Dia da Mulher: a luta da mulher trans e travesti

Publicado em 8 de março de 2023

A graduanda em Filosofia na Universidade Estadual do Pará, Agnes Lucius, que se identifica como mulher trans ressalta a pluralidade do conceito de ser mulher por meio do conhecimento e vivências. “Vai muito além do que é considerado naturalmente biológico. Quando falamos sobre isso, precisamos entrar na esfera sociocultural, nos processos de formação do sujeito, etc… As ciências humanas estudam esses processos e desmistificam a ideia de que ser mulher é puramente biológico/estereotipado”, diz ela. 

Veja também:

Dia da Mulher: questão de gênero, pluralidade e resistência 

8 de março: o Dia de Toda Mulher 

 











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Ao se identificar como mulher trans, a graduanda enfrentou preconceitos
externos e falta de compreensão familiar acerca das questões de gêneros e
sexualidades desatrelados do padrão social normativo. 

“Sofri
inúmeros casos de transfobias, partindo de diversas esferas sociais. Desde a
falta de emprego até o desprezo emocional que nós, pessoas transgêneros e
transexuais, sofremos frequentemente dentro de casa, por parceiros ou pela
sociedade”, relata Agnes.

A estudante afirma que percebeu desde cedo que não se identificava com o gênero atribuído ao sexo biológico de seu nascimento. “Desde minha infância sabia que não era como me vestia ou aparentava fisicamente. Eu apenas estava daquela forma, mas o que eu era ainda estava preso dentro de mim”.

Ao
fazer o mesmo, a ativista LGBTQIAP+ Lana Larrá foi expulsa de casa. Nesse
momento, ela precisou enfrentar sozinha o mundo e o preconceito, até perceber
que podia se aliar à própria rede de apoio à qual pertence. 

 











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“Entendi
que a luta era necessária ao lado da minha população trans”, afirmou a
ativista, que ainda enfrenta no cotidiano “a falta do respeito ao nome social, ao uso do pronome correto e da falta de espaços inclusivos na sociedade”.

Ela também relata que a percepção começou ainda quando criança, mas que a identificação veio, de fato, aos 19 anos. “Nunca me senti bem usando roupas masculinas, quando eu era criança, brincava com os saltos da minha mãe, sempre tentando me esconder para não sofrer preconceito”, diz Lana.

Para
Alice de Oliveira, autônoma e artista independente, que se identifica como mulher trans e que ressignificou a vida aos 17 anos dando início a transição hormonal, “a visão limitada e fetichista a respeito da mulher trans e travesti é responsável por gerar uma onda de violência e marginalização dos corpos”.

 











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Uỳara
Amanaỳara, artista de multilinguagens e mulher travesti, que foi expulsa de
casa e chegou a perder oportunidades, empregos e a infância, afirma que apesar de cansativo, o processo de identificação foi reconfortante.

 











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“Identificar-me como mulher
é um processo incrível, mas infelizmente doloroso. Tem a ver com novos ‘nãos’ que
existirão na minha vida: não saia tão tarde, não use essa roupa, não aja desse
jeito, não seja masculina, a culpa é sua”, diz ela acerca dos paradigmas que a
rodeiam no processo de identificação. 

Para além dos “nãos”, Uỳara  relata a fonte da força que a faz seguir em frente. “Eu me deparo de forma leve e resistente sobre mulheres que passam pela minha vida, me apoiam e dizem que passar pelo processo de identificação também me ensina a ser, madura, resistente, empática e digna”, conta a artista. 

CONQUISTAS

Apesar
das lutas, a voz da resistência não silenciou – e nem irá -. Lana, Uỳara, Alice e Agnes possuem
conquistas importantes para se orgulhar. 

Para
Lana, a decisão do Supremo Tribunal Federal que enquadra homofobia e transfobia
como crimes de racismo e o novo Projeto Casulo, que reestrutura o atendimento
às pessoas transexuais, são avanços coletivos para comemorar.

Agnes celebra uma vitória individual: ela será a primeira mulher trans com descendência indígena a se graduar em Filosofia pela UEPA, e é a primeira mulher trans coordenando o Centro Acadêmico de
Filosofia/ UEPA. “Como conquista familiar, sou a primeira pessoa a estar na universidade pública, sendo a minha família materna de origem socioeconômica baixa”, enfatiza ela. 

Alice também comemora a oportunidade de uma formação educacional. “Recentemente eu finalmente pude concluir meu ensino médio, e isso foi tão significativo, pois finalmente eu pude ir além das limitações que me foram impostas”, diz a artista. Ela afirma que o apoio de outra
pessoa trans nesse processo de superação foi transformador.

Ao ser questionada sobre o conceito pessoal de ser mulher na sociedade, Uỳara Amanaỳara destaca: “não estamos falando de cromossomos, XX e XY não fazem parte do meu vocabulário quando o assunto é ser mulher. No passado, eu mesma já me peguei querendo seguir estereótipos sociais pra me encaixar na feminilidade, com o tempo e com a maturidade, eu percebi que a construção social não me cabia e que ser feminina não tem a ver com roupa ou maquiagem, e que eu posso ser feminina com um vestido e uma bela maquiagem, mas posso ser feminina do mesmo jeito com um blusão e meu rosto lavado, porque a feminilidade não é algo que eu almejo ter, ela me pertence, assim como pertence a toda as outras mulheres, eu já a conquistei”.

O
maior orgulho de Uỳara Amanaỳara é ter reconstruído tudo o que perdeu no
processo de identificação, e poder conviver com pessoas que ama ao redor. “Fui expulsa de casa muito cedo, passei por coisas que eu não deveria passar, me afastei de familiares, de amigos. (…) A
minha maior conquista é ter uma família”, afirma a artista. 

 


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