A Pastora do Diabo: paraense lança livro sobre Flordelis

Written by on 15 de dezembro de 2022

 Uma vida intrigante, digna de um roteiro de cinema. Flordelis,
ex-deputada federal que se tornou conhecida na década de 1990 e foi condenada a
50 anos de prisão pela morte do marido, o pastor Anderson do Carmo, é alvo da
investigação do jornalista paraense Ullisses Campbell, que lança hoje em Belém
o livro “Flordelis, a Pastora do Diabo”, às 18h30, na Livraria Leitura.

O livro encerra uma trilogia batizada por ele de
“Mulheres Assassinas”. Antes Campbell escreveu “Suzane – Assassina e
Manipuladora”, que mergulha no caso Richthofen e foi a base para os
longas-metragens “A Menina que Matou os Pais” e “O Menino Que Matou Meus Pais”;
e ainda “Elize Matsunaga – A Mulher que Esquartejou o Marido”, que aborda o
assassinato do herdeiro da indústria de alimentos Yoki, Marcos Matsunaga.

Foram dois anos para coletar informações sobre o
caso e conhecer sua protagonista, período que envolveu conversas presenciais
com a mãe de Flordelis, conhecida como “bruxa”, que a teria iniciado em rituais
satânicos. “A acusação levantou que a Flordelis fazia rituais satânicos e
feitiçaria, mas o livro mostra que ela era uma charlatã, porque tentava
impressionar os outros. Ela era um embuste, nunca foi mãe dessas 50 crianças. O
livro mostra que ela montou uma organização criminosa que ela chamava de
família. O livro é um desmonte da imagem de Flordelis”, afirma Ullisses,
jornalista vencedor de três prêmios Esso de Reportagem e um Embratel de
Jornalismo, com passagens pelo jornal “Correio Braziliense” e pela revista
“Veja”, entre outros veículos.

A produção do livro começou no processo de
investigação policial. “O processo me direcionou na pesquisa. Ele é a base de
tudo, mas representou dez por cento de toda a pesquisa. Depois fui atrás das
pessoas que estão próximas da Flordelis, a família, a mãe, as irmãs, os filhos,
advogados, promotores de acusação. Também fui atrás de especialistas,
antropólogos e sociólogos para entender esse mecanismo da religião, que é a
base de todo o livro. Depois fui atrás de psicólogos para entender a mente de
Flordelis, de um assassino. Além de perito, delegado, investigador”, detalha.

Ullisses conta que quando decidiu pelo título desta
publicação, não esperava que os adjetivos escolhidos seriam tão impactantes.
“Eu estava no lançamento em uma livraria grande em Brasília e quando alguém
anunciou em alto-falante a sessão de autógrafos do livro, ‘Flordelis – a
Pastora do Diabo’, disse ‘que pesado’. Então, percebi que as pessoas não
citavam o título, apenas o nome dela. Acho que as pessoas ficam muito chocadas
por ser um livro sobre religião, mas a palavra diabo tem o sentido altamente
figurado”, explica.

Mas diz também que durante sua pesquisa percebeu
que o nome Lúcifer era mais mencionado nos cultos da pastora do que Deus. “Eu
fui em alguns cultos dela e vi que ela falava mais no nome do Diabo que de
Deus, que é uma forma inclusive que os pastores usam para manter os fiéis
dentro da Igreja, dizendo que ali é a casa de Deus e que o Diabo está lá fora,
no bar, no cinema e na televisão. Daí vem a origem do título”, reitera.

O jornalista conta que o nome de Flordelis surgiu
quando ele ainda estava em processo de finalização do livro sobre Suzane
Richthofen. “Flordelis entrou num momento que eu fui muito cobrado para fechar
a trilogia. Ela estava sendo cassada, perdendo mandato, a caminho do banco dos
réus. Tem uma coisa que as pessoas acham que é muito fácil escolher a pessoa
que você vai biografar, mas não é. Às vezes você começa a pesquisa e descobre
no meio dela que o personagem não rende. A Flordelis era deputada, mãe de 50,
uma figura midiática e estava sendo indiciada, e tinha como pano de fundo a
religião”, lembra ele.

Para Campbell, Flordelis queria se livrar da
dominância de Anderson

A excentricidade de Flordelis contribuiu para que
ela fosse uma personagem com muitas facetas a abordar em um livro. “Ela é muito
excêntrica, coleciona perucas, é afetada. Ao mesmo tempo em que subia no
púlpito para pregar, como se tivesse uma procuração de Deus, quando o culto
acabava, ia com o marido, uma filha e o genro para uma casa de suingue, fazer
sexo com pessoas desconhecidas. Ela é cheia de camadas, isso a torna
interessante”, descreve Ullisses.

A complexidade também está em torno da relação da
ex-deputada com Anderson. “Florelis conheceu Anderson como namorado da filha
Simone, que terminou o relacionamento com ele. E aí Flordelis adotou ele como
‘filho’. Ela fazia uma evangelização na madrugada, supostamente tirando pessoas
do tráfico para dentro da Igreja. Então, precisava de uma espécie de segurança,
porque era na favela do Jacarezinho, uma das mais violentas do Rio de Janeiro.
O Anderson passou a acompanhá-la. Ali, começaram um relacionamento amoroso, ele
com 14 anos, ela com 37”, conta.

Outro ponto é a relação de Flordelis com os
“filhos”. Ela adotou legalmente 13 filhos dos 50 filhos, mas houve adoções
ilegais, diz Ullisses. “Flordelis forjou processos, inclusive disse que tinha
um filho biológico com Anderson, mas depois descobriu-se que tinha sido
roubado. No meio dos 50 filhos, havia crianças roubadas, filhos biológicos,
outros adotados. Ela era uma pastora pop, as pessoas gostavam dela, inclusive
famosos”.

Para o autor, Flordelis é uma criação de Anderson.
“Ela captou ele porque estava interessada nele, mas o Anderson se tornou um
líder muito superior a ela. Flordelis, como uma marca e deputada, é uma criação
do Anderson. Ele era muito mais poderoso que ela na oratória e nos traquejos.
Ela, por sua vez, entregou a própria vida nas mãos dele. Ele a ensinou a
pregar, a transformou na aparência, sabia que faria muito sucesso se ela
passasse por um processo de branqueamento, então ele que botou as perucas
loiras e a vestia em alta costura. Ele dizia que quando tivesse 50 filhos, a
transformaria em mãe do Brasil. Foi quem planejou Flordelis como deputada
federal e quem a levava nos programas de TV, na Ana Maria Braga, na Xuxa, na
Hebe Camargo. Ele pegava o telefone e ligava”.

Adeptos de um relacionamento livre, ambos podiam
transar com quem quisessem, observa o autor. “O que fez Flordelis decidir
matá-lo é que ela queria a vida dela de volta. Ela era altamente controlada por
ele, vendeu 11 milhões de discos, mas era remunerada com o que ele passava para
ela. Mas descobriu que podia receber muito mais. Flordelis decidiu acabar com a
vida do marido por acreditar que uma separação seria um escândalo no meio
evangélico. O livro vem para explicar essa simbiose entre Anderson e
Flordelis”, diz.

Lançamento

l “Flordelis – A Pastora do Diabo”

Autor: Ullisses Campbell

Editora: Matrix

Páginas: 304

Preço: R$ 69

l Sessão de autógrafos em Belém

Quando: Hoje, às 18h30.

Onde: Livraria Leitura (Pátio Belém – Trav. Padre
Eutíquio, 1078 – Batista Campos

 


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