos, especialmente na Amazônia, e como esse assunto devem ser abordados na COP30. Confira na entrevista a seguir:

P Qual a expectativa para que esse assunto seja tratado na COP 30?

R Este tema com certeza será tratado, pois é muito importante para se contrapor às mudanças climáticas. Veja, no ano de 2015 em Paris, na 21ª Conferência das Partes (COP 21) da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), foi apresentado o acordo voltado ao combate aos efeitos das mudanças climáticas, prevendo reduzir as emissões de gases de efeito estufa (Programa Cidades Sustentáveis, 2016). Em 2021, na COP 26, em Glasgow, foi assinado pelos países o Pacto de Glasgow, estabelecendo compromissos para a redução de emissões. Portanto, este importante tema que integra a Agenda das COPs anteriores, com certeza será novamente discutido, debatido, avaliado e validado.

P Falar em economia e uso racional de água em uma região com esse bem tão abundante como a Amazônia é um desafio. Por quê?

R A Amazônia tem água abundante segundo sua sazonalidade, pois conforme ficou bastante visível na estiagem do corrente ano de 2023, muitas cidades e comunidades amazônicas padeceram pela sua escassez, mostrando a importância do uso cuidadoso e racional desse precioso líquido, fonte da vida. O uso racional e econômico das águas na Amazônia é um desafio enorme, pela dimensão geográfica imensa, cerca de 5 milhões de km². Um exemplo recente foi amplamente divulgado pela mídia, em seu importante papel de socialização das informações, quando o mundo assistiu perplexo os imensos prejuízos sociais, ambientais e hídricos causados pelos garimpos ilegais nos rios da Amazônia, bem como as dificuldades de combater essas atividades ilegais. Não olvidando que o desmatamento ilegal também é muito danoso ao Ciclo da Água. Para se ter ideia, uma árvore de grande porte é capaz de alimentar a atmosfera com trezentos litros de água por dia, através da evapotranspiração. Assim, a destruição da floresta interrompe o ciclo da água (os Rios Voadores) que alimentam Sudeste e Sul do Brasil.

P Por que devemos fazer essa economia e uso racional?

R Além da estiagem que afetou os rios e poços da Amazônia, outro grande problema é a poluição dessas águas, seja por águas residuárias, por aterros sanitários, lixões. Assim, fica óbvia a necessidade de fazermos todos nós, amazônidas e brasileiros, o uso racional e inteligente das nossas águas da bacia Amazônica.

P Como fazer isso?

R O uso consciente da água vem através do que nós professores chamamos de “Cultura da Água”, que representa um conjunto de valores, crenças, práticas e conhecimentos que influenciam na forma como as pessoas se relacionam com a água e como a manejam. Incorpora a compreensão do papel dos corpos hídricos na vida cotidiana, nas atividades econômicas, e nas relações sociais.

P Qual o papel de cada um?

R Cidades e Comunidades devem zelar pela preservação de suas águas superficiais (rios e lagos) e subterrâneas (poços e aquíferos) através de seu uso cuidadoso e consciente. As pessoas devem ser responsáveis em suas atitudes, inclusive evitando desperdícios. A ONU indica a necessidade de 110 litros de água por dia por pessoa. No Brasil indica-se 250 L (hab/dia). As perdas de água na rede pública do Brasil variam de 25% a 50%. Tudo isso precisa ser considerado e melhorado, como em casa, com vazamentos e pinga-pinga de torneiras.

P Qual a sua expectativa em relação à COP 30 ?

R Tenho certeza de que este será um evento muito importante para o planeta, Brasil, Pará e Belém. Seu valor reside no conhecimento da realidade amazônica que os participantes externos terão, e a oportunidade que amazônidas terão de ser ouvidos, e que dessa combinação obtenha-se resultados e ações benéficas para a gestão e desenvolvimento socioambiental da Amazônia, com benefícios para o Brasil e para o clima de nosso planeta.

 

 


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