“E.T.” completa 40 anos e volta aos cinemas de Belém

Written by on 20 de novembro de 2022

“Eu estarei bem aqui”, diz o alienígena de
“E.T.: O Extraterrestre” no momento mais comovente do filme,
apontando o longo e brilhante dedo para a testa de seu amigo humano, Elliott.
Quarenta anos depois, a criatura cumpriu a promessa e encontrou lugar cativo na
memória de muita gente.

“E.T.” é um daqueles raros filmes que podem ser
vistos e revistos, por diversas pessoas e em diferentes épocas, sem jamais
perder seu poder de encantamento. É a síntese perfeita do cinema de Steven
Spielberg, diretor que lançou as bases para o blockbuster moderno e criou um
sucesso avassalador de bilheteria -mas com coração.

Talvez seja por isso que, ainda hoje, o longa mantenha seu
frescor. Na atual era de blockbusters sendo descarregados aos montes nas salas
de cinema, é difícil encontrar um filme que, por trás dos orçamentos gordos e
efeitos especiais pomposos, seja capaz de se conectar de forma tão sincera e
íntima com o espectador.

Até hoje, “E.T.” não encontra obstáculo para isso.
Em maio, durante o Festival de Cannes, o filme foi exibido numa sessão
especial, aberta ao público, que ficou horas numa longa fila que contornava a
praia. Ao lado deste repórter, uma mulher estava acompanhada por duas crianças,
entre os cinco e dez anos. Mãe e filhos riam e choravam nas mesmas cenas.

Quando o alienígena pareceu estar morrendo, o menino se
jogou no colo da mãe, abalado, se debulhando em lágrimas. Até que o peito da
criatura brilhou num vermelho intenso, levando o francesinho a repetir a fala
que Elliott diz em cena, em seu idioma -“il est vivant!”, “ele
está vivo!”.

A cena da vida real é prova de que “E.T.” não tem
idioma ou idade, gênero ou país. E volta aos cinemas para ser apresentado a uma
nova geração, na mesma versão remasterizada exibida em Cannes e agora ajustada
para as salas Imax, em comemoração do aniversário de 40 anos.

Também foi no Festival de Cannes, em 1982, que o original
estreou, fora da competição, mas já sendo coberto de elogios. Ele teria uma
passagem avassaladora pelas salas mundiais, mantendo por uma década o título de
maior bilheteria da história e conquistando uma das cinco indicações ao Oscar
de melhor filme, apesar de seu caráter despretensioso e familiar.

Venceria quatro estatuetas -melhor som, mixagem de som,
trilha sonora e efeitos especiais-, mas não sem arrancar de Richard
Attenborough, que recebeu o prêmio principal por “Gandhi”, a
declaração de que “E.T.” deveria ter vencido, por ser “inventivo,
poderoso e maravilhoso”. Attenborough, então, se tornou amigo de Spielberg
e estrelou seu “Jurassic Park”, que tomaria o título de recordista
nas bilheterias 11 anos depois.

Com tanta projeção, o extraterrestre solidificou, ao lado de
“Star Wars”, a relação de Hollywood com a indústria do licenciamento
-algo um tanto restrito à Disney até então- e fez de seu protagonista marrom o
brinquedo mais vendido no Natal daquele ano de 1982.

Spielberg tornou carismático um ser enrugado, marrom, de
olhos esbugalhados, com pescoço tão esquisito quanto o formato de sua cabeça e,
como acredita Gertie, personagem de Drew Barrymore, com pés estranhos. Ao lado
do compositor John Williams, criou memórias cinematográficas inapagáveis,
embaladas por uma trilha que, sozinha, já comove.

Há quem critique o cinema do americano justamente por seu
lado comercial. Mas nenhum dos filmes de Spielberg até aqui deixou de ter algum
tipo de ambição artística. A porção capitalista é como um bônus e, em
Hollywood, ninguém escapa disso se quiser garantir orçamentos suficientes para
verdadeiros espetáculos cinematográficos -marca registrada do cineasta.

Mal sabiam os críticos dos anos 1980, aliás, que quatro
décadas depois teriam de lidar com filmes que, esses sim, parecem concebidos
inteiramente para vender bonequinhos, da Marvel à DC, de animações da Disney em
carne e osso a sequências que estão décadas distantes de seus originais.

“E.T.”, ao contrário, deu origem a um conto de
fadas para os tempos atuais, misturando a pureza de “Peter Pan”,
lembrado repetidamente no roteiro, à modernidade da ficção científica que
ganhava contornos épicos entre os anos 1970 e 1980.

E é, para muitos, nada menos que uma adaptação da história
do menino que vivia na Terra do Nunca. “Por que você não cresce?”,
pergunta o irmão mais velho de Elliott a ele, em determinada cena.
“E.T.” dá ao espectador a oportunidade de se rebelar contra essa
provocação e, por suas duas horas, se recusar a ser adulto, a viver num mundo
cheio de pragmatismo e vazio de imaginação.

É na aparente simplicidade e inocência da história que
reside a complexidade e a maturidade de “E.T.: O Extraterrestre”. O
filme é um clássico que, assim como Wendy passou anos esperando por uma nova
visita de Peter Pan e Elliott, certamente, passou esperando por E.T., nós
esperamos ansiosos por uma nova oportunidade de revisitar.

 O melhor do cinema de aventura na pré-história de “Stranger
Things” 

Há 40 anos, o mundo se rendia aos encantos e à magia de um
ser de outro planeta. Dirigido por Steven Spielberg, “E.T. – O Extraterrestre”
inaugurou uma nova maneira de apresentar as narrativas por meio das telonas. 

