Jornalista Anderson Araújo lança novo livro nesta quinta, 29

Publicado em 27 de junho de 2023

Quando você
chegar ao Café com Arte, na próxima quinta-feira, dia 29, não estranhe. Ao
subir as escadas do velho casarão construído no início do século XX, pisar no
assoalho de tábuas enceradas e vislumbrar os ambientes que emulam a herança
portuguesa na arquitetura paraense, não será uma volta ao passado, pode crer. Arrisco-me
a dizer até que será um passo pro futuro. Ao sair de lá, carregando um exemplar
do livro “Manual prático de como vestir um pai morto”, você vai entender por
quê.

Anderson
Araújo, autor do “Manual prático…”, que será lançado nessa noite, é o
paradoxo em pessoa. Então, não estranhe. Estrela do evento, ele será o cara
mais discreto do lugar. Vai falar com todos, mas serão breves palavras. Vai
sorrir pra cada lado, mas ninguém vai vê-lo gargalhando. Não estará vestido
como um dândi, um peralvilho, um artista. Será o Anderson de sempre, metido em
camisa de botões fechados até o gogó e calças surradas – mas não rasgadas, isso
nunca. Dona Clarisse jamais permitiria.

“Manual
prático” reúne duas dezenas de histórias. São recortes de lembranças,
nostalgias e dejavus, mas vão muito além disso. Há fragmentos da banalidade
cotidiana que se tornam luminosos quando polidos, esmerilados, entalhados e
esculpidos no mármore da narrativa preciosa do Anderson. O fantástico vira
comum. O doloroso torna-se encantado. O adormecido se transforma em êxtase. O
amor é morte. O fim, recomeço.  

Derramadas
nas 163 páginas do livro, sob o filtro de vivências, sapiências, saliências e a
visão peculiar de um homem maduro com muitos graus de miopia, essas relíquias,
mesmo as mais cruéis, tornam-se epifânicas. Mesmo as perturbadoras e
desconcertantes.

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Só dá pra
entender pelo olhar peculiar do autor. Sua capacidade de captar memórias
alheias sem a necessidade de presenciá-las. Nem mesmo a precisão de terem
acontecido. Apenas por sabê-las. Com aquela suavidade de entender sem dizer,
como no verso do Pessoa, e a habilidade de dizer com suavidade o que deveras entendeu,
mesmo sem ter vivido.

Não é um
diário conjugado no pretérito. É o jeito dele de passar as lembranças – as dele
e as que intuiu – pelo moedor de carne da humanidade. Oferecê-las com a
simplicidade de quem prepara o recheio da lasanha, do nhoque, da panqueca. Uma
receita pueril, mas que ninguém conhece, é coisa dele… e é deliciosa. O
tempero que torna a narrativa envolvente está na qualidade do texto. Impecável.
Sinuoso. Atrevido.

As relíquias
dessa memória do Anderson são muito bem-vindas num lugar como o Café com Arte,
uma charmosa chave para o passado. Da cidade e dele mesmo. Foi ali que
aconteceu o ponto de mutação, quando fez naquela mesma casa, nos anos 90, o
cursinho que o levaria a uma dedicada vida acadêmica, até hoje cultivada. 

Anderson, o
paradoxo em pessoa, jornalista de formação avançada, não começou a carreira
como um repórter excepcional, mas virou um escritor extraordinário. Depois de
ter sido pobre, vivendo entre estivas e quintais alagados; depois de ter sido
feio, comprido, magro e desgrenhado; depois de ter sido quase seminarista,
amedrontado pelos pecados – Anderson Araújo dobrou a bainha, cerziu os
farrapos, correu atrás do conhecimento e virou esse sujeito cheio de predicados
que ele é. Sua nobreza está na antítese.

Tal e qual o
Flamel de Lima Barreto, Anderson Araújo virou um alquimista das palavras. Empenhado
no embate sutil entre o delicado e o agressivo, o sagrado e o blasfemo, o real
e o imaginado. Tudo alinhavado pelo fio de ouro derivado dessa alquimia. Uma
escrita eclética, social, urbana, marginal, cotidiana, experimental e
inovadora. Recheada de histórias cheias de verdade, capazes de colocarem o
passado no retrovisor do futuro. Fundindo fantasia e realidade na pedra
filosofal da literatura.

Mas não se
anime tanto, quando chegar lá no lançamento. Vá com calma. Anderson não é
conversador tagarela. Vá lá, compre o livro, pegue o autógrafo, pode até bater
uma foto com ele. Mas tudo isso é só um ritual. O grande barato é lê-lo.
Portanto, leia-o. Pouca gente dessa geração escreve tão bem quanto o Anderson.

SERVIÇO:

“Manual
prático de como vestir um pai morto”

Noite de
autógrafos de Anderson Araújo.

Dia 29, às
19h, no Café com Arte.

Tv. Ruy
Barbosa, 1437 – Nazaré

 


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