50 curiosidades sobre Manoel Carlos, o autor das Helenas

Publicado em 14 de março de 2023

É difícil não associar Manoel Carlos ao Leblon. O bairro na zona sul carioca, onde ele mora há décadas e faz questão de exaltar em várias de suas novelas, é como a Manhattan de Woody Allen: o cenário perfeito para suas histórias, até porque ele conhece o lugar. Sabe do que está falando.

Não à toa, entre os folhetins que mostraram a rotina dos moradores daquele pedaço de terra coladinho a Ipanema e com suas indefectíveis babás em uniformes brancos empurrando carrinhos de bebê para lá e para cá, estão novelas como “Felicidade” (1991), “Por Amor” (1997), “Laços de Família” (2000), “Mulheres Apaixonadas” (2003), “Páginas da Vida” (2006), “Viver a Vida” (2009) e “Em Família” (2014).

Foi depois desta última, e no mesmo ano em que perdeu o terceiro filho, desta vez o caçula, de 22 anos, que Maneco decidiu sair de cena e se aposentar. “Nunca pensei viver isso. É uma prova de fogo que estou enfrentando”, disse, à época. Recluso desde então -ele abriu poucas exceções, como em 2021, quando saiu para se vacinar contra a Covid– o autor chega aos 90 anos nesta terça-feira (14) com planos profissionais e uma história de vida repleta de sucessos e superações. Abaixo, curiosidades de vida e da carreira do dramaturgo.

1. Até pouco antes da pandemia, Manoel Carlos frequentava o Café Severino, nos fundos da Livraria Argumento, no Leblon (claro), quase que diariamente. Com bom humor, frequentadores comentavam que o autor era “praticamente parte do mobiliário”;

2. Seu prato preferido por lá é o penne com atum, receita que reproduziu fielmente no restaurante da livraria Dom Casmurro, de propriedade de Miguel (Tony Ramos), em “Laços de Família”;

3. Muitas das cenas foram gravadas na Argumento antes ou depois de abrir as portas, para não atrapalhar o movimento. “Ele não filmou tudo aqui, ou eu não vendia mais nada”, brinca Laura Gasparian, dona do negócio;

4. Ele não é carioca: Manoel Carlos Gonçalves de Almeida nasceu no bairro do Pari, na capital paulista. Filho de um comerciante industrial e uma professora, foi mandado pelos pais para um colégio interno quando tinha 11 anos;

5. Seu primeiro emprego, aos 14, foi como auxiliar de escritório. Mas, desde essa época, integrava os Adoradores de Minerva, grupo de jovens que se reunia na Biblioteca Municipal de São Paulo para ler e discutir teatro. Entre os integrantes do grupo estava uma tal de Fernanda Montenegro;

6. Maneco tem, de profissão, quase a mesma idade que a TV brasileira: ele começou a trabalhar como roteirista e ator na TV Tupi em 1951, um ano depois de a televisão começar a chegar ao país;

7. O autor tem (ou pelo menos tinha) um carinho todo especial por Regina Duarte, de quem se aproximou no fim dos anos 1970, início dos 80, quando escreveu alguns episódios da série “Malu Mulher”, estrelado por ela;

8. Vanguarda, “Malu Mulher” debateu pautas da agenda feminista em plena ditadura, abordando assuntos como divórcio, aborto, métodos contraceptivos, maternidade, violência doméstica, homossexualidade feminina, menopausa, desquitadas, infidelidade, primeira menstruação;

9. “Até Sangrar”, exibido em setembro de 1979, foi um dos episódios assinados por Maneco no programa dirigido por Daniel Filho;

10. Na história, Malu (Regina) ajuda uma prima, que se casa virgem aos 31 anos de idade, a lidar com a angústia e a insegurança diante da iminência da primeira experiência sexual;

11. Já em “Duas Vezes Mulher”, de 1980, Maneco aborda temas como a menopausa -através de Dona Elza (Sônia Guedes), mãe de Malu- e primeira menstruação de Elisa (Narjara Turetta)- filha da protagonista;

12. Além da ambientação no Leblon, uma das características mais associada às obras escritas por Manoel Carlos é a presença de uma Helena em suas novelas, em papel de destaque. Regina Duarte foi a única atriz a interpretá-la por mais de uma vez (foram três, no total);

13. O carinho era declarado: “Escrevi essa novela para a Regina Duarte e para a Carolina Ferraz”, contou ele, ao anunciar “História de Amor” (1995);

14. A Helena de Regina desta vez integrava um triângulo amoroso: apaixonada por Carlos Alberto (José Mayer), ela tinha como rival a ciumenta e insegura Paula (Carolina Ferraz), com quem o médico era casado;

