A morte e a morte de Ruy Baldez

Written by on 16 de junho de 2023

A
MORTE E A MORTE DE RUY BALDEZ

Beto do Carmo

Ruy Baldez Ribeiro D’Oliveira
morreu numa véspera de São João, no já distante ano de 1999. Um AVC fulminante o
levou em plena madrugada de um fim de semana em que estava só. Não houve tempo
para fazer nada. Morreu solitário como quase sempre o foi em sua vida
particular. Não se pode dizer o mesmo de sua figura pública. Admirado por
muitos estava no auge da energia criativa, ativo participante do já famoso “Boi
Pavulagem”, folguedo que ele sonhou e fez acontecer ajudado, claro, por outros
companheiros que acreditaram na transformação do sonho em realidade. Para falar
a verdade, ele foi mais do que um mero participante. Foi o fundador, o
idealizador daquilo que agora Belém e o Brasil todo clamam como a mais popular
manifestação cultural do Estado do Pará. Sua morte prematura surpreendeu a
todos. No velório, os tambores ressoaram em sua homenagem.  Virou nome de praça, mas, para a nossa alegria,
o “Pavulagem” continuou vivo, crescendo e transformando-se em algo gigantesco
que enfeitiça o povo e encanta a todos que tomam parte do cortejo que
periodicamente toma as “ruas de Belém”, como Ruy cantava em toada premonitória
no nascimento do “boizinho”.  Hoje, os
chamados “Arrastões do Pavulagem”, em qualquer época que saem às ruas, seja no
Círio, ou na quadra junina, mostram um espetáculo de cores e gentes a alegrar a
cidade, atraindo turistas de outras terras, consolidando-se cada vez mais como
a grande representação do espírito festeiro do povo paroara. Ruy se foi, mas
sua realização continua crescendo e em nossa memória sua persona animada e
carismática permanece presente.

Desde o ano passado,
entretanto, estão tentando matá-la, recontando a história do sonho de Ruy
Baldez, como se não houvera sido ele o formulador, o gerador de toda essa
fantástica festividade que se alastra pela cidade. A segunda morte de Baldez,
do criador, tenta apagá-lo agora da memória, de forma supreendentemente malévola,
reescrevendo a história como se o grande inventor jamais tivesse participado do
surgimento do “boizinho”, a que ele deu nome e lutou para torná-lo realidade
naqueles domingos de outrora na Praça da República. Confesso que chorei quando
assisti ao programa televisivo que simplesmente desprezou os fatos, permitindo
a concepção de narrativa absurdamente falsa, onde conhecidos personagens traem
de maneira covarde o antigo companheiro, simplesmente ignorando de forma vil a
participação de Ruy, tentando de maneira cínica reconstruir uma história que
não tem base na realidade e que se choca vergonhosamente com a própria verdade
historiográfica “confessada” nas primeiras gravações do então nascente grupo
“Arraial do Pavulagem”. É vexaminoso o que se tenta fazer com a vida (e a obra)
de Ruy Baldez. Ele morreu há muito tempo. Mas agora tentam matá-lo novamente,
afastando-o de maneira pusilânime do jeitoso boizinho que ele trazia
alegremente no coração. É necessário e urgente impedir esse assassinato
cultural em andamento. Viva Ruy Baldez! 


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