Conheça o potencial e a inovação da andiroba
Written by on 4 de junho de 2023
A possibilidade de olhar por diferentes ângulos o uso de um recurso que há bastante tempo faz parte de determinado território pode ser a chave para não apenas apresentar novas soluções e inovações para a indústria, mas, principalmente, para as comunidades e a região de origem daquele recurso natural.
No interior da floresta amazônica, a potência do vegetal que dá origem ao óleo de andiroba é uma velha conhecida das populações tradicionais e dos povos originários, saber que despertou, também, o interesse da pesquisa científica praticada na região.
Da estrutura proporcionada pelo Parque de Ciência e Tecnologia Guamá (PCT Guamá), pesquisadores do Laboratório de Óleos da Amazônia (LOA) e do Centro de Estudos Avançados da Biodiversidade (CEABIO) da Universidade Federal do Pará (UFPA) reuniram em um artigo científico uma revisão detalhada de 129 artigos produzidos acerca das potencialidades da andiroba, escritos entre os anos de 1993 e 2022.
O que o estudo, publicado na revista Arabian Jounal of Chemistry, pôde demonstrar foi a diversidade de ações biológicas da espécie e o grande interesse que o vegetal vem despertando na ciência ao longo de quase 30 anos.
Pesquisadora do Centro de Estudos Avançados da Biodiversidade (CEABIO), a professora Renata Noronha aponta que o levantamento evidenciou que são diversas as aplicações biotecnológicas para a andiroba.
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“A grande maioria dos testes estão relacionados à área da saúde, ao tratamento de alguma doença ou de algum processo curativo, mas além disso também há propriedades antimicrobianas, propriedades repelentes, inseticidas, algumas propriedades que favorecem alguma interação com o setor cosmético, então, tem muita aplicação e, conforme a aplicação, há alguns estudos em maior quantidade e outros que foram um pouco mais restritos. Mas é um leque bem amplo de possibilidades biotecnológicas”.
Naturalmente, grande parte dos estudos analisados está relacionada com o setor farmacêutico, considerando as propriedades medicamentosas que já são muito conhecidas e difundidas no meio popular, mas que, com esses estudos, é possível ter um pouco mais de comprovação científica daquilo que as pessoas já transmitiam de geração para geração.
“Muito está relacionado com o setor da indústria farmacêutica, mas também há propriedades que podem ser aplicadas no setor de repelentes, de produção de inseticida, tem propriedades muito interessantes para o setor cosmético, seja para tratamento de beleza, seja para hidratação, para cuidados com a pele. Então, é uma aplicação que pode ser destinada a diversos setores industriais, sim”, considera a pesquisadora.
A relação das pesquisas com indicativos de uso que já eram conhecidos pelas populações tradicionais não é à toa. A professora Renata Noronha e o professor Luís Adriano Nascimento, vice-coordenador do Laboratório de Óleos da Amazônia (LOA), esclarecem que, muitas vezes, o conhecimento tradicional é o ponto de partida para o desenvolvimento do conhecimento científico.
“Esse conhecimento científico é produzido a partir da pesquisa e a pesquisa é baseada em perguntas. Então, muitas vezes as perguntas que um pesquisador faz são originadas do conhecimento popular, elas são baseadas naquele chá, naquela pomada, numa folha, num caule ou numa flor que os populares usam para curar alguma doença, para tratar algum problema, alguma propriedade interessante: o óleo, a manteiga de alguns vegetais”, explicam.
“As pessoas não têm ideia do quanto esse conhecimento popular é importante e ele tem, sim, que caminhar junto com o conhecimento científico. É uma satisfação muito grande quando a gente traz um trabalho como esse e que mostra a quantidade de propriedades que essa planta tão especial tem e que foi originada a partir do interesse que veio graças ao conhecimento tradicional que está associado a essa planta”.
Saber popular caminha junto com o científico
A relação tão próxima entre o conhecimento popular e o conhecimento científico é o que faz com que a ciência possa ser vista pela sociedade como algo que está muito mais presente no dia a dia dela do que se imagina. Conhecimento científico que ajuda a transformar a realidade local.
“O interesse pela andiroba está associado a essa aplicação popular, a esse conhecimento popular. Já se sabia que a andiroba era muito utilizada pelas populações tradicionais, originárias, para vários fins”, considera o vice-coordenador do Laboratório de Óleos da Amazônia (LOA), Luís Adriano Nascimento.
“Então, cada grupo de investigadores foi tentando aplicar a andiroba, o óleo de diversas partes da planta, para investigar aquilo que é a sua especialidade e, logicamente, um número muito grande de produção científica vem do fato de que foram encontrados resultados positivos”.
Considerando que os estudos científicos têm a característica de serem construídos em etapas, o levantamento pode observar que alguns dos estudos analisados avançaram e outros pararam nas etapas iniciais. Independentemente, o que se observa é que ainda existem muitas possibilidades de estudos com o óleo vegetal, sobretudo pela possibilidade de aplicações inovadoras que podem resultar em novos usos pela indústria.
“Também há o aspecto biotecnológico, de novas aplicações. Você pode ter o óleo de andiroba como constituinte de medicamentos, de produtos cosméticos, além de biocurativos, biomateriais que são aqueles bioplásticos que estão sendo produzidos a partir de resíduos e outros compostos que são biodegradáveis, ou seja, que vão substituir aqueles vindos do petróleo. Então, você vai ter a necessidade de testar também a formulação da andiroba com esses biocurativos, por exemplo. Tudo isso é um aspecto que indica que ainda tem muitos estudos para realizar com a andiroba”.
FUTURO
Dentro da perspectiva das aplicações biotecnológicas, o pesquisador aponta que o potencial da andiroba é grande. “Ela se encaixa bem com essa questão das aplicações biotecnológicas, de formulações com andiroba, isso é o futuro. A andiroba, sendo usada em biocurativos, sendo usada para composição de membranas, de géis, de emulsões, para aplicação em cosmético, para aplicação na área da saúde com propriedades medicamentosas para outros fins que ainda estão sendo investigados. São estudos que precisam ser feitos e, se for comprovado, se avançar, tudo isso traz um aspecto muito grande de inovação”, considera Luís Adriano Nascimento.
Parceria
Além de pesquisadores do Laboratório de Óleos da Amazônia (LOA) e do Centro de Estudos Avançados da Biodiversidade (CEABIO) da Universidade Federal do Pará (UFPA), o artigo também teve a contribuição de pesquisadores do Museu Emílio Goeldi e de outras instituições nacionais e internacionais.
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