15. Na vida real, Maneco casou-se duas vezes antes de conhecer Betty Almeida -os dois estão juntos até hoje. Ela e o autor tiveram dois filhos: Julia Almeida, 40, e Pedro, que morreu aos 22, em 2014, de um mal súbito, em Nova York;

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16. A primeira mulher do escritor morreu aos 36
anos, em um acidente de carro. Maria de Lourdes era artista plástica, e com ela
Maneco teve dois filhos: Manoel Carlos Júnior, produtor teatral e assessor de
imprensa, e Ricardo de Almeida, dramaturgo;

17. Ricardo morreu aos 32 anos, em 1988, em
decorrência da Aids, e Manoel Carlos Júnior foi vítima de infarto fulminante
aos 58 anos, em 2012;

18. Além de Ricardo, Manoel, Julia e Pedro, Maneco
é pai também de Maria Carolina, filha de seu casamento com a radialista e
ex-deputada federal Cidinha Campos (PDT-RJ);

19. Maneco, assim como seus personagens, tem uma
boa relação com as mulheres que marcaram sua vida. “Fui muito feliz nos
meus casamentos. Eles acabaram quando vimos que a felicidade estava acabando.
Sou pela felicidade”;

20. Além da paixão pela cidade e pelo Leblon, em
especial, outros motivos levam Maneco a ambientar suas novelas no Rio. Para
ele, o cenário ajudaria a amenizar dramas e tristezas da história;

21. “Situo as minhas novelas no Rio de
Janeiro. Faço coisas muito fortes, sob um céu muito azul. As tragédias
acontecem, mas o dia está lindo. A praia e o espírito carioca dão uma coloração
rosa ao contexto cinzento. E o público acaba absorvendo as tramas de uma
maneira mais leve”;

22. Manoel Carlos estreou na Globo em 1972, como
diretor-geral do Fantástico, cargo que ocupou por três anos. Na mesma época,
participou do Globo Gente, um programa de entrevistas comandado por Jô Soares;

23. Em 1978, com a experiência de mais de 100
adaptações para a televisão, transformou em novela o romance “Maria
Dusá”, de Lindolfo Rocha, sob o título de “Maria, Maria”. Ela se
passava na Bahia e tinha Nívea Maria no papel principal;

24. Maneco tem o costume de se envolver diretamente
na escolha do repertório da trilha sonora de suas novelas, e uma das mais
elogiadas foi a de “Laços de Família” (2000);

25. A faixa de abertura era uma versão de
“Corcovado”, de Tom Jobim, numa versão com trechos em inglês (Quiet
Nights of Quiet Stars), interpretada por Astrud Gilberto, com participação de
João Gilberto, Stan Getz e Jobim;

26. A novela trouxe ainda versões de
“Baby”, composição de Caetano Veloso de 1968, cantada por Os
Mutantes, que embalava as cenas de Camila (Carolina Dieckmann ), e “Balada
do Amor Inabalável”, do Skank, trilha de Edu (Reynaldo Gianechinni), com o
grupo mineiro em grande fase;

27. Entre as faixas internacionais, o grande
sucesso foi Love by Grace, de Lara Fabian, a música escolhida para tocar no
climax dramático da trama: o momento em que Camila tem que raspar os cabelos
por causa do tratamento contra a leucemia;

28. Maneco queria porque queria Carolina Dieckmann
no papel de Carolina e, para convencê-la a aceitar, enviou um bilhete
manuscrito, em papel timbrado da TV Globo;

29. Nele estava escrito: “Carolina, bom dia.
Aqui está a sinopse. Pense no seguinte: a personagem não está sendo oferecida a
você apenas. A personagem foi escrita exclusivamente para você, o que é
bastante diferente. Um beijo, tudo de bom”, com a assinatura dele logo
embaixo;

30. O autor já contou que foi um jovem festeiro,
varava noites bebendo e se divertindo com os amigos e também quando já estava
casado;

31. Maconha, no entanto, nunca foi sua praia.
“Experimentei maconha na juventude, mas não gostei. Não me atraiu. Quanto
à cocaína, não conheço nem de vista”;

32. O alcoolismo foi um assunto abordado em várias
de suas novelas: “É importante falar disso, é uma forma muito violenta de
autodestruição”;

33. Alguns de seus personagens alcoólatras
marcantes: em “Mulheres Apaixonadas”, Vera Holtz vivia Santana, que
escondia a bebida numa garrafa de perfume; Em “Por Amor”, Orestes
(Paulo José) passa por situações deprimentes, que constrangem sua filha
pequena, Sandrinha (Cecíia Dassi);

