Longa-metragem de diretora paraense será lançado em Cannes
Written by on 21 de outubro de 2022
O longa-metragem “Rocinha, toda história tem dois lados”, da diretora paraense Rayssa de Castro, radicada no Rio de Janeiro, está em fase de finalização e deve ser lançado em maio do ano que vem, no Festival de Cannes.
O filme mostra uma tentativa de invasão da Rocinha durante uma guerra travada por dois bandos rivais. Tudo contado pela perspectiva de Clarinha (Mariana Azevedo), uma menina de 11 anos, filha de um traficante com uma mulher trabalhadora. Ela não quer ter o mesmo destino dos pais: sonha ser atriz e sente muita discriminação por ser do morro.
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“O ‘Rocinha’ surgiu quando eu conheci as crianças da comunidade no teatro e elas pediram para trabalhar comigo. E foi o meu maior desafio! O que pretendo é humanizar a galera da comunidade. É provar que ali dentro não tem só bandido, drogas, bala perdida e invasão. Tem um povo trabalhador, guerreiro, que sonha com dias melhores e que só precisa de uma oportunidade”, falou Rayssa.
Segundo a diretora, o maior desafio do longa é fazer a sociedade entender que toda história tem dois lados, que família de bandido não tem só bandido.
“Que uma pessoa, por ser negra, não quer dizer que seja bandida. É acabar com esse preconceito e mostrar que o sistema nunca existiu no país”, acrescentou ela.
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O filme tem um elenco de 80% de moradores da favela, com uma história toda contada no olhar de uma criança e não tem foco no tráfico, como a favela geralmente é retratada.
“Toda vez que um filme foi retratar a favela foi falando do tráfico e a gente fala dos moradores, de um povo que te recebe de braços abertos. Rocinha é a maior favela da América Latina, é uma cidade dentro de uma cidade, e o povo precisa saber que ali tem pessoas com sonhos, que vivem reféns de um fogo cruzado entre polícia, bandido e entres facções. Eles são as maiores vítimas. E deixar bem claro que todos só precisam de uma oportunidade de sonhar, realizar e de acreditar que são capazes”, pontuou Rayssa, que destacou ainda, que fazer o longa, sendo uma mulher branca e que não mora na comunidade, teve peso muito grande.
Ela tratou de enfrentar todos os obstáculos e preconceitos.
“Ver ‘Rocinha’ pronto não é só uma realização pessoal, é um compromisso com toda a comunidade. Um agradecimento pessoal aos produtores locais João Carvalho, Hudsom Carvalho, Vitor Robert, Nelson, ao comércio, à associação de moradores, à UPP da Rocinha e do Vidigal, à biblioteca, ao Centro Esportivo da Rocinha e um grande elenco que fechou comigo até o final, e aos meus amigos Leandro Firmino, o eterno Zé Pequeno, de ‘Cidade de Deus’; Renato de Souza, o Marreco de ‘Cidade de Deus’; Peter Brandao, ator de ‘Impuros’, ‘Malhação’, ‘Sob Pressão’; Douglas Sampaio, ator que ganhou ‘A Fazenda’; o eterno Cabeção de ‘Malhação’, Sérgio Hondjakoff, e a atriz Claudia Melo. Todo carinho e respeito com essa galera que comprou a ideia desde o início. ‘Rocinha’ é sim um longa-metragem independente, mas veio com qualidade e peso para brigar que nem gente grande”, finalizou Rayssa.
Roteirista, produtora e cineasta, Rayssa de Castro deu seus primeiros passos na arte de interpretar quando participou de um curso de teatro aos 08 anos num circo, e seu primeiro filme quando tinha apenas quatorze anos. Além de dirigir e escrever, atua e produz. Seu currículo conta com algumas peças de teatro bem conhecidas, dentre elas o musical “La Bamba”, que inclusive ganhou os palcos paulistanos.