“Elementos” surpreende com história sobre imigração

Publicado em 22 de junho de 2023

Boas alegorias são inesperadas e surpreendem o
público. A Pixar mantém um bom histórico nesse departamento, mas ganhou fama
pelas morais mais próximas das premissas. Casos como as emoções de
“Divertida Mente”, de 2015, e as almas de “Soul”, de 2020,
mostram que isso não é ruim.

“Elementos”, novo filme do estúdio,
promete repetir isso, principalmente por fazer dos elementos naturais os
protagonistas da vez. Se o estúdio contou histórias sobre emoções e almas
humanas, pensa o público, o mesmo é possível com o fogo, a água, a terra e o
ar. Mas a alegoria, desta vez, é mais complexa.

O filme não esconde que é uma alegoria sobre
imigração. Começa com um casal de personagens feitos de fogo em um barco, que
navega entre as brumas para chegar ao cais do que logo se revela uma metrópole.

A cena encanta pelos seres criados de outros
elementos e o universo onde coexistem, mas a recepção aos recém-chegados, em
si, é cruel. Todos ao redor ignoram o casal, e o simples ato de encontrar um
lar vira um desafio. Ninguém quer um inquilino que pode provocar um incêndio,
quanto mais três —já que a mulher está grávida.

Os dois, então, se estabelecem em um prédio
abandonado, localizado em uma região menos nobre. O marido reforma o lugar, a
filha nasce, a família abre uma loja. O tempo passa e vemos uma comunidade
nascer.

A trama dá protagonismo a esses herdeiros. A filha,
agora adulta e chamada Faísca, ajuda o pai a tocar a loja, mas as coisas não
correm bem. O patriarca tosse muito e não tem o mesmo fogo —literal, no caso—
para tocar o negócio. Ele sofre até para fazer os pequenos doces de carvão que
vende.

A promessa é que a filha assuma o seu lugar. O
problema é que a moça, por ansiedade ou nervosismo, tem um temperamento curto
para os negócios, e sua fúria com frequência acaba provocando incêndios.

Uma dessas explosões vai disparar a história de
vez. A ira de Faísca um dia cria um rombo no encanamento e, além do vazamento,
ele traz um inspetor chamado Gota, feito de água —raça odiada pela família. Uma
série de multas depois, a lojinha corre o risco de fechar.

A disposição dos elementos narrativos indica que o
filme vai se guiar pela busca emocional, na luta da protagonista para controlar
as emoções. Mas “Elementos” segue um caminho mais interessante,
dentro do assunto menos instigante: a burocracia.

Na busca de Faísca para salvar o negócio da
família, ela descobre que o seu problema é generalizado na região, que corre
risco de enchente. Ela se associa a Gota para resolver a situação e eliminar as
multas, e assim a história se reorganiza em torno dos dois.

É uma relação de extremos. Ela é fogo e ele é água,
ela estoura fácil e ele chora em toda oportunidade. Mas o amor encontra um
jeito de desabrochar, da mesma forma que Faísca descobre o mundo e a si
própria.

A garota encontra seu equilíbrio enquanto percebe
sua individualidade, que inclui um talento para moldar o vidro. O que é um
problema, pois nada disso envolve seu futuro na lojinha.

O dilema final de “Elementos”, então, é
da ordem clássica, do duelo entre honrar os pais ou seguir com os próprios
sonhos. A questão não é inédita na Pixar, bem como o contexto das famílias
imigrantes. O estúdio fez algo parecido no ano passado com “Red: Crescer É
uma Fera”, que encenava melhor o conflito pelo drama geracional e do
adolescente.

Mas o novo longa-metragem, dirigido por Peter Sohn,
se destaca pela sutileza. Segue a lógica da fábula, tradicional e mais
acessível, construindo alegorias simples de maneira elaborada, que contemplam o
percurso da história. A bela trilha sonora de Thomas Newman reforça isso nos
sons minimalistas e inusitados —como uma cítara ou um coro de vozes
borbulhante.

Já a premissa faz tudo funcionar.
“Elementos” evita a correlação direta entre o equilíbrio de Faísca e
o dos elementos naturais. O pano de fundo da história alimenta a oposição dela
com Gota, que recusam a admitir sua paixão porque o fogo e a água não podem se
tocar —a razão diz que um apaga o outro, bom lembrar.

O contato dos dois leva a uma cena bonita, mas
também a um clímax à altura da história do estúdio. Um pequeno spoiler: no
momento de maior apuro do filme, Faísca se vê presa, obrigada a decidir entre
os valores de sua família e o amor, apenas porque se fechou demais para ambos.

ELEMENTOS

Avaliação Muito bom

Onde Estreia nesta quinta (22) nos cinemas

Classificação Livre

Produção Estados Unidos, 2023

Direção Peter Sohn

 


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