34. Já Bárbara Paz é uma aspirante a modelo que
sofre de anorexia alcoólica em “Viver a Vida”. Ela pula as refeições
e deixa de comer para compensar as calorias adquiridas com a birita. São poucas
as cenas em que aparece sem um copo nas mãos;

35. Fala-se muito nas Helenas de Maneco, mas entre
os personagens masculinos, há um especial, onipresente em suas histórias: o
Doutor Moretti. Um médico gente boa, e geralmente amigo de toda a família do
paciente, quase sempre em cena de jaleco branco;

36. Se não há nenhuma ligação afetiva de Manoel com
sua personagem-fetiche Helena, o mesmo não se pode dizer de Doutor Moretti. Ele
realmente existiu e foi médico da família do Maneco durante cinquenta anos;

37. “Em tributo a essa pessoa tão importante
em sua vida, em quase toda novela ele coloca um doutor Moretti”, disse
Lionel Fischer, um dos seus intérpretes, ao Video Show, em 2010;

38. Os Moretti escalados por Maneco e suas
respectivas novelas são: Francisco Dantas (“A Sucessora”), Castro
Gonzaga (“Por Amor”), Henrique César (“Páginas da Vida”),
Serafim Gonzales (“Mulheres Apaixonadas”), Lionel Fischer
(“Viver a Vida”) e José Mayer (“História de Amor”);

39. Maneco defende causas sociais em suas novelas
por achar que as atrações na TV têm o dever, quase a obrigação, de ir além do
entretenimento: “Pela força das novelas no Brasil, elas têm um compromisso
social grande. Fico lá vendendo banco, carro, por que não posso ‘vender’ doação
de medu la óssea?”;

40. Foi por causa da personagem de Mel Lisboa em
“Presença de Anitta” (2001), que MC Larissa, uma então aspirante ao
sucesso no mundo do funk, decidiu adotar um novo nome artístico. Nascia assim,
em 2012, a cantora Anitta;

41. “É menina e mulher ao mesmo tempo e
conseguia ser sexy sem ser vulgar”, explicou Anitta, ao justificar sua
escolha;

42. “Presença de Anita” narra o
envolvimento de uma ninfeta com um homem mais velho e casado. Na TV, não
faltaram cenas picantes do casal, protagonizado por Mel Lisboa e por José
Mayer;

43. A série é livremente inspirada na obra de Mário
Donato, lançada em 1948, e Maneco fazia questão que sua Anita fosse
interpretada por uma atriz iniciante;

44. Mel Lisboa era uma estudante à época e foi
selecionada em meio a mais de uma centena de candidatas;

45. Em 2006, a Globo decidiu inovar ao final dos
capítulos de “Páginas da Vida”, exibindo depoimentos de anônimos. Em
vídeos de um minuto, eles faziam breves relatos de momentos marcantes de suas
vidas, seja em histórias de amor, dramas familiares ou conquistas pessoais.
“Nossa proposta é mostrar que a vida de pessoas reais também pode ser um
capítulo de novela”, explicou o diretor Jayme Monjardim, à época;

46. O depoimento de uma mulher de 68 anos em que
detalhava como chegou ao orgasmo pela primeira vez, aos 45 anos, surpreendeu a
todos e causou polêmica; Nelly da Conceição relatou que, numa noite, ouvindo o
LP novo de Roberto Carlos, adormeceu ao som de “Côncavo e Convexo”, e
acordou no dia seguinte “toda babada”;

47. “Quando acordei, estava com a perna
suspensa, a calcinha na mão e toda babada. Comentei com as amigas, elas
disseram: ‘Você gozou!’. Aí é que vim saber o que era gozo. Moral da história:
sou uma mulher de 68 aos, que homem para mim não faz falta, eu mesma dou meu
jeito”, concluiu;

48. Numa época em que o alcance das redes não era
muito abrangente, o vídeo viralizou, e autor, diretor e a emissora admitiram
que houve excesso no depoimento de Nelly;

49. “Deveria ter sido editado, com cortes em
algumas palavras, mas acabou passando sem que fizéssemos esses cortes”,
declarou Maneco, em entrevista naquele ano ao Estadão;

50. Nelly foi demitida da casa onde trabalhava como
babá por oito anos e chegou a entrar na Justiça contra a Globo, pedindo que seu
relato fosse divulgado na íntegra, o que não aconteceu; “Eu dei um
depoimento de uma hora e eles exibiram essa parte, eu não sabia que iria dar
essa confusão”, lamentou. “Se eu aparecesse como traficante ou
roubando, tudo bem, mas falei sobre a minha vida”;


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