O clássico conta a história de Elliott, interpretado por
Henry Thomas, hoje com 51 anos, que faz amizade com um pequeno alienígena, e
decide esconder a criatura em sua casa. O garotinho protege-o de todas as
formas para evitar que ele seja capturado e transformado em cobaia.
Gradativamente, surge entre os dois uma forte amizade. O elenco conta com nomes
conhecidos, como Drew Barrymore, além de Dee Wallace, Peter Coyote e Robert
MacNaughton. 

Lançado em 11 de junho de 1982, nos Estados Unidos, pela
Universal Pictures, “E.T.” tornou-se um blockbuster imediato, superando “Star
Wars” e se tornou o filme de maior bilheteria de todos os tempos durante onze
anos até ser superado por “Jurassic Park” (também dirigido por Spielberg) em
1993. 

“Depois de 40 anos, o filme envelheceu muito bem, e que bom,
porque ainda encanta as plateias de hoje, tanto quem assiste pela primeira vez
quanto quem viu antes”, diz o jornalista Fábio Nóvoa, editor e colunista de
cinema do DIÁRIO. “Isso porque o diretor Steven Spielberg recupera uma coisa da
ficção científica como uma matinê no cinema de aventura. No contexto da Guerra
Fria, isso havia se perdido um pouco, porque criou-se muito a percepção de que
o cinema de ficção científica tinha essa coisa de invasão, de destruição, muito
causado pelo clima de guerra que se vivia na época. Os invasores eram o
inimigo, o comunismo, enfim, os russos, que eram transformados em seres de
outro planeta na percepção do povo americano”, analisa. 

Outro resgate de Spielberg é o aspecto mais inocente da
aventura, afirma Nóvoa. “O filme foi um dos primeiros a trazer aquela narrativa
dos anos 1980, de histórias envolvendo crianças em situações de aventura, de
grandes obstáculos, o que depois ganhou bastante prestígio. Depois, vieram
vários filmes nesse perfil, como ‘Conta Comigo’ [de Rob Reiner], ‘Os Goonies’
[de Richard Donner], que deram andamento a essa narrativa com crianças que hoje
faz sucesso com ‘Stranger Things’. ‘E.T.’ foi um dos primeiros filmes da
história do cinema e da TV a trazer essa noção de aventura e dos laços de
amizade entre crianças, fala muito de amizade, de companheirismo, da relação
que o menino desenvolve com o E.T.”, detalha. 

Para Fábio Nóvoa, o papel de Spielberg também é fundamental
para que o filme tenha se tornado atemporal. “Spielberg sempre foi um diretor
influente porque veio de uma geração que passava por uma transição do cinema –
que até a década de 1960 tinha uma característica muito glamorosa. Quem frequentava
as salas de cinema era a elite. Com a década de 1970, a Guerra do Vietnã, as
crises econômicas e todo o movimento pacifista que surgiu nos Estados Unidos,
além do próprio questionamento do padrão classe média existente por lá,
começaram a surgir diretores muito influenciados pelo cinema europeu
neorrealista, diretores que tinham uma característica mais crítica. Foi quando
surgiram diretores como [Francis Ford] Coppola, o próprio [Martin] Scorsese”. 

Naquele contexto, ele diz, George Lucas [da saga “Star
Wars”] e Spielberg tiveram a ideia genial de investir num cinema mais
comercial. “Eles podem dizer que são os pioneiros dos chamados ‘blockbusters’,
filmes feitos para a massa, que surgiram junto com as locadoras, e que são
ainda formatos de cinema com estreias grandiosas, que lotam as bilheterias.
Praticamente tudo surgiu com ‘Tubarão’ [de Spielberg], que foi considerado um
dos primeiros blockbusters do cinema, seguidos de outros, como o ‘Inferno na
Torre’ [ de John Guillermin], a saga ‘Aeroporto’ [de George Seaton],
considerados cinema catástrofe”, analisa Fábio Nóvoa. 

“Spielberg tinha muito essa pegada de aventura,
potencializado por George Lucas depois com ‘Star Wars’. Nas décadas de 1970 e
1980, ele influenciou muitos diretores por essa maneira de dirigir, dominando
toda a parte técnica. Já era um grande diretor, tinha conhecimento de
fotografia, mas também se cercou das pessoas certas na edição, na trilha
sonora, com John Williams, por exemplo. Ele tinha e tem o controle criativo
total das suas obras”, lembra Nóvoa, ao explicitar o que fez de Spielberg um
nome sempre vinculado ao sucesso desde a década de 1980. 

Sua influência no cinema abrangeu ainda sua performance como
produtor, aponta o jornalista. “Ele tinha esse ‘faro’ de descobrir grandes
diretores de sucesso de cinema, não só para o cinema de aventura como John
Landis ou Joe Dante, mas o próprio cinema de horror da década de 1980, com Tobe
Hooper, e nos filmes de aventura como o próprio ‘Os Goonies’ e ‘Indiana
Jhones’, que são filmes que foram produzidos pelo Steven Spielberg. Ele é um
cara que influenciou bastante muitos cineastas e o público, porque enquanto
produtor sabia onde buscar as histórias, os diretores. Ele tinha total domínio
da técnica cinematográfica, da estética, da ‘mise en scène’, de plano
sequência, de composição de imagem”. 

Com tudo isso, o cineasta influenciou e continua
influenciando até hoje o cinema. “Nos anos 2000, ele assumiu uma fase com tom
mais político, em produções como ‘Munique’ e ‘O Terminal’, que têm características
mais adultas, e mesmo assim, não se pode dizer que possui filmes menores. Ele é
um grande diretor até hoje, é um cara muito criativo”, ressalta Nóvoa.

 











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